domingo, 25 de outubro de 2009

Dr. Manuel e Dr. José Gomes Cruz

MANUEL GOMES CRUZ (DR.)



Nasceu em Tavarede, em 12 de Novembro de 1866, filho de António Cruz, pequeno lavrador e de Joaquina Gomes Cruz.
Depois de concluída a instrução primária, iniciou a sua vida de trabalho como operário, numa serralharia da Figueira.
Aconselhado e apoiado por João José da Costa, da Quinta dos Condados, que adivinhou nele excepcionais dotes para o estudo, foi para Coimbra, matriculando-se na Faculdade de Direito em 1892 e onde concluiu o curso, no ano de 1897, portanto, com 31 anos de idade.
Para a sua manutenção, e a exemplo do que fez seu irmão José, deu explicações enquanto estudante.
Exerceu advocacia na Figueira, tendo desempenhado importantes cargos públicos, como, por exemplo, o de primeiro administrador do concelho após a implantação da República. Desempenhou as funções de conservador do Registo Civil, desde a sua criação até ser atingido pela idade da reforma.
Perfeitamente consciente dos direitos e da dignidade de todos os cidadãos, emprestava a todos os actos praticados naquela Conservatória e a que presidia, uma dignidade inultrapassável, que fez fama e cujo exemplo perdurou naqueles que o vieram a substituir.
Espírito liberal e idealista do regime republicano, pôs ao serviço da propaganda a sua palavra fluente, sendo sempre escutado com o maior interesse.
Deu prestimosa colaboração à Estudantina Tavaredense, de que chegou a ser ensaiador do seu grupo dramático, à Sociedade de Instrução Tavaredense e à Associação de Instrução Popular, da Figueira, associações onde era bastante considerado e admirado. Também exerceu as funções de presidente da direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários da Figueira.
No ano de 1899, juntamente com João dos Santos, da Quinta dos Condados, fundaram em Tavarede, na Casa do Terreiro, uma escola nocturna que, gratuitamente, ministrou as primeiras luzes da instrução a adultos e a crianças analfabetas, tendo sido os seus primeiros professores.
Foi casado com D. Augusta Águas de Oliveira Cruz, e pai de D. Maria Eugénia Águas Cruz, que foi regente do Jardim Escola João de Deus, D. Maria Etelvina Águas Cruz, que casou com o médico Dr. Artur Beja, D. Maria Augusta Cruz, funcionária dos Serviços Municipalizados, do tenente Manuel Águas Cruz e do dr. António Águas Cruz, chefe de secção judicial, em S. Tomé.
Faleceu no dia 8 de Fevereiro de 1943, encontrando-se sepultado em Tavarede.

JOSÉ GOMES CRUZ (DR.)

Nasceu em Tavarede, no dia 16 de Setembro de 1873, sendo filho de António Cruz, pequeno lavrador local, e de Joaquina Gomes Cruz.
Depois de concluída a instrução primária, foi, incentivado e ajudado por João José da Costa, da Quinta dos Condados, que lhe reconhecera, como a seu irmão Manuel, excelentes qualidades para continuar os estudos, para Coimbra, onde, depois de feitos os exames secundários, se matriculou na Faculdade de Medicina, formando-se no ano de 1902.
Para fazer face aos encargos com os estudos e estadia naquela cidade, ele e seu irmão deram explicações, enquanto estudantes. E como tinha aprendido a tocar diversos instrumentos musicais, entre os quais violino, ofereceu os seus préstimos ao Café Santa Cruz onde, a troco de pequena quantia, tocava durante os jantares.
Durante as férias vinha para Tavarede, integrando-se activamente na Estudantina Tavaredense, de que foi um dos grandes animadores, no campo musical, chegando a dirigir a orquestra durante os espectáculos teatrais.
Dotado de um espírito liberal e desinteressado, carácter impoluto, era admirado pelas suas excepcionais qualidades. Mereceu-lhe especial atenção a instrução popular, realizando apreciadas palestras e conferências educativas, sempre ouvidas com grande interesse e respeito pelas classes trabalhadoras.
Dedicado sócio da Sociedade de Instrução Tavaredense, ali proferiu diversas palestras sobre assuntos da maior importância para os seus conterrâneos, como, por exemplo, “Alcoolismo”, “Formas de Governo”, “Pátria”, “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, etc.
Lutou afincadamente pela implantação da República e pela sua continuação, chegando a ser preso e julgado por envolvimento no movimento de Fevereiro de 1927.
Médico infatigável e dedicado para com os pobres, exerceu durante muitos anos o cargo de médico municipal de Buarcos. Também foi médico da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta.
Casou com D. Adelaide Goltz Águas Cruz e foi pai do dr. José Águas Cruz, sub-inspector de Finanças, e sogro do dr. Manuel Lontro Mariano. Faleceu no dia 27 de Julho de 1941 e encontra-se sepultado em Tavarede.
Como simples apontamento, transcrevemos uma nota recolhida da sua conferência intitulada “Educação e Instrução Popular”, que proferiu na Associação de Instrução Popular, no dia 5 de Outubro de 1924:
“………. É um coração republicano que lhes fala, que poderá ser brutal, mas julga ser justo, julga ser honesto, coração profundamente democrático, que procura no isolamento carpir as mágoas por ver que esta querida República, que ele tanto ama, não tem podido cumprir a sua nobre missão – por culpa dos homens e só por culpa dos homens, que acima dela vêem os seus interesses, os seus caprichos, as suas vaidades….”.
Dizia-se, em Tavarede, que o dr. José Cruz tinha feito um acordo com José Ribeiro, seu grande amigo, que se resumia nisto: sendo ambos ateus, não acreditavam que houvesse vida ou qualquer outra coisa para além da morte. Assim, o primeiro que morresse, procuraria, no caso de haver qualquer coisa no “outro mundo”, dar um sinal ao sobrevivo. Morreu primeiro o dr. José Cruz e uma noite, quando José Ribeiro voltava a casa, defronte da casa da família Águas, à Quinta da Esperança, sentiu uma violenta bofetada dada por… não havia ninguém à sua volta. Verdade? Nunca confirmámos isto com mestre José Ribeiro.
Caderno: Tavaredenses com história

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