segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Uma história de outros tempos - A Quinta do Robim


Já aqui publiquei a história do sr. João António da Luz Robim Borges, que herdara a quinta do seu familiar dr. Borges e hoje vou contar, melhor, transcrever, umas notícias das transformações que fez na referida quinta e de uma festa com que o brindaram no dia em que fez 39 anos de idade.
Foi em Maio de 1897. Eis as notícias:

"Completa amanhã 39 annos o sr. João Antonio da Luz Robim Borges.
N’esta occasião, em que os amigos d’este benquisto cavalheiro o felicitam com sincera cordealidade no seu aniversario, seja-nos permittido que a essas felicitações e às nossas juntemos algumas palavras que são d’inteira justiça pelas qualidades que enaltecem o caracter do sr. Robim Borges.
Descendente d’uma familia de negociantes, que pela sua actividade e honradez nunca desmentida alcançaram avultados bens e um logar preponderante na classe commercial de Lisboa, o sr. João Robim encontrou se ainda novo de posse d’uma fortuna importante e, pago o indeclinavel tributo que todo o homem digno d’este nome deve à juventude, principalmente quando esta é realçada pela riqueza e por uma irrequieta e vermelha saude, abandonou por completo a vida agitada e brilhante da capital pela remançosa tranquillidade provinciana, installando-se na Figueira, onde há annos vive, estimado por quantos com elle entreteem relações d’amizade.
Vivendo largo tempo no sport lisboeta, o seu genio de rapaz, acostumado a uma existencia agitada e um tanto febril, devia fatalmente ressentir-se da transplantação para um meio pacato e ordeiro, que obriga a solo na Assembleia e metter o corpo em valle de lençoes às 10 horas. Em vez de submetter-se a estes habitos caturras, preferiu rodear-se d’alguns amigos e levar uma existencia socegada, a seu modo, mas que não exclue a applicação da natural actividade.
Herdeiro da antiga Quinta do Borges, na Varzea, com dinheiro, com energia e com bom gosto, conseguiu transformar radicalmente o abandonado predio n’uma esplendida propriedade, n’uma magnifica vivenda, talvez sem egual no concelho da Figueira.
A Quinta do Borges, ainda há poucos annos quasi um pousio, quasi em absoluto abandono, é hoje a admiravel e deliciosa Villa Robim, onde o agricultor rotineiro tem que aprender e onde o visitante de bom gosto tem que apreciar e invejar. É uma propriedade rural à moderna, com todas as exigencias impostas pela sciencia da cultura e com todas as commodidades e elegancias que o confortavel não dispensa.
Isto, que já representa muito, pois que a realisação de todas estas cousas o actual possuidor da negligenciada propriedade teve de espalhar uma parte da sua valiosa fortuna, beneficiando principalmente as classes trabalhadoras, não é só titulo bastante para a nossa consideração e estima. O sr. João Robim, porém, tem feito muito mais.
É um philantropo sincero, sem vaidades, não dando ostentação à caridade. A classe operaria encontra n’elle um protector, um bemfeitor d’inexgotavel generosidade, e a porta da sua habitação nunca se fechou para aquelles a quem a miseria empolga e a desgraça salteia.
É um verdadeiro benemerito, é um coração do mais fino quilate. Por isso não é de mais a estima e a consideração que os figueirenses tributam àquelle a quem muitos com lagrimas de sincera commoção abençôam no dia do seu anniversario".

