sexta-feira, 13 de junho de 2014

Operetas em Tavarede - 21

         Chega Daniel. E depois dos abraços e dos cumprimentos, Pedro entende ser chegada a ocasião de lhe apresentar a sua noiva, a Clara, uma das pupilas do senhor Reitor. Ela não estava em casa e, como de costume, Pedro chama-a.

            Pedro        
  Vem livrar-me com teus olhos
  Que eu por eles me perdi
 Dá-me a vida com teus beijos
Já que por beijos morri.

            Clara            
 Ó rio das águas claras
 Que vais correndo p’ró mar
  Os tormentos que eu padeço
 A ninguém vás declarar.

            Pedro    
  Não declara quem não pode
  E não tem que declarar,
  Pois quem é assim tão bela
  Não pode ter que penar.

            Clara    
  O que eu peno ninguém sabe
  Ninguém o pode saber
  Porque peno e não me queixo
  Em segredo sei sofrer.

            Pedro 
  Pois padecer em silêncio
  É bem dobrado sofrer
  Melhor é contarmos tudo
  A quem nos possa entender.

            Clara    
   Vem livrar-me com teus olhos
   Que eu por eles me perdi
   Dá-me a vida com teus beijos
   Já que por beijos morri.

 


    O segundo acto é passado na eira de José das Dornas. Como era habitual naqueles tempos, as “esfolhadas” são feitas à noite, à luz do luar, em alegres reuniões em que se cantava animadamente enquanto iam trabalhando.

            Matilde                  
   A cantar o mal se espanta
   Pois é bom sempre cantar

            Coro    
    Roda, roda, vira, vira,
    Torna-te a virar

            Matilde      
    Eu assim canso a garganta (bis)
    Para as mágoas espantar

            Coro   
    Vira, vira, vira, gira,
    Roda, troca o par

            Matilde         
     Mas a minha pena é tanta
     Que a não posso afugentar

            Coro  
      Roda, roda, vira, vira, etc.

            Matilde   
     Mas a minha pena é tanta (bis)
      Que a não posso afugentar

            Coro 
     Vira, vira, vira, gira, etc.

            Joaquim   
  Não se espanta assim a pena
  Que entristece o coração

            Coro  
  Roda, roda, vira, vira, etc.

            Joaquim  
  Com a simples cantilena (bis)
  Que se canta a um papão

            Coro             
   Vira, vira, vira, gira, etc.

            Joaquim      
  Porque a pena só condena
  Quem não tenha um’afeição

            Coro 
  Roda, roda, vira, vira, etc.

            Joaquim     
  Porque a pena só condena (bis)
  Quem não tenha um’afeição

            Coro   
   Vira, vira, vira, gira, etc.

    Roda, roda, vira, vira,
    Torna-te a virar
    Vira, vira, vira, gira,
    Roda, troca o par

         As espigas iam-se juntando no meio da eira, enquanto a palha era amontoada em redor da eira. De vez em quando, ouviam-se o grito alegre de “milho-rei”, “milho-rei”. E logo no meio do entusiasmo geral, o feliz achador lá dava a volta à roda, abraçando ou beijando companheiros ou companheiras. Nem todos, porém, tinham essa sorte... Entretanto, alguém pede uma cantiga. Clara, uma das mais bonitas vozes da aldeia, não se faz rogada. E canta, canta uma linda canção, certamente bem conhecida de todos.

            Coro 
     Andava a pobre cabreira
     O seu rebanho a guardar
     Desde que rompia o dia
    Até a noite fechar.

            Clara  
      Sentada no alto da serra
      Pôs-se a cabreira a chorar
      Porque chorava a cabreira
      Ninguém o soube contar.

            Coro     
      Essa história da pastora              (bis – Clara)
       Devo agora explicar                    (bis – Clara)
       Apar’ceu-lhe um pagem loiro      (bis – Clara)
       Que a não soube requestar          (bis – Clara)

            Clara                 
    Nunca a tinha visto antes
   O seu rebanho a pastar,
   E foi correndo p’ra serra             (bis)
   Jurando afecto sem par               (bis)

            Coro  
   O rebanho vai fugindo
    Pelos vales sem parar
    E a pastorinha atrás dele
     Sem o poder alcançar

            Clara    
    E andaram assim três dias
    E três noites sempre a andar
   Até que à porta dum paço
   Afinal foram parar.

            Coro  
    O rei perdera uma filha                 (bis – Clara)
    Que jamais poude encontrar          (bis – Clara)
    E na formosa cabreira                    (bis – Clara)
    Quiz seu rosto idealizar                  (bis – Clara)

            Clara                                         
  E vêm damas p’ra vesti-la
  E vêm damas p’rá calçar
  E a mais formosa de todas             (bis)
  Para as tranças lhe enfeitar           (bis)

            Coro         
  Mais tarde a linda cabreira
  Ninguém a poude encontrar
  Mas um anjo de asas brancas

  Viram dos céus a voar.

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