sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete . 112

         Apesar do rude golpe sofrido, o associativismo prosseguiu o seu caminho, iniciado havia quase duzentos anos. Por ocasião do aniversário de 1987, o grupo cénico homenageou a memória de José Ribeiro levando à cena O sonho do cavador, a mais representada obra teatral do Mestre. Recordemos uma notícia sobre as comemorações. Para além da reposição da bonita peça musicada “O Sonho do Cavador” que subiu à cena no passado dia 17, o ponto mais alto do programa elaborado pela Sociedade de Instrução Tavaredense para assinalar condignamente os seus 83 anos foi, sem dúvida, a Sessão Solene realizada no domingo seguinte ao da representação, pelas 17 horas.
         Numa verdadeira diversidade de temas, focou-se a pessoa grande e recentemente desaparecida, esse homem a quem Tavarede e a própria cidade tanto devem – José da Silva Ribeiro.
         Presentes, individualidades relevantes da vida figueirense, tendo a presidência pertencido ao engº Aguiar de Carvalho, na qualidade de Presidente da Câmara Municipal.

         Para além das intervenções da Presidente da Direcção, Drª Ana Maria Caetano, usaram da palavra o Revdº Padre Matos, Pároco de Tavarede e o artista Zé Penicheiro.
         A série de discursos com que o Rotary Clube quis brindar a assistência, que enchia por completo a sala da SIT, foi iniciada pelo Engº Cadilhe, a que se seguiram Carlos Cardoso, Jerónimo Pais e os Drs. Marcos Viana, Carlos Estorninho, Pires de Azevedo e José Manuel Leite.
         Todos, se referiram à memória de José Ribeiro, expondo e exaltando as muitas qualidades que eram apanágio do homenageado.
         Poder-se-á dizer que os 83 anos da Sociedade de Instrução Tavaredense passaram despercebidos para, com saudade, lembrar a figura ilustre e querida da terra do limonete. Uma tarde cultural, também, a que Tavarede já nos habituou!
         Na parte final fez-se escutar o hino, pela tuna da SIT, tendo, toda a restante parte musical estado a cargo da Filarmónica Paionense.
         Refira-se, ainda, o descerramento de um quadro de Zé Penicheiro, e o facto de Francisco Simões, um artista que a cidade bem conhece, ter criado uma medalha evocativa.
         As comemorações do aniversário da SIT terminaram, praticamente, com o descerramento no átrio da sua sede, de um medalhão alusivo a José Ribeiro, acto de que se incumbiu o dr. Carlos Estorninho.

         As homenagens ao ilustre falecido continuaram durante algum tempo e, a título póstumo, também oficialmente foi lembrado. Por iniciativa do “Lions” da Figueira da Foz, a Secretaria de Estado da Cultura concedeu um justo galardão póstumo a José Ribeiro, entregue, numa breve cerimónia, a sua irmã.
         O acontecimento registou-se na noite de 27 de Março, no Salão de Festas do Casino Peninsular, gentilmente cedido, para esse efeito, pela Administração da Sociedade Figueira-Praia.
         Infelizmente, uma cerimónia tão importante para a população da cidade e com tão grande significado, ficou bastante prejudicada por duas circunstâncias lamentáveis e duas escolhas infelizes.
         A primeira circunstância lamentável foi a fraquíssima assistência, sintoma real e inegável – mais um! – de um desinteresse geral, que ninguém merecia, nem os promotores da iniciativa, nem a memória de um homem íntegro, que deu o melhor de si mesmo a este concelho, numa fidelidade extraordinária, quando tinha à sua mercê todas as possibilidades concretas de se integrar na oligarquia lisboeta e aí fazer carreira frutuosa, como tantos outros, ontem e hoje.
         Se não fosse a boa gente de Tavarede, a dar um alto exemplo de dignidade e gratidão, o Casino teria, talvez, uma ou duas dúzias de assistentes.
         A segunda circunstância lamentável foi o completo desfazamento entre o conteúdo e forma da Conferência, escolhida para assinalar o Dia Mundial do Teatro, o apontamento teatral do actor Jacinto Ramos, mais os poemas que declamou, e o género de público, na sua realidade concreta, que ali se juntou. Se o orador oficial e o actor, em vez de português, falassem chinês, o efeito não seria muito diferente e o significado das palmas não sofreria grande abalo.
         As duas escolhas infelizes foram a do conferencista e a do actor.
         O conferencista, com pouco respeito pelo público, forneceu uma pseudo-história do Teatro, truncada, sectária, demagógica e subjectiva, possivelmente interessante sob a forma de panfleto, editado pelo autor, mas deslocada do contexto e fora, estamos crentes, das intenções que presidiram ao convite.
         O actor, esquecendo-se da cortesia devida a quem hospeda, aproveitou o ensejo para, a despropósito, criticar o tipo de obras de remodelação no Casino Peninsular, com a supressão do “teatro”.
         Não é propriamente a casa de alguém, a quem se come previamente o jantar, o local mais apropriado para se lhe fazerem críticas públicas...
         Se tudo isto servir de lição, para o futuro, então talvez se não tenha perdido totalmente o tempo.
         Moralidade da história: não basta ser-se “catedrático” para se ser conferencista, assim como não chega entrar na Telenovela para se ser malcriado.


