segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete- 110

         Com o título ‘Postal de Parabéns’, um jornal figueirense referiu-se ao aniversário da colectividade e a Mestre José Ribeiro. A velha, prestimosa e consagrada Sociedade de Instrução Tavaredense, fundada em 15 de Janeiro de 1904, ali à ilharga da nossa terra, comemorou o seu 80º aniversário.
         Como sempre de forma tão adequada como simpática.
         Mas neste caso de maneira excepcionalmente brilhante, por o número em que figurou a costumada apresentação de uma escolhida peça teatral ser este ano constituído pela exibição da peça inédita em 1 prólogo e 4 partes, intitulada “Na Feira de Gil Vicente”, adaptação de mestre José da Silva Ribeiro e de homenagem e evocação da obra genial do fundador do Teatro Português.
         Foi, pode dizer-se, o brilhante corolário de uma inigualável actividade cultural, através do teatro, da colectividade aniversariante e também de uma acção ímpar, sob diversos aspectos, dessa grande figura de tavaredense, teatrólogo e democrata que é José da Silva Ribeiro.
         Só o que este nosso ilustre conterrâneo tem dado a conhecer ao povo do concelho sobre figuras e episódios da história nacional e de maneira particular e a merecer menção de relevo e justíssimo louvor a respeito de Tavarede e da Figueira e sua evolução através dos tempos, desde os mais remotos até à actualidade, não pode de maneira alguma ser resumido nas colunas de qualquer periódico. Mas isso de forma nenhuma deve impedir-nos de aqui deixar registado um superficial esboço do que tem sido há dezasseis lustros a vida da colectividade aniversariante e há mais de 65 anos a extraordinária, persistente, benemérita e incomparável actuação dentro dela da personalidade de José da Silva Ribeiro, servindo-a com a mais inexcedível abnegação e verdadeiro espírito de sacrifício sob todos os aspectos que é possível, desde os cargos directivos aos de autor teatral e “alma mater” da sua famosa secção dramática. Cuja fama largamente ultrapassou os limites do distrito, espalhando-se por importantes cidades e terras do país que visitou por várias vezes e sempre deixando significativamente assinalados a sua intervenção e invulgar brilho e mérito desta.
         Para comprovar o que bastará, com certeza, registar certos factos que julgamos bastante elucidativos.
         A começar pelo de, após a brilhante carreira, com as suas múltiplas representações, nos vários palcos em que foram exibidas, das famosas peças “O Sonho do Cavador” e a “Cigarra e a Formiga”, das quais José da Silva Ribeiro foi o grande impulsionador e a que deu a mais operosa, destacada, importante e útil colaboração literária e teatral e depois de todo o grande esforço da sua montagem e encenação, ele jamais ter abandonado essa fase criadora de brilhante autor dramático. E, em virtude disso, ter escrito e feito representar esse belo rosário de inesquecíveis produções teatrais que começam em 1950 com “Chá de Limonete” (3 actos e 24 quadros) e continuam com “Terra do Limonete”, em 1961, “Camões e os Lusíadas” (1972), “Mesa Redonda” (1975), “Ontem, Hoje e Amanhã” (1979), “Ecos da Terra do Limonete” (1981), “Viagem na Nossa Terra (“Da folha de uma figueira à folha de uma videira”) (1982) e este ano “Na Feira de Gil Vicente”.
         Uma destacada obra cultural a que não podem deixar ainda de associar-se, porém, coisas tão significativas como: uma famosa “Campanha Vicentina”, que levou a obra genial ao povo das nossas aldeias concelhias; as notáveis “Comemorações do Centenário de Garrett”, representando “Frei Luis de Sousa”, para além do nosso concelho, em Coimbra, Leiria, Tomar, Pombal, Alcobaça, Sintra, Soure, Marinha Grande e Condeixa; as comemorações do “Centenário de Marcelino Mesquita”, com a representação de “Peraltas e Sécias”; do “Centenário da Morte de D. João da Câmara”, levando à cena a sua famosa peça “Os Velhos” e do “V Centenário da Morte do Infante D. Henrique”, com a representação de “O Beijo do Infante”, do mesmo autor da peça anterior.
         Para não deixar de fazer ainda referência à preciosa intervenção de José da Silva Ribeiro e da Sociedade de Instrução Tavaredense, no “IV Centenário de Shakespeare”, no “V Centenário do Nascimento de Gil Vicente” e “IV Centenário da Publicação dos Lusíadas”, no qual foi levado à cena o “Auto de El-Rei Seleuco” e uma evocação escrita propositadamente para o efeito. 
         O que tudo torna sumamente merecedora deste postal de efusivos parabéns a colectividade aniversariante e José da Silva Ribeiro, digno de todos os louvores que seja possível endereçar-lhe nesta ocasião festiva e bem merece pelos seus mais de 65 anos consecutivos de serviços ao teatro e à cultura, com a isenção, talento, amor e inteligência que os tornam excepcionais, como ainda pelas qualidades morais e cívicas que lhes emprestam adequada moldura e dão ainda maior relevo e projecção.

