Dia 20 às 21 horas
1ª. parte - Apresentação da tuna, que apresentará um programa escolhido, sob a hábil direcção do maestro sr. Pinto d’Almeida;
2ª. parte - Representação da hilariante comédia em 1 acto “As pegas de toiros”;
3ª. parte - Variedades músico-teatrais, sobressaindo um explêndido número - guitarradas - por consumados amadores;
4ª. parte - Representação da opereta em 1 acto, ornada de 7 números de música - “A herança do 103”;
5ª. parte - Apoteose final.
Dia 21
Às 7 horas - Salva de 21 morteiros e alvorada por uma fanfarra;
Às 10 horas - Recepção à Filarmónica “10 de Agosto”;
Às 11 horas - Bodo a 25 pobres mais necessitados da freguesia de Tavarede;
Às 12 horas - Exposição da séde;
Às 14 horas - Recepção a tunas e à Filarmónica “Figueirense”;
Às 16 horas - Sessão solene, em que usarão da palavra alguns oradores e descerramento do retrato dum sócio há pouco falecido (D. Maria Àguas Ferreira);
Às 21 horas - Baile servido.
Comissões para tratar de todos os assuntos necessários para efectivação destes festejos:
- Limpeza e aformoseamento do quintal: António Francisco da Silva e Joaquim Marques;
- Ornamentação da séde: Adelino Joaquim de Faria;
- Licenças necessárias: António Medina Júnior e José Francisco da Silva;
- Iluminação feérica: Faustino Ferreira e Aníbal Fernandes Caldas;
- Acquisição de fogo: Adriano Augusto da Silva;
- Acquisição dos artigos necessários para o bufete: António Francisco da Silva e António Custódio.
Somente a título informativo, registo que, tempos antes, tinha havido nova saída de colaboradores da Sociedade de Instrução que, no início do ano de 1924, aderiram ao Grupo Musical, passando, de imediato, a fazer parte dos elementos directivos e que foram, sem qualquer favor, grandes dinamizadores das obras e expansão artística. Foram eles João de Oliveira, António Francisco da Silva e José Francisco da Silva.
Pois, como acima se disse, fizeram coincidir a inauguração das obras da nova sede com a festa do 13º. Aniversário. Lembro, a este propósito, que havia entretanto sido deliberado festejar os aniversários do Grupo nos finais de Dezembro, para, assim, coincidirem com o ano civil. Mais tarde retomaram a tradição de comemorar mesmo na data da fundação, 17 de Agosto, ou num dos fins de semana mais próximos.
É oportuno, e antes de retomar a actividade cultural referindo os acontecimentos mais significativos, transcrever uma reportagem, publicada na “Gazeta da Figueira” e escrita pelo seu correspondente em Tavarede, relatando aquelas festas. Não quero, também, deixar de copiar um pequeno apontamento da notícia que, sobre o mesmo assunto, escreveu a “Voz da Justiça”: “Foi uma festa animadíssima, que deixou satisfeitos os directores do Grupo Musical. O seu entusiasmo é enorme, constando-nos que preparam no seu teatro récitas sensacionais. O Grupo conta, para esse efeito, com grandes dedicações, a ponto de até o vice-presidente da Direcção, sr. António Francisco da Silva, não obstante a sua idade e não ter nunca representado, tomar também conta de um papel. Oxalá não esfriem no seu entusiasmo e vejam acentuarem-se as prosperidades do Grupo Musical Tavaredense”. E, agora, a referida reportagem.
“ Embora tardiamente, pois já vão volvidos mais de oito dias, não queremos nem devemos deixar no olvido a noticia das festas que o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense levou a efeito nos dias 20, 21 e 22 do mez corrente.
É certo que pouco mais podemos adiantar que o digno redactor deste jornal que a eles assistiu. No entanto, e na qualidade de seu correspondente nesta encantadora aldeia - que nos foi berço e por quem nutrimos aquele inabalável amor de bairrista que se présa - no entanto sempre nos queremos ocupar de tão palpitante assunto - não passando, todavia, o nosso propósito, de noticia laconica e despretenciosa.
Devemos principar por dizer que o Grupo Musical e d’Instrução, organizando, para os seus festejos, um programa fóra do vulgar, o cumpriu á risca, ou antes, ainda o ampliou para melhor.
