segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Histórias e Lendas -15

Capelas em Tavarede
Apontamentos diversos

         No jornal ‘A Voz da Figueira’, em Setembro de 1975, julgamos da autoria do saudoso professor António Vítor Guerra, estão publicados os principais elementos sobre as capelas que existiram em Tavarede. Vamos, agora, copiar essas notas, que antecederão um apontamento nosso mais pormenorizado sobre o recolhimento da quinta da Esperança.

 CAPELA E CONVENTO DA ESPERANÇA -    Foi D. Caetana Migueis, casada, em 2ªs. núpcias com o italiano Francisco António Rossani, sargento-mór de Montemor-o-Velho, falecido em 1677, quem fundou este Recolhimento, chamando-o de Nª. Sª. da Esperança, em memória da filha que, com este nome, lhe morreu do 1º. matrimónio, e ali instituiu Capela.
            Foram muitas as eventualidades desta pia instituição, como no-las referem Santos Rocha, op. Cit., p. 123 e José Jardim, in “Alfândegas, Fidalgas Figueirenses de Outrora”, 1915, p. 175.
            Situava-se o Convento da Esperança, relata-nos aquele historiógrafo local, a um quilómetro, aproximadamente, para N. de Santo António, no alto de S. João, pelo nascente da estrada que da Figueira nos leva a Tavarede – Estrada Municipal nº. 596.
            Do edifício conventual (em 1758 diz-nos o cura de Tavarede, padre Anacleto da Cruz, nas “Memórias Paroquiais”, ainda lá viviam 22 “recolhidas”) somente restam, hoje, inexpressivas ruínas: - os sólidos muros da cerca construídos, em 1746, que no sentido N-S se desenvolvem, perpendicularmente, à Azinhaga da Esperança, e onde, na face interna, junto à porta de acesso do lado E, se vê uma pequena cruz de pedra, assente sobre um azulejo: uma parede que, ainda, se ergue dos escombros, com nítidos vestígios do azulejario que revestia a capela, do que, aliás, nos dá conta Santos Rocha, in op.cit., p. 124, “sinais” de algumas antigas janelas; um pequeno nicho; a fonte, marcadamente fradesca, e... pouco mais.
            A “Quinta da Esperança”, ora assim chamada, local deveras aprazível, pertence aos herdeiros do benquisto tavaredense Dr. Manuel Gomes Cruz, falecido em 8 de Fevereiro de 1943.

CAPELA DE S. JOÃO BAPTISTA - Integrada, na Quinta do mesmo nome, ao Alto de S. João, hoje Quinta de Santa Maria, foi instituída por João de Quadros, clérigo, mas dela nada resta.

            Entre os vários proprietários da referida Quinta, permitimo-nos destacar Duarte Backer, António Lemos, Paulo Correia de Lacerda, funcionário superior da Alfândega do Porto e, ao presente, Luís Viegas do Nascimento, mui competente arquitecto-naval dos Estaleiros Navais do Mondego.

CAPELA DO SENHOR DA ARIEIRA OU DO SENHOR DOS MILAGRES -           Situava-se aos “quatro caminhos”, na referida Estrada Municipal nº. 596. No Museu da cidade guarda-se um fragmento de azulejo, com pintura (Séc. XVIII), proveniente desta Capela, e que as “Informações Paroquiais” de 1721 aludem, apresentando-a como “Um Nicho com o Senhor Crucificado, que tem obrado muitos milagres; “E vai obrando; suando a sua sancta imagem, e a coluna em que está posto, como se tem visto certos dias”.

            A Comissão Paroquial desta freguesia ofereceu, à Câmara Municipal o terreno onde estava implantada a Capela, e adjacentes, para um mercado semanal de suínos, o que foi aceite, como consta da acta da respectiva sessão, de 12 de Março de 1913.

CAPELA DE SANTO ANTÓNIO -           Na Quinta do mesmo nome – residência de Monsenhor Cónego José Duarte Dias de Andrade, falecido com 93 anos, em 6 de Maio de 1957, que, como protonotário apostólico “ad instar”, tinha o privilégio de fruir altar doméstico. Sacerdote dos mais cultos com quem tivemos a dita de privar, de palavra fluente e erudita, foi também “astro de primeira grandeza”, no magistério de Matemática, Literatura, Sociologia, Teologia e História da Igreja, cujo perfil foi magistralmente feito in “A Voz da Figueira”, de 23 de Maio de 1957, por outro saudoso amigo, Dr. Júlio Gonçalves.

            Situa-se a Quinta de Santo António a O. da Quinta da Burlateira (1) e a N. da Estrada Municipal nº. 597 – Tavarede a Buarcos.
(1)   Em documento coevo de D. Afonso Henriques (1181) surge-nos, in “illo loco”, o topónimo “Val’Arteira”; numa escritura de troca – (1778) aparece-nos a expressão Fazenda da “Burlateira”, e hoje, no “falar” do povo e nos livros da especialidade, v.g. “Corografia Moderna do Reino de Portugal” por João Maria Baptista, 1875, vol. III, e no “Dicionário Corográfico de Portugal Continental”, de Américo Costa, 1932, vol. III, regista-se a “Quinta da Burlateira”, evolução gráfica foneticamente explicável.

