sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 13

Este nobre povo não podia por mais tempo gramar a tirania que pesava sobre ele. Acabaram os vexames, as contribuições, as licenças do carro e caça, o serviço braçal. Quebraram-se os grilhões que nos prendiam à maldita Figueira...”. E, assim, foi proclamada a independência da freguesia, sendo solenemente constituída a “República do Limonete”.
Afinal de contas, Tavarede não precisava da Figueira para nada. Além da bela hortaliça fornecida pelas nossas várzeas, era na nossa terra que se situava a estação do caminho de ferro, o matadouro, o hospital militar, a central eléctrica e, até, o cemitério, pois os figueirenses “não têem onde cair mortos...”.



Foi um êxito a estreia da revista “Pátria Livre”. “Pode dizer-se que agradou plenamente; os aplausos foram calorosos, entusiásticos, fazendo a assistência bisar quase todos os números de música. Houve chamadas ao autor, ao maestro e ao ensaiador. Gaspar de Lemos e António Simões mereceram, sem favor, as prolongadas salvas de palmas que ouviram – o primeiro, por ter escrito com alegre fantasia e uma certa irreverência o comentário gracioso e ligeiro dalguns acontecimentos e factos locais; e o segundo pela felicidade com que compôs ou adaptou os números de música, alguns deles lindíssimos”.
São desta revista dois dos números mais conhecidos e cantados em Tavarede. “Ceifeiras e cavadores” e a “Fonte e suas Bilhas”, ainda hoje são ouvidos com agrado.
Foi sol de pouca dura. Pelos vistos, a “República do Limonete”, que se comparava ao “principado de Andorra”, não conseguiu impôr-se. E se é certo que se não perdeu a independência, o seu regime político alterou-se. Poucos meses depois era proclamado o “Grão-Ducado de Tavarede”.
Entretanto, a sede da Sociedade de Instrução sofreu grandes alterações. “Na sala de espectáculos é completamente transformada a superior, onde vai construir-se um balcão, em anfiteatro, que será mobilado com cómodos fauteils, que foram mandados fazer propositadamente”. Mas, se a colectividade passou a dispôr de melhores condições, também foi necessário, mais uma vez, endividar-se. O projecto das obras foi elaborado gratuitamente pelo arquitecto Edmundo Tavares e o custo total foi de 13.611$93. Um empréstimo de João dos Santos, no valor de 8.000$00 e outro de seu filho, Arménio Santos, à data presidente da Direcção, de 1.156$00, permitiram a conclusão do melhoramento.
Para angariar algum dinheiro, o grupo cénico foi, em Maio de 1926, pela terceira vez ao Parque-Cine. Depois de “Os Amores de Mariana” e “Em busca da Lúcia-Lima”, apresentaram a opereta “Noite de S. João”, onde se exibiram de “modo a merecer aplausos”. E, novamente, enquanto a “Voz da Justiça” refere, por exemplo, que “os coros – firmes como os vimos mesmo em alguns números de grande dificuldade, equilibrados, afinados sempre”, o crítico de “O Figueirense” diz que “as canções ao desafio, essas foram uma lastimazinha, que até faziam pôr em pé os poucos cabelos do maestro Simões...”.
Pelo aniversário, comemorado em Janeiro de 1927, houve a inauguração de um novo melhoramento: “a grande e magnífica sala de baile, que será montada em toda a sala de espectáculos e construido prolongamento do palco, por meio de estrado desmontável, a todo o comprimento e por sobre a plateia”. Este estrado foi adquirido por subscrição promovida entre os sócios. Bem nos recorda que, mal acabavam as cerimónias das sessões solenes, iamos a correr mudar de roupa para, ajudando o Jorge Monteiro e outros, saborearmos a “sopa de estrado”, como diziamos, ou seja, ajudar à sua montagem. O serão da segunda-feira seguinte era para o inverso , pois tinha que se desmontar e arrumar rapidamente todo o material, porque a sala de espectáculos era necessária para os ensaios do teatro. Era, realmente, uma grande trabalheira...


Como breve apontamento ao espectáculo deste aniversário, recortamos a nota de que “a orquestra, muito bem constituída, deu grande brilho à récita, que teve um certo cunho de distinção. A assistência ouviu com prazer e premiou com muitas palmas a difícil e linda ouverture da ópera “Nabucodonusor”, de Verdi, que teve uma boa execução e a canção da zarzuela “Filhos de Zebedeu”, de Chapi. António Simões viu assim coroados de êxito os seus esforços, e por isso bem mereceu os elogios e parabéns de que foi alvo”.

Fotos: 1 - Grupo cénico 1927; 2 - Grão Ducado de Tavarede (Conselho de Ministros)

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