Assim, podemos afoitamente dizer - sem receio de desmentidos - que ainda se não fez em Tavarede uma festa associativa tão simpática e tão completa como a que o Grupo Musical agora levou a efeito.
Sim, senhores, honra lhes seja!...
No dia 20, á noite, teve lugar um sarau musico-teatral, que constituiu um galhardo serão.
Apresentou-se a tuna no palco que executou, sob a proficiente direcção do maestro sr. Pinto d’Almeida, nosso particular amigo, um repertorio escolhido, que a numerosissima assistencia se não cançou de aplaudir.
Um grupo de gentis senhoras e de loiras criancinhas surgem no palco, com muitas fitas de sêda, para serem colocadas no estandarte glorioso da colectividade em festa que tem estampado um soberbo e honroso trabalho a oleo do saudoso António Ramalho, maravilhoso pintor que tão bem soube enaltecer a sua e nossa Patria, após o que António Augusto Esteves, bom e leal amigo, usando da palavra, improvisa um brilhante discurso, entrecortado, por vezes, com as aclamações da assistencia.
Ao findar, a tuna toca o seu hino, confundindo-se os acordes com os entusiasticos “vivas” que a expontaneidade fez sair do peito de todos os amigos do Grupo Musical, dessa simpática colectividade para onde lançam odios revoltantes certas nulidades que se esquecem propositadamente do bom nome da sua terra - das freguezias do concelho da Figueira aquela que ainda hoje caminha na vanguarda da instrução - para só pôr em prática covardes propósitos que se traduzem em reles bairrismo da parte de quem não tem a ombridade de se apresentar de fronte levantada, a fazer traficancias contra uma Associação que nasceu ha 13 anos e que portanto já tem raízes fecundas que dificilmente deixam tombar tão bemdita Arvore...
Porque, se para uns a capa do anonimato serve de pretexto para encobrir a figura meiga e pura da Caridade, para outros, então, é o melhor recurso para pôr em execução planos traiçoeiros que só prestigiam a covardia!
João d’Oliveira, brioso presidente da direcção, surge no palco, com outros directores, e oferece ao maestro um simpático brinde, que este agradece sensibilisado, abraçando-o cordealmente. Uma prolongada salva de palmas ressôa na plateia, confundido-se de novo as aclamações.
A tuna executa a 2ª. parte do seu escolhido programa, seguindo-se a representação duma comedia em 1 acto, que muito agradou.
A 3ª. parte do espectaculo é composta de recitativos e guitarradas. Os maiores aplausos foram para o distinto guitarrista-amador Manuel da Cunha Paredes, de Coimbra, que a amizade do autor destas modestas linhas trouxe até Tavarede. Acompanhado a viola por Alberto d’Oliveira, da Figueira, faz um sucesso. Cantou alguns fados de Coimbra, daqueles fadinhos bem portugueses que enebriam a nossa alma e que o Paredes tão bem sabe cantar, sendo-lhe oferecido, como ao Alberto, um “bouquet” de flores naturais, por duas inocentes criancinhas.
Segue-se a opereta em 1 acto - “A Herança do 103” - ornada de 7 numeros de fina musica, que agrada.
A orquestra muito concorreu para o feliz sucesso obtido, graças á sua boa organisação e á batuta proficiente de Pinto d’Almeida.
Para terminar - uma Apoteose.
Não póde a nossa pobre pêna descrever o que foi o fim deste sarau. Uma Apoteose explendida, deslumbrante, mesmo. Tudo se deve ao fino gosto dos srs. Manuel Mesquita e Adelino Joaquim de Faria, da Figueira. Tudo!
Num alto pedestal, uma corôa de loiros e uma lira, a oiro, ladeadas de lampadas de variadas côres, dispostas por Anibal Caldas, electricista do Grupo. Violinda Medina, junto do pedestal, empunhando o estandarte do Grupo. Mais uns pedestais, sobre o que estavam pousadas uns tenros inocentes simbolisando a instrução das letras, da musica e do teatro. Mais criancinhas, muitas criancinhas, envoltas em festões de loiro e flores, empunham os gloriosos estandartes da Naval, do Ginásio, dos Caixeiros, da Cruz Vermelha, dos Caras Direitas, da Filantropica, do Instrução e Sport, etc., etc. No proscenio, significando a “Fama”, duas meninas, com trombetas. Catadupas de luz por todo o palco imprimem ao significatico áto o maior e mais completo brilhantismo, exalçando então a magnificencia dos ricos fatos alegoricos, em sêda, que as crianças vestiam.
