quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Na Feira de Maiorca

A ultima feira de Maiorca, do dia 17, foi um tanto caipóra para o sr. José Cordeiro, que é um bom velho, lá isso é, e amigo dos seus amigos, mas que d’esta vez teve pela prôa dos taes de... Peniche.
Foi o caso que aquelle excellente cidadão tinha uma burra, e escolheu aquella feira para vendel-a ou trocal-a. Uma vez alli, acercaram-se do pobre velho dois ciganos - dois refinadissimos marotos - e um d’elles propoz-lhe logo a troca da burra por uma outra que o mesmo malandrim trazia consigo.
O sr. Cordeiro, ao que parece, sympathizou mais mais com esta e... mais um... menos um... sempre combinaram: o sr. Cordeiro dava a sua burra e tinha de voltar ainda 4$000 réis. Mas n’isto sugeriu uma dificuldade que de prompto se não podia resolver: o pobre velho não tinha n’aquelle mommento aquella quantia...
- Não tem duvida, diz-lhe o segundo gatuno, que apparentava não conhecer o primeiro; empresto-lhe eu os 4$000 réis. - Já o conheço ha muitos annos e por isso não desconfio de si.
O sr. Cordeiro que ficou commovido com a franqueza d’aquelle seu velho conhecido, acceitou o offerecimento e passou os 4$000 réis para a mão do primeiro gatuno; este assim que se viu com a massa e com a burra tratou logo de ir passeal-a a ver se andava bem... a passo travado.
O segundo ficou-se por alli, girando d’um lado para o outro, a dar tempo que o outro chegasse a... Cascos de Rolhas; depois do que, fingindo um caso d’urgencia imprevisto, dirigiu-se logo ao sr. Cordeiro exigindo-lhe os 4$000 réis visto não poder ficar mais tempo porque precisava de se retirar immediatamente.
O pobre velho ficou atrapalhado de tal forma com a exigencia repentina do seu conhecido, tanto mais que ficou logo rodeado de mais alguns meliantes, que se viu obrigado a vender logo a nova burra. Esta, que naturalmente estava a pedir fabrica de guano, não rendeu mais de 3$000 réis.
Foi então que o sr. Cordeiro foi percebendo que tinha sido victima d’uma ciganice e não quiz dar os 1$000 réis que faltavam.
Foi o bastante para o atrevido mariola querer aggredir o pobre velho, dizendo-lhe que não queria saber se o outro era ou não gatuno, porque o não conhecia.
Finalmente, foi preciso que outras pessoas interviessem, porque o velho além de ficar sem a sua burrinha, esteve ameaçado de sova e de ser atacado nas algibeiras, não obstante ver-se obrigado a voltar para casa á pata... e apenas com a esperança de alguma vez caia um raio que parta aquella raça de conhecidos, já que alli nunca apparece a senhora policia para dar caça aos meliantes.
Esta história aconteceu em Março de 1896 e foi publicada no jornal 'O Povo da Figueira'.

Sem comentários:

Enviar um comentário