CAPELA E PAÇO DE TAVAREDE - A história deste Solar e dos seus “Senhores feudais”, “seus usos e costumes”, está feita (ver “Gazeta da Figueira” 1887, ano I, nº. 17, e Rocha Madahil, op. Cit.)

            O Palácio quinhentista dos Quadros com “história de pasmar” lá está ainda, mas miseravelmente degradado, com vergonhosas mutilações e reparações imbecis, servindo-nos das expressões do saudoso Cardoso Marta, palácio de que o Mestre de Teatro e bom Amigo, José Ribeiro, nos dá um auto-retrato no seu saboroso “Chá de Limonete”:
            “Quatro séc’los me pesam sobre os ombros!
            E nesses longos anos vi grandezas,
            Vi ruir opulências em escombros,
            Vaidades, alegrias e tristezas...
                                   ...........
            Que resta do que fui?... Ai! Triste sina
            A do Solar que é hoje um mutilado.
            Mendigo, esfarrapado, uma ruína,
            Horroroso fantasma do passado!...”
            Quanto à Capela, propriamente dita, sabemos que erecta por Bulla de Roma, esclarecem-nos as “Informações Paroquiais” de 1721, além das referências que encontrámos a alguns dos seus capelães, dos quais o Padre Manuel Gonçalves, de sombria memória...

CAPELA DE JOÃO ANSELMO -             Integrada na Quinta de João Anselmo da Silva Soares, sita no caminho da Várzea, a seguir à Fonte de Tavarede. Esta propriedade, em 1937, encontrava-se, assim, descrita, na Matriz rústica da freguesia, sob o artº. 1461: “terra de semeadura, eira e casa de habitação, confrontando do N. O. com caminho, do S. com herdeiros de José António Loureiro e do E. com Vala da Azenha”.

            Desmoronada esta Capela, a alvenaria foi aplicada na capela mortuária erecta, no Cemitério Ocidental da nossa cidade (a primeira, à esquerda de quem entra pelo portão principal), por Ludovina Augusta Ferreira da Silva Soares “à saudosa e grata memória do seu idolatrado esposo, João Anselmo da Silva Soares, falecido em 1 de Setembro de 1868, aos 59 anos de idade”, sem filhos nem os necessários herdeiros, como se lê no seu testamento de 24 de Novembro de 1856, constante do Livro de Registo de Testamentos nº. 12, fls. 15, referente ao ano de 1868. Era este João Anselmo, figueirense, como seu pai, João da Silva Soares de Menezes, clínico de nomeada, ao tempo, falecido em 9 de Abril de 1844, na sua residência, na Rua Formosa, hoje de Fernandes Coelho, onde, também, veio a falecer o referido João Anselmo, segundo nos relata José Jardim, in “As Alfândegas” atrás citada.
            Foi o Dr. José Pedro Dias Junior, advogado e notário, em Leiria, o herdeiro, por parte da viúva do João Anselmo, das propriedades referidas, tendo oferecido ao Museu local algumas das cariátides da Capela de que nos ocupamos.
            Antes desta, porém, outra existira na dita “Quinta da Fonte” (1754) “como huma morada de casas de sobrado, pertencente a António José de Saldanha de Aveyro”, a qual, lhe demoliu, “tirânica” e “despoticamente”, Fernando Gomes de Quadros, 8º. Senhor de Tavarede.

CAPELA DE SANTO ALEIXO - Dentro do povoado, a caminho dos Canos, hoje transformada em Salão Paroquial. “Hé muto antigua, que se lhe não sabe principio. E tem hum hospital para agasalhar os peregrinos e pobres, que he do Povo” diz-nos as “Informações Paroquiais” de 1721.

            O patrono, bela escultura renascentista em pedra, encontra-se depositada no Museu Municipal.

CAPELA DO SENHOR DA CHÃ - No ângulo NE dos quatro caminhos, na Estrada de Mira – estrada Nacional nº. 109 – à Chã. Chama-lhe as “Informações Paroquiais” de 1721, a Capela do Senhor Crucificado, esclarecendo que foi feita por Frz Arnaut e sua mulher Catherina Frz. Não teria mais de 4x2 m. e já se encontrava quase destroçada em 1864, segundo notícia inserta in “Gazeta da Figueira”, de 18 de Abril de 1896.(está 1986).