Emquanto a orquestra executa o hino do Grupo, a assistencia irrompe em delirantes aclamações á associação em festa, a Tavarede, ao Progresso, á Instrução, etc., etc., havendo lagrimas de satisfação, das lagrimas que do coração acodem aos olhos, a embaciar orbitas de pessoas que experimentaram naquela ocasião um dos momentos mais felizes, mais alegres, mais sublimes que na vida se é dado gosar!
E assim terminou aquele serão de belo e invulgar passa tempo espiritual, que marcou bem claramente mais um passo agigantado no caminho do Progresso e da Instrução - por onde a nossa terra, que estremecemos, tão digna e caprichosamente tem sabido trilhar.
No domingo, 21, ás 7 horas, uma salva de 21 morteiros põe em sobressalto toda a povoação. Uma fanfarra percorre as ruas da terra, soltando ao ar as notas estridentes do hino do Grupo. Foguetorio rijo corta vertiginosamente o espaço em direcção ao ceu azul que com um sol claro e quente quiz também associar-se á nossa festa.
São 10 horas. A Filarmonica “10 de Agosto” entra em Tavarede, tocando o hino do Grupo. É recebida de braços abertos. Após o “copo-d’agua” retirou para essa cidade, na altura em que a jovem mas esperançosa tuna do Gremio Recreativo União Caceirense dava entrada na aldeia. Ha os cumprimentos do estilo e os caceirenses ingressam no Grupo, onde se demoram até á noite.
O Grupo Musical tambem quiz dar um Bodo aos pobres, numero sempre simpatico em todas as festas - e deu-o. Havia destinado a distribuição de 2$50 a 25 pobres. Porém, apareceram 30, mais 5 portanto, que tambem levaram esmola. Saíram satisfeitos, balbuciando palavras de agradecimento e pedindo a Deus muitas felicidades para o Grupo Musical. Sentiam-se alegres, os pobresinhos, como alegres se sentiam todos aqueles que estavam a ver coroado do mais feliz resultado a boa organização de tão simpáticos festejos, que tanto prestigiam a nossa terra.
Das centenas de pessoas que visitaram o Grupo Musical, engalanado a capricho pelo socio Adelino Joaquim de Faria, cremos não haver uma só que dele não se refira em abonatórios termos.
São aproximadamente 4 horas quando a Filarmonica “Figueirense” dá entrada em Tavarede, onde é recebida carinhosamente, como tributo á sua cativante expontaneidade.
Prepara-se o inicio da sessão soléne - outro numero que vincou bem claramente a vitalidade do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense. O sr. Francisco Martins Cardoso assume a presidencia, convidando para o secretariar os srs. Pedro Colet-Meygret, delegado do Ginásio Clube Figueirense, e João Maria Pereira de Sousa, delegado dos Bombeiros Voluntarios.
Lidas mais de 100 saudações de individualidades, de associações, etc., e depois de dar posse aos novos corpos gerentes, que vão ao palco, sua exª., com aquela serenidade e inteligencia que o caracterisam, discursa demoradamente. No final levanta um “viva” ao Grupo Musical, viva esse que foi secundado pela numerosissima assistencia.
Dando a palavra a Antonio Victor Guerra, do conselho fiscal do Grupo, este faz um belo e eloquente discurso, convidando a certa altura a menina Acidalia Nogueira, gentil filha do saudoso Augusto Nogueira, a descerrar o retrato da srª. D. Maria Aguas Ferreira, extremecida esposa que foi do sr. José da Cunha Ferreira.
Alude, com palavras sinceras e comovidas, ao passado daquela santa mulher, que foi uma grande amiga da sua e nossa terra e do Grupo Musical, de que era socia quasi de fundação.
Ao terminar, foi muito cumprimentado e felicitado.
