segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Associativismo - Os princípios (2)


Estamos situados no ano de 1865. E começamos por recordar que, naquela época, o Associativismo era oficialmente regulado pelo Código Penal de 1852, no qual o artigo 282º. estabelecia: "Toda a Associação de mais de 20 pessoas, ainda mesmo divididas em secções de menor número, que, sem preceder autorização do governo com as condições que ele julgar convenientes, se reunir para tratar de assuntos religiosos, políticos, literários ou de qualquer outra natureza, será dissolvida; e os que a dirigirem ou administrarem serão punidos com prisão de um mês a seis meses. Os outros membros serão punidos com prisão até um mês".
Ora, com tais disposições em vigor, seria possível existirem, em Tavarede, "sociedades dramáticas" que aqui "vegetavam como tortulhos"? A resposta só poderá ser negativa. Tratar-se-ia, isso sim, de pequenas "sociedades" familiares, que se reuniam nalgumas casas, especialmente das famílias mais abastadas, para passarem os seus serões, principalmente nas grandes noites do Outono e do Inverno e que, tendo adquirido o gosto pelo teatro e pela música, aproveitavam os seus tempos de descanso para conviverem nos ensaios, procurando ao mesmo tempo instruirem-se e divertirem-se, instruindo e divertindo, igualmente, os seus conterrâneos que assistiam aos espectáculos que apresentavam.
Mas nós temos mais informações sobre aqueles anos. Um exemplo. No ano anterior, ou seja em 1864, Joaquim Alves Fernandes Águas, fundador da conhecida e importante Casa Águas, na Figueira da Foz, ainda residia com sua família em Tavarede, pois só mudaram a residência para a Figueira dois ou três anos mais tarde.
Este tavaredense nascera a 12 de Dezembro de 1813 e morreu na Figueira no dia 5 de Março de 1890. (ver biografia na etiqueta: Tavaredenses com história). Era um grande entusiasta dos teatros, sendo o Presépio (costume velho em Tavarede) "o cúmulo dos seus divertimentos. Por tal motivo, instalou um teatrinho numa das suas casas, naquele ano acima referido, onde "ele, filhos e filhas entravam representando". Esta nota confirma aquilo que referimos destas "sociedades dramáticas" aqui vegetarem como tortulhos. Lá mais para diante voltaremos à sala de espectáculos de Joaquim Águas, pois, no Associativismo, foi uma casa muito importante, nela se tendo instalado o "Bijou Tavaredense" e o "Grupo Musical e de Instrução Tavaredense".
Note-se que acima se escreve, relativamente ao Presépio", que era "costume velho em Tavarede. Também, naquela época, se representavam dramas e comédias, como "Os miseráveis de Londres" e "Os dois rivais". Ora, para apresentar este tipo de teatro, mesmo de forma rudimentar, era necessário haver uma prática teatral de algumas dezenas de anos. Foi isto que nos levou a formular a opinião de que teria sido D. Francisco de Almada e Mendonça, juntamente com sua esposa, D. António Madalena, o instituidor do teatro na terra do limonete.
Voltemos, por uns instantes, à reportagem de Ernesto Tomás. Depois de descrever as salas de espectáculo, escreve: "Ria-se, vozeava-se e fumava-se na plateia, com a sem-cerimónia de ajuntamento numa feira. De vez em quando, um dito picaresco, saído de alguns dos espectadores, ia provocar a hilaridade ruidosa dos mais sérios, e tudo ria desalmadamente, sem respeito pelo '«cabo d'ordes', o António José, que assistia áquela inferneira aprumando desmesuradamente a sua autoridade tão sobranceira como a sua figura, de pouco menos de três côvados de alto.
Lá dentro, no palco, desenvolvia-se um vai e vem, entretido pela família dos actores, das actrizes e pelos instrusos, bem capaz de causar vertigens às constituições menos dadas à sensibilidade.
ma flauta que nos produzia nos nervos arranhos de gato, conjuntamente com um violão despertando dobre a finados, e uma viola, gemendo sob uma unha afeita à enxada, constituia por inteiro o que então se apelidava de 'roquestra'"

Quinta da Borlateira - Uma das mais importantes propriedades da família Águas, em Tavarede

(continua)

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