        Para participar nas Jornadas do Teatro desse ano, foi escolhida a peça Alguém terá de morrer, cuja representação teve lugar em Maiorca, ... a SIT brilhou com a representação de uma das melhores peças do teatro português, perante uma sala cheia de público maravilhado com a arte e saber de um dos melhores grupos de teatro portugueses.

         Recolhemos, também, a notícia de que, em Junho de 1987, o Clube Desportivo da Chã vai criar uma secção de teatro, numa iniciativa a todos os títulos simpática por visar a educação e cultura dos seus associados. Por sua vez, o Grupo Musical Tavaredense iniciou novas actividades, destacando-se aulas de ginástica, enquanto continuavam em ‘bom ritmo’ as aulas de iniciação musical.

         Em Março de 1988, uma notícia, muito agradável para os tavaredenses, é publicada num periódico figueirense. Para mim, ir a Tavarede é recordar idos tempos da década de 40 em que ali, dentro do perímetro da freguesia rural que já foi sede de concelho, situada bem nas abas desta buliçosa cidade da Figueira da Foz que, quatro décadas volvidas, perfurou por tudo quanto é sítio este remansoso ambiente. Iniciei todo um passado de doze frutuosos anos no ex-Colégio Liceu Figueirense, mais tarde transformado em Seminário Menor da Diocese de Coimbra...
         Para mim, ir a Tavarede é lembrar essa figura ímpar de José Ribeiro, a quem tive a felicidade de conhecer, e evocar todo o apoio, a vários níveis, dele recebido quando, já homem feito, na década de 60, eu me viria a ocupar, também, na encenação de umas “pècitas” de que saliento “Casa de Pais” e “Luz de Fátima”...
         Para mim, ir a Tavarede é encontrar a amizade franca e permanente de alguns amigos de infância e de outros de mais recente data, colegas de profissão, alguns deles enfronhados, ao que vejo, de alma e coração, nas actividades e iniciativas culturais do bom povo da terra que os viu nascer e a que tanto se orgulham de pertencer...
         Para mim, ir a Tavarede é... hoje, também e sobretudo, admirar o seu Teatro nas peças que com pendular regularidade ali vêm sendo postas em cena, com o carinho, o bairrismo e a competência em que a gente de Tavarede é exímia...
         De longe vem a tradição de fazer bom teatro em Tavarede e inúmeras foram as representações a que já assisti. Desta vez, se me descuidava, deixava, mesmo, de admirar todo o garbo e empenhamento que aquele núcleo de inimitáveis amadores, perdão... de artistas, colocou, mais uma vez, na encenação da bela peça rústica da autoria de Manuel Frederico Pressler, HORIZONTE, cuja primeira representação teve lugar no já recuado ano de 1945 e que, agora, foi a escolhida para as comemorações do 84º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, em Janeiro último.
         A acção decorre no Ribatejo e versa um tema do quotidiano de muitas famílias – o casamento da Rita, que acaba por ir com quem o seu coração muito bem escolhe e não com aquele que o pai queria que fosse -, tendo como personagens elementos das mais diversas ocupações. Licenciados e barbeiros, empregados de escritório, carpinteiros e electricistas, de tudo ali há sem quaisquer complexos ou discriminações e apenas com uma finalidade: “darem o melhor de si levando até ao público o BOM TEATRO num convívio de amizade e simpatia”...
         Perdeu, caro leitor. Perdeu, se acaso não viu esta representação em Tavarede. Acredite que só terá a lucrar se se deslocar ali sempre que haja TEATRO. Ele é de... primeira água, creia!

         ... E deixa de passar essas tardes (ou noites) de insípida rotina em que costuma mergulhar. É uma boa OPÇÃO! – Alfredo Amado .

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