sexta-feira, 9 de maio de 2014

As Operetas em Tavarede - 16

Continuemos, agora, com outra personagem interessantíssima, “O Riso”.

            Riso 
       Quando alguém diz uma graça,
       É regra de educação
       Que toda a assistência faça
      A risonha saudação.

      Em qualquer parte
      O rir com arte
      É uma prenda.

     Meus amigos, atenção:
     Vou dar-vos uma lição
     E é útil que ela se entenda.

    (Nota parola)
    Numa saída inesperada
   = Piada só p’la piada,
    Sem se morder em ninguém =
    O riso é forte e a nota é fá
    E convém
     A vogal A
     Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!

  Coro
    O riso é forte e a nota é fá
    E convém
    Vogal A
    Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! (bis)

   A gargalhada é mais fraca
   Quando há corte de casaca
   Dum inimigo feroz.
   Agora a nota é um ré,
   Menos voz
   E vogal E
  Eh! Eh! Eh! Eh! Eh! Eh!

Coro
   Agora a nota é um ré
    Menos voz
    A vogal E
    Eh! Eh! Eh! Eh! Eh! Eh! Eh! (bis)

    Ferroada num amigo
     Dita quase p’ra consigo,
     Como a afectar inocência:
     Agora a nota é um mi
     E de urgência
     A vogal I
     Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih!

Coro
     Agora a nota é um mi
     E de urgência
     A vogal I
     Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! Ih! (bis)

    Na piada – casca grossa,
    Chalaça pura ou de troça,
    Anedota apimentada,
    Então a nota é um dó
    E adequada
    A vogal O
     Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!

   Coro
      Então a nota é um dó
      E adequada
      A vogal O
      Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! (bis)

         Não, não. É mesmo assim. Não havia versos para a vogal U. Já há muitos anos que não existe Ilda Stichini. Mas, felizmente, existem e existirão para sempre, os belos recitativos que ela disse naquele espectáculo. Depois de recordarmos o “Riso”, vamos ouvir o monólogo de “A Fantasia”.

     O homem mais terno, o ente mais boçal,
     Em cada ano tem, pelo menos, um dia
     De sonho e fantasia.
     Se ele é o beduíno e a vida é o areal,
     Sem esse oásis de oiro em que mana o Ideal
     = A vida o que seria?

    Vêde um acto qualquer duma vida modesta,
    Ou mesmo duma vida opulenta e sadia;
    Tirai-lhe a fantasia
    E dizei-me depois que beleza lhe resta.
    Despido do esplendor que a minha luz lhe empresta,
    Esse acto o que seria?

    Nasce um aborto vil, hediondo, anquilosado,
    E a dolorosa mãe o beija e acaricia!
    E, o que é a fantasia!
    No seu rebento vê, mas vê, um anjo alado!
    Aquele amor de mãe, o afecto mais sagrado,
     Sem mim... o que seria?

     Um dia de noivado... Um véu branco adejando,
      A flor da laranjeira... os cantos da alegria!...
      Que linda fantasia!
      Sem mim – sem esse véu tão delicado e brando –
      Que todas vós andais, cachopas, cobiçando,
     = Noivar... o que seria?

      Depois, ao acabar, no último momento,
      Uma crença no Além, na Luz, no Eterno-dia...
      Que santa fantasia!
      Já pensaste sequer no terrível tormento
      De ver a morte vir, sem esse pensamento?
      Morrer?... o que seria?

         E já que estamos com recitativos, aproveitemos. Ouçamos o que tem para nos dizer “A Tenacidade”.

   Não sabes o que é ter tenacidade?
   É ser uma formiga na labuta,
   É ter maior poder que a força bruta,
   Vencê-la pela força da vontade.

   Aquele que a tiver na vida há-de
   Dominar, embora pela manha astuta,
   Mas dominar, enfim, vencer a luta,
   Triunfar da restante humanidade.

   Gota a gota, se forma a estalactite,
   A grão e grão, a duna sem limite
   = Modelos naturais do meu celeiro.

    Por ser tenaz, casmurro, persistente,
    É que pode grimpar, tornar-se gente
    Qualquer João-Ninguém, qualquer sendeiro.

         E o primeiro acto termina com uma apoteose ao trabalho, que a Formiga apresenta como suprema aspiração de todas as pessoas de bem.

     Lá vão!...
     Lá vão
    Os ranchos do labor
    Fazer
    Nascer,
    Colher
    O grão.

      Assim...
      Assim
      Mostrando o seu valor,
      Que é
      Ter fé
      Até
      Ao fim.

      Lá vão!...
      Lá vão
     Tirar da terra o pão.
     Depois...
     Depois
     Alguns vão supor
     Montar
      Lagar,
      Comprar
      Os bois...

     Lá vão!...
     Lá vão
     Tirar da terra o pão.

      Lá vão!...
      Lá vão
      Com ar dominador
      De quem
      Já tem
      Seu bem
      Na mão!










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