sexta-feira, 16 de maio de 2014

Usos e Costumes na Terra do Limonete - 20

         Era, assim, que em Tavarede se festejava e honrava o dia do seu santo padroeiro. Mas, anos mais tarde, o dia de São Martinho de Tavarede passou a ter festas condignas. Foi entendido, e muito bem, que a data era oportuna para a realização de um cortejo de oferendas, que proporcionasse receitas necessárias a diversas obras na nossa igreja paroquial. Aconteceu em 1966 e foi um sucesso.
         “As festivas homenagens prestadas, no domingo, em louvor de S. Martinho, padroeiro da paróquia tavaredense, a que não faltou um sol radioso, em nada desmereceram das solenidades dos anos anteriores. Pelo contrário este ano, notámos maior entusiasmo, maior vibração...
         Evidentemente que seria estultícia da nossa parte pretendermos compará-las às do ano passado em que, pela primeira vez, desde que nos conhecemos, se realizou na nossa terra um cortejo de oferendas, que pela sua grandiosidade e resultado financeiro obtido, ultrapassando as hipóteses mais optimistas, ficará memorável nos anais da história da vida local como plena afirmação de bairrismo e de amor à nossa vetusta Igreja, para cujas obras de que tanto necessita, se destinava o produto alcançado. Não, sejamos comedidos...
         Manhã cedo, o rebentar de foguetes e o barulhento “Zé Pereira”, que na véspera havia percorrido todos os lugares da freguesia, anunciaram o começo da tradicional festividade.
         Pelas 10 horas, o nosso revdº pároco rezou missa com a assistência de muitos fiéis, que na altura propícia se abeiraram da sagrada mesa para receber o Senhor.
         Após o almoço principiou a fazer-se a concentração dos andores vindos de todas as povoações que constituem a paróquia, recheadinhos de generosas ofertas.
         Cerca das 14 horas teve lugar a missa solene, a que presidiu o revdº pároco de Vila Verde, P.e José Nunes Barata, tendo por acólitos os revdºs priores de Buarcos e Quiaios, P.es Abrantes Couto e Manuel da Silva, respectivamente. O grupo coral da Igreja prestou valiosa colaboração à solenidade, estando ao orgão o sr. José Guerra.
         O sermão da festa foi proferido pelo distinto orador sagrado P.e Manuel da Silva, que em rasgos de oratória brilhante prendeu a atenção dos numerosos ouvintes, os quais finda a santa missa comentavam com o maior agrado as eloquentes palavras, repletas de belos e educativos ensinamentos, de sua reverência.
         Seguidamente organizou-se a solene procissão com a veneranda Imagem de S. Martinho, nela se incorporando as associações religiosas e autoridades locais.
         Belo espectáculo que os nossos olhos presenciaram. Nada menos de 13 andores abriam o préstito, conduzidos por graciosas raparigas e garbosos moços, não faltando os simpáticos soldados do nosso Exército, que transportavam o andor de S. Martinho – eles que em breve irão partir para o Ultramar defender a perpetuidade da Pátria Portuguesa...
         Depois de ter recolhido a procissão, que percorreu as ruas do costume e foi abrilhantada pela distinta Filarmónica Figueirense, todos os andores ocuparam os lugares que previamente lhes haviam sido destinados.
         Espectáculo vivo, cheio de cor, que, apesar de ruidoso, torna-se alegre, de certo modo divertido, pois os pregoeiros, entusiasmados, procuram vender a sua mercadoria ao melhor preço aos numerosos clientes...
         Como acima referimos, o cortejo de domingo não teve a grandiosidade do cortejo de oferendas do ano passado. Todavia, considerando os instantes peditórios que se verificam durante o ano, não restam dúvidas de que a paróquia tavaredense está de parabéns. Todos os lugares – Quatro Caminhos do Senhor da Arieira. Azenhas e Saltadouro, Ferrugent, Chã, Vergieira, Caceira e Casal da Areia, Carritos, Bairro da Estação, Bairro da Bela Vista, Casal da Robala, Várzea, Vila Robim e Tavarede – primaram por merecer honrosa presença. Por tal facto nós desejariamos envolver desde os seus organizadores ao mais modesto colaborador, num sincero abraço de felicitações, incluindo na nossa saudação todos os paroquianos que contribuiram com sua generosa dádiva.
         A nossa Igreja precisa de grandes obras e urgentes que custam algumas dezenas de contos, por isso que julgamos ser dever de todo o paroquiano prestar-lhe o seu auxílio, na medida das suas possibilidades.
         Não desejamos terminar este nosso apontamento sem aqui expressar as nossas calorosas saudações ao bondoso pároco da nossa freguesia, revdº Paulo Ribeiro, pelo assinalado brilhantismo com que a festa decorreu, vendo, de tal modo, coroado do melhor êxito o seu incansável labor dispendido durante a organização.
         Bem haja, pois”.
         A partir de então passou a ser um costume da nossa terra. Organizado por uma comissão religiosa, o S. Martinho de Tavarede é festejado em dois domingos, sendo no primeiro realizado o cortejo de oferendas, seguido do participado leilão das ofertas, e no domingo seguinte são as festividades religiosas, realizando-se, da parte da tarde, a procissão em honra do nosso padroeiro.

         Também deve ser realçado a importância que estes festejos tiveram para o financiamento da construção do Centro de Dia S. Martinho de Tavarede, obra levada a efeito e que é de grande utilidade para a freguesia, assim como para a realização de obras indispensáveis à conservação da igreja de Tavarede.

Sem comentários:

Enviar um comentário