         E com a maior satisfação, referimos que o Grupo, apesar das obras ainda não estarem concluidas, fez a pré-inauguração da sua nova sede. Embora com as instalações da nova sede social do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense ainda inacabadas, pois que as mesmas exigem um enorme dispêndio de energias e verbas, a que se não pode fazer face tão rapidamente quanto desejável, entenderam a Direcção e os elementos que compõem desde a primeira hora a Comissão de Apoio, denominada Comissão de Obras, dar um maior impulso no acabamento do piso superior da referida sede, a fim de poder presentear os associados com o Folar da Páscoa, proporcionando-lhes um ambiente há já largos anos arredio dos mesmos, na medida em que no velho Palácio de Tavarede, onde se situavam as suas instalações desde 1936, representando para os seus sócios apenas um velho passado glorioso, sem qualquer ambiente que pudesse vir a ser favorável aos seus descendentes, nomeadamente cultura e música, que foram acabando com falta de instalações condignas, assim como meios humanos e materiais, que logicamente se deterioraram com o ambiente pouco condigno que se foi arrastando pelos tempos.
         Pelo que acima foi dito, foi determinado o dia 8/4/84 (domingo) para a pré-inauguração, fazendo-se a mesma sem qualquer cerimonial protocolar, ficando a verdadeira inauguração para data oportuna, prevendo-se que a mesma se venha a verificar a curto prazo.
         Na referida inauguração viram-se alguns elementos de preponderância no arranque e efectivação da obra em curso e prestes a dar-se por concluída, pese embora as dificuldades financeiras com que terão de passar esta Direcção, assim como as que possam vir a seguir, pois trata-se de uma obra que à altura do seu arranque estava estimada em 6.000 contos.
         Também se notaram as presenças dos srs. pároco da freguesia, presidente e secretário da Junta de Freguesia, Direcção da Sociedade de Instrução Tavaredense, fazendo-se acompanhar do estandarte daquela tão prestimosa colectividade, e presidente da Direcção da Casa do Povo, que é simultaneamente presidente da Assembleia Geral do GMIT.

         Eram 15 horas quando o sr. Flaviano Pinto de Sousa, presidente da Assembleia Geral do GMIT, fez entrega das chaves ao sócio nº 1, sr. Alberto Ferrão, para que fosse este a abrir as instalações do Grupo, verificando-se de imediato a entrada. Foi um momento feliz para aqueles que mais de perto têm sentido a evolução dos acontecimentos e também para o que desejavam há já largas dezenas de anos ver a sua sede própria, o que só agora se está a tornar realidade.
         Entraram lado a lado os estandartes da Sociedade de Instrução Tavaredense e do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, empunhados pelos seus representantes, e de seguida todos os presentes, ficando na sua maioria com óptima impressão do que acabavam de ver: bar, sala de estar com televisão, etc., passando de imediato a ter a sua acção estas secções, onde os grupistas, familiares e amigos podem a partir de agora ter o seu convívio de amizade.
         Quando da inauguração oficial, que se deseja seja tão rápida quanto possível, dar-se-ão mais pormenores acerca daquele importante melhoramento.

         Na sessão solene comemorativa do 82º aniversário da SIT ... e com a maior comoção, a plateia ouviu a palavra ainda fluente de José Ribeiro, que falou da sua terra e das suas gentes. Foi a última sessão que teve a sua presença. Entretanto, e sob a orientação do amador João de Oliveira Júnior, que havia assumido o dificil cargo de director cénico, foi reposta em cena a célebre fantasia Chá de Limonete.

         O Grupo, entretanto, festejou as suas Bodas de Diamante. O programa elaborado para comemorar os 75 anos de vida do Grupo Musical Tavaredense foi por este jornal publicado em devido tempo.
         Dele podemos destacar a sessão solene (porventura o ponto mais alto das comemorações), levada a cabo pelas 17 horas do dia 17, a qual foi presidida por Carlos Alberto Pedro Coelho, na qualidade de presidente da Junta de Freguesia da terra do limonete.
         No acto, evocado com o descerramento de uma lápida que assinala a efeméride, usou da palavra o presidente da colectividade em festa Álvaro Jorge Marques, o presidente da Assembleia Geral, Flaviano Pinto de Sousa, o padre Matos, pároco da freguesia e, por último, o presidente da mesa da sessão.

         Para complementar esta evocação, realizou-se ainda um espectáculo artístico-cultural, no qual participaram a Tuna do Grupo de Tavarede, o grupo coral e a banda ligeira da Sociedade Boa União Alhadense.

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