sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 14

Como havíamos referido, a Sociedade de Instrução adoptou, como seu, o estandarte que pertencera ao Grupo de Instrução e que havia sido inaugurado no ano de 1900. E, em 1927, o sócio benemérito Joaquim Fernandes Estrada, fez a oferta de um novo estandarte, que “é, na verdade, rico e artístico. O desenho é de António Piedade, e foi bordado a ouro e matiz pela distinta mestra de bordados da Escola Industrial e Comercial, srª D. Maria do Céu Rio, cujo trabalho é primoroso e justamente admirado”.
Aquele benemérito, em sessão solene expressamente realizada para o efeito, fez a entrega do novo estandarte e “afirma a sua simpatia pela Sociedade de Instrução Tavaredense, prometendo continuar a auxiliar a sua obra”.
“O acto é revestido de grande imponência. A gentil menina Maria Gonçalves (madrinha do estandarte) prende a bandeira na haste; a “Figueirense” executa o hino da Sociedade, e toda a assistência se levanta, soando palmas por largo tempo. Passados alguns momentos, o estandarte ergue-se, altivo, na haste encimada por uma artística estrela de metal branco, e irrompem novas salvas de palmas e muitos vivas”.


Entretanto, na véspera, tivera a sua estreia a revista “Grão-Ducado de Tavarede”, uma “revista fantasia, de carácter local, embora com alusões à Figueira e outras localidades vizinhas e ainda com intervenções de personagens de Brenha, Quiaios e Buarcos”.
A revista começa com uma visita à Exposição Internacional, organizada no “Grão-Ducado”. Dizia o catálogo que “é rica esta exposição. A secção nacional é vastíssima, onde se encontra tudo quanto é necessário à vida do homem, da mulher e dos animais; géneros e comestíveis; os mais diversos produtos da Indústria e da Agricultura; a Arte, o Progresso e a Civilização representados nas mais variadas manifestações”. Até tinha um Comissário...
Mas, e mais interessante, seria, talvez, a secção da pecuária. “Há animais de todas as espécies, tamanhos e feitios; mamíferos, insectos e batráquios, peixes e anfíbios, terrestres, aquáticos e aéreos, a aranha, a rã, a formiga, o elefante, o mosquito, o hipopótamo, a galinha, o bacalhau, o leão, o burro... em burros, então, é um sortido variadíssimo; temo-los manhosos e medrosos, espertos e teimosos, filósofos e tapados como um burro; variam na cor, no tamanho e na educação. Temos o burro preto, o burro branco, o burro malhado e o burro cor de burro quando foge; o burro pequenito como um burrito de mama, o burro de tamanho natural e o burro como casas; o burro que nem zurra, nem morde, nem dá coice, o burro que não morde, que não dá coice mas zurra, o burro que zurra, que dá coice e que morde. Burricalmente falando pode dizer-se que esta secção constitue para o nosso Grão-Ducado um verdadeiro sucesso burrical”.
Esta peça foi da autoria de João Gaspar de Lemos e de José Ribeiro, com música, original e coordenada, de António Simões. Foi em “Grão-Ducado de Tavarede” que começou a colaborar com o nosso grupo cénico “um distintíssimo artista e pintor. As maquettes dos quadros do “Inferno”, da “Apoteose à Lavoura” e da “Apoteose das Flores”, de deslumbrante efeito, são da autoria de Alberto Portugal de Lacerda”.
Com o decorrer destas histórias, conheceremos parte da valiosa colaboração de Alberto de Lacerda, um lisboeta que, colocado como professor na Escola Industrial e Comercial da Figueira da Foz, criou, na nossa terra, tantas amizades e apaixonou-se tanto por Tavarede e pelas suas gentes, que aqui quis acabar os seus dias, numa vivenda que mandou construir, repousando os seus restos mortais no nosso cemitério. Foi nesta sua casa, sita à entrada de Tavarede, do lado poente, que Alberto Lacerda pintou alguns dos seus mais belos trabalhos. O quadro “Ensaio de música”, que não teve tempo de acabar e que se encontra exposto no salão nobre da colectividade, bem demonstra a excelência da sua arte e da sua sensibilidade artística.


Naqueles tempos, as peças levadas à cena, davam poucas representações. Até então, 1927, exceptuando “Os Amores de Mariana”, quase nenhuma mais atingiu os seis espectáculos. E as montagens, além do enorme esforço dos ensaios, dos intérpretes e dos músicos, eram bastante dispendiosas. Cenários e guarda-roupa sempre novos na sua maioria. Neste aspecto, não devem ser esquecidos os nomes de Rogério Reynaud, nos cenários, e de Belmira Pinto dos Santos, na confecção dos fatos, a que, mais tarde, outros se foram juntando. O espólio que existe na Sociedade de Instrução, demonstra bem o trabalho e dedicação destes verdadeiros artistas.

Fotos: Frente e verso da estandarte oferecido por Joaquim Fernandes Estrada

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