sexta-feira, 6 de junho de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 79

Festejando o dia primeiro de Maio de 1960, o Grupo Musical conseguiu reatar uma velha tradição da nossa terra. A velha e simpática colectividade da nossa terra, que é o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, está de parabéns.
O rancho 1º de Maio, de sua organização, que se apresentou em publico no dia 1 do corrente, e era constituído por 16 pares de bonitas raparigas e garbosos rapazes obteve destacado sucesso.
Muito bem. Oxalá que tão feliz iniciativa frutifique, pois que veio reatar uma velha tradição tavaredense, lamentavelmente interrompida, há anos, como agora se demonstrou.
Quando a marcha, em formação impecável, descia arrogante, a rua Dr. Oliveira Salazar e parou, frente ao monumento ''Aos Tavaredenses de Amanhã" no largo que imortaliza o nome sempre querido dos tavaredenses de D. Maria Amália de Carvalho, falecida há poucos dias, como relatámos, vimos deslizar pelas faces de muitos rapazes e raparigas, alguns rondando a casa dos setenta anos, lágrimas de saudade, daquela saudade dos tempos a que já não se pode voltar.
Acompanhava o rancho que foi saudado calorosamente nos lugares onde se exibiu um bem organizado conjunto musical, que muito nos sensibilizou por nos trazer à memória os inesquecíveis momentos da nossa fugaz mocidade em que acompanhávamos a afamada tuna do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.
A todos, organizadores, rapazes e raparigas, executantes, e de modo especial a Alberto Esteves Vigário, encarregado da parte coreográfica, e a Carlos Santos, a cargo de quem esteve a parte musical as nossas maiores e mais sinceras felicitações pelo que acabam de fazer a bem de Tavarede. Bem hajam.
A despedida da velha casa de espectáculos, erigida por João José da Costa, teve lugar no dia 29 de Maio de 1960. José da Silva Ribeiro, o homem que pelas suas invulgares qualidades de carácter, superior inteligência e profundos conhecimentos da arte de Talma, em nosso entender, e sem a menor quebra de admiração pelos seus dedicados colaboradores, a Sociedade de Instrução Tavaredense, ou, por outra, Tavarede fica devendo a arrojada obra de transformação do seu teatro, antes de subir o pano disse da saudade da velha sala de espectáculos, recordando enternecidamente todos aqueles que há mais de 50 anos têm trabalhado para o prestígio da nossa colectividade, afirmando, em certa altura, que Tavarede devia aquele teatro ao benemérito João Costa e sua ampliação à filantrópica Fundação Calouste Gulbenkian.
“O Beijo do Infante” e “O Dia Seguinte”, encerraram com chave de ouro o ciclo de representações ali efectuadas, por isso que a assistência, que enchia totalmente o velho teatro, se manifestou de maneira apoteótica.
Contudo, os louros da inesquecível noite foram, sem desprimor para os restantes amadores, para a simpática e talentosa amadora, Maria Isabel de Oliveira Reis, pelo magnífico desempenho no papel de Matilde, em "O Dia Seguinte".
No final do espectáculo, o incansável Presidente da Direcção, sr. Marino de Freitas Ferraz, convidou todos os amadores da SIT, velhos e novos, a subir ao palco para, sobre as suas tábuas carunchosas, onde tantas e tantas horas de alegria e de aborrecimentos imperecíveis passaram, assistir ao arranque da primeira tábua, operação esta que foi executada pela categorizada e premiada amadora, srª D. Violinda Medina e Silva e receber as entusiásticas saudações da numerosa assistência, que bem traduziam o seu reconhecimento pelos momentos de prazer que lhe haviam proporcionado.
No domingo, houve um encontro de futebol entre as equipas da secção dramática e secção desportiva da SIT, cujo resultado foi um empate a 1 bola, após o que os jogadores e outros sócios se reuniram em lauta bacalhoada, que decorreu animadíssima.
À noite efectuou-se o baile, que teve a dar-lhe entusiasmo, o excelente conjunto "Satélites do Ritmo", dessa cidade.
Foi um grande e inesquecível baile, que, estamos certos, há-de perdurar por largo tempo nos corações da mocidade radiosa.
À meia-noite em ponto, o Presidente da Direcção da SIT pôs em leilão o camartelo cujas primeiras pancadas assinalaram o começo da demolição das paredes, sendo a oferta mais elevada a da gentil menina Maria da Conceição Ferreira Soto Maior.
Também a talentosa amadora, srª D. Violinda Medina e Silva, aceitando o camartelo que lhe foi oferecido, se lançou num verdadeiro ataque às velhas paredes. E ainda outras pancadas se seguiram...
Parabéns aos rapazes da SIT
E, agora, ate à inauguração da nova casa de espectáculos.

