segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Instruir é Construir

“..... Para nós, a abertura de uma escola, representa a abertura de um verdadeiro templo que só pode iluminar, que só pode alagar de luz e fé a consciência. E no povo, é a falta desta, precisamente, que antolha sempre todos os passos que ele poderia dar na estrada da melhor fortuna...
Felizmente, encontra-se às vezes meia dúzia de obreiros que, apesar de viverem numa luta porfiada com o trabalho quotidiano, têm ainda ideias sãs e altruístas a germinar no espírito. Queremos referir-nos a uns poucos de rapazes de Tavarede que há pouco lançaram ombros à edificação de uma obra que se há-de erguer, por certo, com um pouco de esforço e boa vontade, e que há-de assinalar-se com serviços que o futuro perpetuará.
Essa obra foi a criação de uma sociedade de instrução. O seu fim é sustentar uma escola para os associados e filhos destes, criar uma biblioteca e uma caixa económica
...”.

Recortámos este apontamento de um artigo intitulado “Instrução em Tavarede”, que a “Gazeta da Figueira” publicou em 13 de Fevereiro de 1904. Também “A Voz da Justiça” se refere à organização de “uma associação que tem por fim derramar a instrução pelos seus associados e filhos destes”.
Tavarede já tinha, desde 1898, uma escola nocturna, instalada na casa do Terreiro. E, com a nova colectividade, recomeçou, de imediato, a ser frequentada por elevado número de alunos, na sua maioria, adultos. Não era possível, portanto, que, acabando as colectividades, se encerrasse aquela escola. Os tavaredenses já tinham tido tempo para se aperceberem das enormes vantagens que a sua instrução lhes trazia. A escola oficial, existente desde 1896, era insuficiente para as necessidades da freguesia. Mista e com uma só professora para todas as classes, por muito boa vontade e dedicação que a senhora D. Maria Amália de Carvalho tivesse, e ela teve, sem dúvida, não podia acolher todos os pretendentes. Muito menos os adultos.
João dos Santos foi o grande obreiro desta tarefa. Apesar de não figurar no “lote” dos
fundadores da nova colectividade, ele esteve sempre presente e, além de continuar a dirigir o grupo dramático, facultou as instalações de sua casa, tal como o havia já feito anteriormente, quer com a velh
a Sociedade Recreativa, quer com o Grupo Instrução.
A escola nocturna começou a funcionar imediatamente, tendo como professores algumas pessoas da terra que de bom grado deram a sua colaboração a esta obra meritória de verdadeira solidariedade com os seus patrícios analfabetos ou menos instruídos. Manuel Rodrigues Tondela, Manuel Jorge Cruz, João dos Santos Júnior, César da Silva Cascão e António Graça, auxiliados por outros sócios, foram os primeiros professores das aulas nocturnas da Sociedade de Instrução Tavaredense. Os três primeiros tinham já ministrado o ensino na escola nocturna que anteriormente funcionava no mesmo edifício”, escreveu, a este respeito, Mestre José da Silva Ribeiro.
Estava, portanto, cumprida a primeira determinação: “uma escola para ensino dos sócios que dela queiram utilizar-se e para ensino dos filhos destes”.
Como veremos com o correr das nossas histórias, manteve-se em actividade, ininterruptamente, até ao ano de 1941. E diga-se, desde já, com uma média anual superior a 50 alunos, atingindo, em alguns anos, as sete dezenas.
A biblioteca, desde logo com as ofertas de sócios e simpatizantes, cumpriu a sua missão. E, acrescente-se, sempre teve muitos leitores, até... talvez até ao aparecimento da televisão...
Faltou a “caixa económica”. Os propósitos eram altruístas. O auxílio àqueles que, por doença, carecessem de ajuda económica. Naqueles tempos, as necessidades eram muitas e os recursos poucos... Houve várias tentativas para a sua organização, mas sempre falharam nos objectivos. No entanto, sempre que foi julgada necessária, a ajuda da colectividade aos mais carentes, lá esteve. Alguns amadores, e ao longo destes cem anos, todos eles tanto ajudaram os mais necessitados, por esse país fora, foram socorridos pecuniariamente, em casos extremos. De forma modesta, é certo, pois as possibilidades sempre foram poucas, mas eficaz. E, saliente-se, como que “dando com a mão direita sem a esquerda o saber”. É que, sabe-se, por a isso se referirem em actas, por exemplo, que e quem auxiliaram, mas, praticamente sempre, sem referirem a verba que davam. Para não ferir susceptibilidades, escreviam...
Quanto ao teatro... Bem, sobre teatro, muito teremos a contar, pois o Teatro, todos o sabemos, é um manancial inesgotável, em Tavarede...

Fotos: A primeira sede (cedida por João dos Santos); João dos Santos, que herdou a casa de João José da Costa, da Quinta dos Condados.

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