"... Foi elle que lhe modernizou a quinta e lhe deu o nome por que ficou conhecida.
Situada no fundo da bacia de Tavarede, a pouco mais d’um kilometro d’esta cidade para o nordeste, a perto de seiscentos metros ao sul daquella povoação, e a uns quatrocentos metros do Casal da Robala, que lhe fica a sueste, é rodeada por montes de pequena elevação que se multiplicam pelo nascente e poente, ao norte pelo prolongamento da Serra do Cabo Mondego, abrindo-se ao sul e em frente da villa uma extensa varzea, com disvello cultivada, que se termina no Rio Mondego.
Atravessando esta, existe um ribeiro dimanado da parte norte de traz de Tavarede que, atravessando-a toma o nome d’ella - ribeiro da Varzea, que vae desaguar no rio.
Ha duas fontes na mesma baixa ou varzea, tendo uma d’ellas este nome, e outra o de fonte da Lapa.
Ha uma estrada que liga directamente esta cidade com a villa e é a que segue pelo norte d’aquella indo pelo caminho da fonte da Varzea até lá.
Outra, que se dirige por junto da estação do caminho de ferro da Beira, e estrada de Mira.
Por Tavarede, e Casal da Robala, ha para ali tambem umas rasoaveis communicações viarias.
Quasi rodeada em circulo por pequenos montes, como dissemos, fica a Villa Robim emmoldurada por terras agricultadas, de cores variadas, fazendo pendant, o agradavel verde-escuro dos pinhaes que aqui e ali se vêem pelas encostas, em pequenos rectangulos, com as culturas de plantas de verde-claro, que se estendem em terrenos das baixas regadas pela abundancia d’agua que por ellas se ramifica. A longos tratos admira-se tambem, nos terrenos proprios, os vinhedos luxuriantes, aonde, por bem tratados, se distinguem os da Villa Robim.
Os pomares merecem tambem, na baixa e encostas de que falamos, de especial mensão, abundando as macieiras, ameixieiras, pereiras e figueiras, alem de uns raros pomares de larangeiras, que em uma ou outra parte existem.
A Villa Robim, inteiramente reformada, depois que o sr. Robim Borges tomou conta d’ella, como herdeiro de seu tio o sr. dr. José Joaquim Borges, é por assim dizer hoje uma quinta-escola agricola.
Graças a uma boa fortuna que possuia, e que adquiriu depois pelo fallecimento de seu honrado pae o sr. João Robim Borges, conceituadissimo negociante da praça de Lisboa, fez d’aquella pequena extensão de terreno, d’então, uma razoavel propriedade, tanto encarando-a pelo seu acrescentamento de terreno de que tem cuidado, como pela forma por que tem sido tratada agricolamente, segundo os novos processos da sciencia.
A propriedade acha-se dividida para as diferentes especies de culturas, em conformidade com o terreno, com as circumstancias climatericas e a necessidade de aguas correntes onde rega.
Havendo a difficuldade de levar a alguns pontos mais imminentes a agua da rega, ha bombas e lavatorios para isso, e uma boa disposição de canalisação attinente ao mesmo fim.
O pessoal de trabalhadores na villa, actualmente, regula, pelo que nos informam, entre cincoenta a sessenta jornaleiros, não contando n’este numero os que permanentemente lá residem.
E por ahi se pode avaliar a quantos o sr. Robim proporciona o pão quotidiano, embora remunerado em trabalho relativo.
N’este ponto, obrigam nos as nossas intensões a dizer que oxalá outros seguissem o mesmo caminho, fazendo valer para si e para os seus operarios o seu dinheiro, como faz o sr. Robim.
Que Deus lh’o amontoe para o poder distribuir...
Na actualidade, tem um lagar prompto, construido á moderna, já destinado a uma colheita vinicola, maior, quando tenha alargado a sua propriedade, como tenciona.
São inumeros os animaes contidos, systematicamente na Villa Robim: Bois, cavallos, carneiros, cabras, ovelhas, gansos, perús, gallinhas, patos mudos, patos triviaes, etc., e iria por ahi além a nossa narrativa se tivessemos de fazer uma completa resenha.
As porcheries, habitação de porcos, são pratica e scientificamente cuidadas, vivendo n’ellas animaes de differentes raças apuradas, não n’um immundo esterquilinio, como é corrente por ahi, mas em divisões appropriadas á higyene e em boa disposição ao desenvolvimento animal.
Das cavallariças não fallemos; é ir e ver.
Além d’outros, apresentam-se no logar cinco ou seis cavallos que, pela sua estampa, bem dizem dos que os escolheram e do bom tratamento que tem tido. Cavallos de tiro.
Para se ver quanto importante é o sustento d’estes animaes bastará repetir o que ouvimos dizer: seis mulheres andam diariamente no apanho de erva para elles.
Na cocheira, no dia dos annos do sr. Robim, estava, em alto, um tropheu de cousas allusivas á pecuária adornado de campainhas e guisos.
Era tambem objecto de admiração, a cabeça, rara, de um carneiro tricorne, dissecada e cheia de algodão.
Chegando até aqui, em uma resenha defeituosa, talvez porque melhor não podemos fazer, da Villa Robim, vamos falar das festas do anniversario do seu proprietario o sr. João Antonio da Luz Robim Borges.
Sobre a madrugada do dia 9 do corrente, quando a luz da manhã começava a espalhar a sua claridade sobre a Villa Robim, fazendo avultar no escuro ainda, a claridade das suas habitações, rompia no largo proximo á habitação do sr. Robim, o toque d’uma fanfarra ida d’aqui, a dar lhe a alvorada no seu dia d’annos.
Sem prevenção antecipada, ficou aquelle senhor surpreso, vindo á janella a recebel-os.
Era uma troupe de operarios que lá ia, em reconhecimento do que a favor da sua classe tem feito.
Bem recebidos, bem tratados, e tudo o mais que era de esperar do cavalheirismo do sr. Robim.
Durante o dia foi uma romaria á villa, não só de gente d’esta cidade, como das povoações proximas de Tavarede, Casal da Robala, etc.
Houve dansas, descantes, musica, e isto até altas horas. Pela 1 da noite, retirou a fanfarra dos operários, tendo antes agradecido ao sr. Robim todas as amabilidades de que foram alvo.
Á casa d’aquelle senhor haviam chegado de Lisboa n’aquelle dia mais de vinte pessoas de familias da sua amizade, que vieram congratular-se com elle no seu anniversario, tendo tambem reunido á sua mesa alguns amigos intimos d’esta cidade.
A festa acabou no dia 10, pela manhã.
Deixou a todos gratas e saudosas recordações, evidenciando-lhes que, aquella homenagem tributada ao sr. Robim Borges, era, não só pelo seu cavalheirismo, fino trato e posição, mas tambem um abraço fraternal do povo que o estima e venera, pelas suas excellentes qualidades humanitarias...".
Como está diferente a Quinta do Robim! Irreconhecível. Do que acima se fala só tenho fotografias da velha fonte da Várzea. Será que alguém (talvez o amigo Rogério) tenha uma ou duas fotografias antigas para aqui inserir? Era mais uma recordação.