Com a sede em obras, houve interrupção do teatro em Tavarede. Mas o grupo cénico não parou. Depois de outras deslocações, foram a Vila Real e a Amarante. Mais do que a falia de tempo de que actualmente podemos dispor, o nosso estado de saúde, cano de costume, sobrepondo-se aos nossos desejos, não nos permitiu acompanhar o grupo dramático da Sociedade de InstruçãoTavaredense, nos dias 10, 11 e 12 do corrente, nas suas jornadas de bem-fazer, desta vez a Amarante e Vila Real, facto que, nos penalizou sobremaneira por não podermos viver, pessoalmente, as carinhosas e entusiásticas manifestações de simpatia e apreço de que foram alvo os nossos conterrâneos, naqueles importantes localidades nortenhas.
Mas nem por isso deixámos de acompanhar em espírito os briosos rapazes e simpáticas senhoras, que tão longe levaram o nome da nossa aldeia em missão cultural e beneficente, de sentir em nosso coração de tavaredenses o festivo ambiente que a todos rodeou.
E, assim, para que pudéssemos registar em nossos "apontamentos", informando os estimados leitores, da triunfal excursão tavaredense, pedimos a um nosso amigo, que a acompanhou, nos dissesse algo das suas impressões, pondo-se inteiramente à nossa disposição, gentileza que, alem dos nos cativar, reconhecidamente agradecemos.
Chegados a Amarante, à entrada da vila esperavam os visitantes a corporação dos Bombeiros, Filarmónica local, representantes das colectividades com seus estandartes, a Comissão promotora do espectáculo, que era a favor do Hospital da Misericórdia e muito povo. Formou-se um cortejo que percorreu várias ruas, e das janelas, donde pendiam colgaduras, foram lançadas flores.
No edifício da Câmara Municipal deu as boas vindas o Vereador do pelouro da Cultura e Presidente da Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão, tendo agradecido a carinhosa recepção dispensada o director do grupo cénico.
À noite, no teatro, com a grande sala repleta dum público que aplaudiu calorosamente, fez a apresentação do grupo de Tavarede, num brilhantíssimo discurso, o ilustre advogado sr. dr. Balbino de Carvalho, que é um grande amigo e admirador da Figueira.
A impressão deixada com a representação de "Os Velhos" foi excelente.
Num dos intervalos foram oferecidos por simpáticas crianças, a José da Silva Ribeiro e às distintas amadoras, D. Violinda Mediria e Silva, menina Maria Isabel de Oliveira Reis, lindos ramos de flores, gentileza que muito os sensibilizou.
No dia seguinte, os distintos figueirenses sr. Engenheiro António Gravato e sua esposa ofereceram aos visitantes, no belo parque florestal onde têm a sua residência, um almoço que foi motivo para que todos trouxessem de Amarante lembrança inesquecível.
Findo o almoço seguiram os nossos conterrâneos para Vila Real.
Nesta cidade o espectáculo realizado foi também com "Os Velhos", a favor da instituição local "A Nossa Casa", obra benemérita do Padre Henrique Maria dos Santos, que protege da fome para cima de 3 centenas de crianças.
A chegada houve na sede de "A Nossa Casa" uma breve sessão de boas-vindas. Ali se encontravam o sr. Presidente da Câmara de Vila Real, o sr. Heitor Correia de Matos, director do jornal "O Vilarealense"; Aquiles de Almeida, entusiasta promotor desta visita dos tavaredenses a Vila Real; as senhoras da Conferência de S. Vicente de Paulo e muitas crianças, que cobriram de flores os visitantes à sua entrada; e outras pessoas de representação. O discurso de boas-vindas foi proferido pelo sr. Padre Henrique, cujas palavras, cheias de beleza e bondade, deixaram em todos funda impressão, tendo José Ribeiro, num vibrante discurso, agradecido as amáveis referencias que o bondoso sacerdote acabara de dirigir ao grupo dramático que superiormente orienta.
No teatro, a apresentação do grupo foi feita pelo sr. dr. Otílio de Carvalho Figueiredo. Nessa ocasião, uma das crianças da obra do Padre Henrique Maria dos Santos ofereceu à SIT um jarrão que é uma artística obra de faiança. Como em Amarante, o público de Vila Real que enchia a enorme plateia do teatro aplaudiu com extraordinário entusiasmo a representação de "Os Velhos".
As já numerosas crianças protegidas pelo Redv° Padre Henrique obsequiaram os visitantes, como lembrança da sua inesquecível digressão artística e beneficente, com miniaturas de louça regional.
No dia seguinte realizou-se um almoço de despedida, no qual falaram o sr. Padre Henrique Maria dos Santos e o Director do "Vilarealense", sr. Heitor de Matos.
Ao agradecer, José Ribeiro, proferiu um brilhante improviso, cheio de ternura, em que a sua alma de eleição, dedicada aos pobres, deu largas aos seus sentimentos filantrópicos.
Comentava-se: nós, aqui na Serra, orgulhamo-nos de possuir águias, mas lá para as bandas da Figueira da Foz, nos choupos e salgueiros do ribeiro da pitoresca aldeia de Tavarede, também se criam extraordinários rouxinóis, que, pelas suas melodias e cantares, nos transportam, por momentos, às regiões do sonho.
À saída de Vila Real foram os nossos conterrâneos acompanhados até ao limite do concelho pelo Revdº Padre Henrique Maria dos Santos e outras distintas pessoas, que lhes prodigalizaram as maiores gentilezas.
As nossas felicitações ao grupo dramático da SIT por mais esta sua excursão que, sendo de arte e caridade serviu, também, de pretexto para a melhor propaganda da sua e nossa ridente aldeia.

Bem haja, pois.

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