            A imagem, de grande veneração, foi transferida, procissionalmente, aquando da eminente derrocada da capela, para a Matriz de Tavarede, onde se encontra. (A Voz da Figueira)

CAPELA DA CASA DA MÃE - No Pavilhão Sul do antigo Colégio Liceu Figueirense, frente à Estrada Municipal nº. 596, limite N. da freguesia de S. Julião, o qual, depois, serviu de Hospital Militar, e hoje é a Casa da Mãe, foi erecta uma capela em 1947 pelo presidente da Junta Distrital de Coimbra, Prof. Doutor Bissaia Barreto, falecido em Setembro de 1974, responsável por aquela Maternidade. É de salientar o lindo retábulo de talha dourada (Séc. XVII) de expressiva simbologia mariana, para ali transferida duma outra capela particular, de algures, da Beira Alta.


CAPELA DO COLÉGIO-LICEU FIGUEIRENSE - Propriedade e iniciativa do Doutor José Luís Mendes Pinheiro, onde está instalado, desde 1936, o Seminário da Imaculada Conceição. Primitivamente, tratava-se de um pequeno oratório, erecto no Pavilhão do lado N. Mons. José Duarte Dias de Andrade, ao tempo director do Colégio, reconhecendo ser esse oratório de reduzida área, para os exercícios cultuais, transformou em capela uma das salas, que inaugurou, com a presença do Prelado da Diocese, D. Manuel Luís Coelho da Silva, em 1933, no Pavilhão, à direita de quem entra pelo portão mais próximo da Azinhaga da Esperança.

            Mais tarde, o culto sacerdote, Mons. Tomás Francisco Póvoas, Reitor do Seminário, desde o seu início, fixou-a no Pavilhão Central (em 1936-37, a frequência era de 70 seminaristas) onde ainda se encontra.
            O risco e a execução do altar é do sacerdote – santo e artista – que foi o cónego Manuel Fernandes Nogueira, sendo a despesa custeada por D. Maria Guilhermina Meireles Sarafana (Tinalhas).
            Importa, neste passo, dar a conhecer a existência, ali, da capela particular de S. E. Rev. o Bispo de Coimbra, anexa aos seus aposentos, no Pavilhão E, cujo altar foi oferecido pelos herdeiros do Dr. João Macedo Santos, da última capela erecta na Casa do Paço da Figueira, de que foram os penúltimos proprietários. O imóvel pertence, hoje, ao sr. Reinaldo Marques Pedrosa que, na sua conservação e consolidação, tem investido largos capitais, sem embargo do auxílio do Estado, dado tratar-se dum imóvel de interesse público.. (A Voz da Figueira)

CAPELA DOS CARRITOS . Sob a invocação de Santo António, ali se encontra erecta, à beira da estrada Nacional nº. 111. Foi o padre José Martins da Cruz Diniz, vigário de Tavarede, de Dezembro de 1928 a Setembro de 1935, quem deu início, por subscrição pública, à construção da capela, concluída muito mais tarde e inaugurada, solenemente, em 19 de Junho de 1964. A tal propósito, extractamos do “Lume Novo”, Tavarede, nº. 6, de 29.8.934: “Foi já oficialmente tratada, em Coimbra, com o Ex.mo Prelado da Diocese, a construção da Capela dos Carritos. A planta, generosa e gentilmente oferecida pelo sr. António Piedade, vai começar a ser executada dentro em breve”.


CAPELA DE SÃO PAIO - Está integrada na Quinta do Praso – Vale de São Paio – ao Saltadouro. Cerca de 2 quilómetros a montante de Tavarede, e a 1 do lado nascente da povoação da Serra da Boa Viagem, encontrava-se, em 1932, assim descrita, na matriz urbana da freguesia de Tavarede, sob o artº. 405, em nome de Maria do Sacramento Monteiro: “uma capela particular, construída de pedra e cal, coberta de telha portuguesa; confronta do N.S.O.E. com pinhais da própria; tem de superfície coberta 14 m2 e de rendimento líquido, 18$00!”.

            Fora a quinta adquirida, há largos anos, por Caetano Gaspar Pestana, casado com Maria da Conceição da Silva Pestana, avós paternos das Senhoras Pestanas. Encontrou este a capelinha em ruínas, e mutilada a imagem do patrono, e logo procedeu ao seu restauro, trabalho de que se encarregou, com mestria, o hábil artista-estucador, natural de Afife, Domingos Rodrigues Ennes Ramos, aqui radicado.
            Tempo depois, Caetano Pestana, que viria a falecer em 25 de Agosto de 1883, com 63 anos, incompletos, vendia a “Quinta do Praso” à família de Monteiro de Sousa, que ainda a detém, e com ela a capelinha.
            É neste Vale de São Paio que existe a famosa nascente “Olho de Perdiz”, donde, durante anos e até ao verão de 1927, a nossa cidade foi abastecida de água potável, exploração feita até 1924 pela “The Anglo-Portuguese Gas and Water Cº. Ltd.”, com sede em Londres, de que era gerente, entre nós, o engº. Walter R. Jones, que ainda conhecemos.


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