O sr. presidente pede um minuto de silencio em sinal de sentimento pela extincta benemerita - o que se cumpre religiosamente.
É em seguida dada a palavra ao rabiscador destas linhas - que se honra muito em ser tavaredense e socio fundador do Grupo Musical, que deseja vêr cada vez mais engrandecido e prestigiado - o qual, em palavras pobres de coloridos e rendilhados, mas ricos de sinceridade e ponderação, descreve a vida do Grupo e os seus efeitos na terra em que nasceu.
Em todo o seu modesto discurso, como em todos os outros, não se encontram as afirmações de esmagar jesuitas... como malevolamente foi dito por pessoa que não assistindo á sessão soléne concretisou, todavia, a mentira atrevida, descabida e estupida dalguns informadores baratos que ainda não pensaram que na terra não passam de ser uns pobres pedantes, uns pobres de espirito, uns traficantes de se lhes cuspir nas ventas - por desprêso.
É o que faz o autor destas linhas. É o que fazem todos aqueles que teem brio, que teem criterio e honra...
Mas... perdão, não fujamos do assunto do Grupo Musical e prossigamos na noticia...
O nosso amigo sr. Gomes d’Almeida, usando da palavra, faz, ao terminar, um apêlo aos bons tavaredenses para que secundem o gésto nobre dos encorajados cavalheiros que, para bom nome da sua terra, primaram na organização de tão simpática festa, que é bem a clara demonstração de mais um passo na senda bemdita dos Progressos dos Povos e portanto da Patria Portuguesa.
Este nosso particular amigo termina o seu discurso pondo incondicionalmente á disposição do Grupo o jornal O Figueirense, de que é director-proprietario, pois assim o tem feito a muitas outras associações de instrução e beneficencia.
É fartamente aplaudido.
O amigo sr. Eduardo Catita tambem não escapou. Convidado, sem o esperar, a usar da palavra, improvisa um explendido discurso, em que mais uma vez provou os seus dotes oratorios.
Antonio d’Oliveira Lopes, membro da assembleia geral do Grupo, fechou a sessão com um discurso brilhante, em que demonstrou as suas qualidades de rapaz estudioso e inteligente.
Foi justamente felicitado e aplaudido.
Não havendo mais ninguem que quizesse usar da palavra, o sr. presidente, com termos muito elogiosos para o Grupo e para Tavarede, encerrou aquela explendida sessão soléne, que ficou marcando uma festa cuja beleza jámais se apagará do espirito de quantos a ela assistiram.
A “Figueirense” tocou, por vezes várias, o “Hino do Grupo”.
Faltaram, por motivo de força maior, os oradores exmos. srs. drs. Rafael Sampaio e Antonino Cardoso.
Seguiu-se o baile, que era esperado pela gente môça e irrequieta, para quem a dança, hoje tanto em voga, constitue o melhor prazer de todos os mortais...
Nos intervalos, o nosso amigo Candido José Ferreira, de Anadia, exibiu-se em violão, pois é um artista no género, assobiando divinalmente alguns trechos dificeis e bonitos.
Emfim, foi uma festa que veiu a terminar tardissimo, reinando sempre em todos os corações a mais franca alegria e animação.
Na segunda-feira, 22, houve o almoço de confraternização, a que assistiram mais de 30 convivas, compartilhando da abundancia alguns pobres de Tavarede.
Durante o baile de domingo e o almoço de segunda-feira, teve a assistencia o prazer de apreciar uns belos discos no gramofone do nosso amigo Adriano Silva, que o cedeu da melhor boa-vontade ao gramofonista Zé Medina.
Não podiam ser melhor, os festejos do Grupo Musical.
Em Tavarede ainda se não fez coisa egual. Na Figueira, mesmo, que é cidade e tem excelentes associações, não ha tanto capricho como aqui na aldeia...
Não sabemos porquê, mas é verdade...
Parabens ao Grupo Musical, com os desejos de que muitos mais anos conte, trilhando sempre aquele caminho recto, honroso e dignificante que fácilmente o conduzirá á situação de destaque e de valor que ambiciona”.
Fotos: 1 - Emblema do Grupo Musical; 2 - João de Oliveira (à data presidente da Direcção); 3 - Violinda Medina (principal amadora e figura central na apoteose)
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