As lavadeiras no ribeiro da Várzea

Cântaros com água fresquinha

O que restava da velha fonte, antes da sua destruição

9 comentários:

  1. Não caro Amigo Medina Não tenho fotos e confesso que conhecia algumas passagens da história do Sr. Robim Borges mas nada que se compare aquilo que o amigo aqui transcreve. Confesso que vou fazer copy-pass e esta história vai direitinha para a minha montra de histórias.
    Um abraço
    Rogério Neves

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  2. Caro Rogério
    Folgo imenso que lhe tenha servido para alguma coisa.
    É difícil obter fotografias antigas, mas lá vou arranjando algumas de vez em quando.
    Pode ser que algum dia lhe surja alguma foto antiga que possa interessar para a minha colecção e muito lhe agradeço.
    Um abraço do amigo
    Vitor Medina

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  3. Procuro familiares de Francisco Santos, falecido em 9/9/1955, era meu sogro e não o conheci, assim como o meu marido que na altura da sua morte tinha 7 meses.
    A minha sogra dizia que ele morou na Vila Robim, tenho fotografias dele a cavalo e rodeado de patos, não sei se é nessa quinta, pois ela também falava de Buarcos, será que Buarcos é próximo de Tavarede?
    o meu email é: m.antoniapps@gmail.com

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  4. joaquim manuel mensurado28 de maio de 2010 às 19:46

    Gostava de saber o nome do primeiro marido de pastora garcia mensurado,minha avó.
    para: mensurado@yahoo.com

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  5. joaquim manuel mensurado28 de maio de 2010 às 19:51

    O primeiro marido da minha avó Pastora Garcia Mensurado,seria José Augusto Rego de Freitas ?

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  6. joaquim manuel mensurado28 de maio de 2010 às 19:54

    Peço uma resposta para email : mensurado@yahoo.com

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  7. joaquim manuel mensurado28 de maio de 2010 às 19:58

    O meu pai Joao garcia mensurado,filho de Pastora Garcia Mensurado, nasceu um mês depois do seu pai ter morrido

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  8. O Sr. João António da Luz Robim Borges é meu trisavô avô da minha Mãe de 84 anos Helena Robim Grego filha de Helena Mensurado Robim Borges filha de Dona Pastora Robim Borges. estou a tentar chegar mais longe na árvore genealógica que conseguir....
    Agradeço a ajuda já prestada e não imagina o que senti ao ler o que li sobre o meu trisavô...
    A minha Mãe tem muito mais informação e está muito contente com o que lhe acabei de ler, e como privou com a Avó Pastora, tem histórias muito interessantes que tentarei postar aqui.
    Se tiver fotos do meu trisavô e tetravô por favor envie para mim, tentarei postar as que acho que existem na família.
    ate breve.
    Afonso Bernardo Robim (vou acrescentar o nome Robim no meu nome) Grego de Freitas

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  9. Meu caro senhor
    Fico bastante satisfeito com o seu comentário acerca de seu trisavô, o senhor Robim Borges, fundador da quinta do Robim. Infelizmente, e apesar de ter procurado bastante, não consegui encontrar nenhuma fotografia daquele senhor. Bem gostava, pois o seu retrato merecia estar num organismo oficial de Tavarede.
    Cumprimentos e ao dispor
    Vitor Medina

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