No dia 25 de Abril de 1900, vem publicada, na 'Gazeta da Figueira', uma extensa e interessante reportagem sobre uma festa, em Tavarede, em que se inaugurou o estandarte de uma nova colectividade, o Grupo de Instrução Tavaredense.
O número alto das festas, teve lugar pelas oito e meia horas da manhã, e na Igreja Paroquial, onde se celebrou a missa conventual, durante a qual foi benzido o novo estandarte. Durante o acto religioso, fez-se ouvir a tuna do jovem Grupo, que executou uma valsa. Acrescentemos, como comentário, que por aquela época, as cerimónias religiosas tinham activa participação das associações locais. Nas missas festivas, Natal e Páscoa, por exemplo, as tunas participavam, musicalmente e com reportório adequado, à celebração das mesmas e eram sempre escutadas, com muito agrado, por todos os assistentes.
O estandarte referido era “uma rica obra de arte, a que a exma. srª. D. Rita Jardim, sua bordadora, e o sr. Francisco Gil, seu desenhador, souberam imprimir um cunho altamente artístico, de magnífico trabalho e de inexcedível beleza”. Este estandarte, acrescente-se, desde já, acabou por servir à Sociedade de Instrução Tavaredense, que o utilizou desde a fundação até ao ano de 1927.
O Grupo Instrução manteve-se em actividade até finais do ano de 1903, embora, e curiosamente, só neste ano apareça o anúncio da sua constituição oficial. Foi breve, portanto, a sua existência.
No entanto, e durante esses três anos, e alguns meses, manteve uma actividade bastante apreciável. Já sabemos que ali estava instalada uma escola nocturna para adultos (que utilizava o método de João de Deus), ensinando as primeiras letras aos sócios e filhos, que dela quizessem utilizar-se, e que não puderam frequentar a escola primária oficial, muito recente em Tavarede, aliás. Manteve o grupo dramático sempre em actividade, sob a orientação de João dos Santos. E fundou um agrupamento musical, do qual passaram a fazer parte a maioria dos componentes da tuna “Bijou Tavaredense”, que terá acabado prematuramente, por motivos que desconhecemos, mas a que não terá sido alheio o falecimento do seu presidente, o senhor João António da Luz Robim Borges.
Entretanto, em Janeiro de 1900, já se tinha realizado, na nova colectividade, um sarau dramático-musical, que se iniciou com o hino do Grupo, tocado no palco, sob a regência de João Prôa, e que, pela sua actuação, mereceu fartos aplausos da assistência.
Pois João Prôa foi o organizador da tuna que então passou a fazer parte do Grupo de Instrução. Foi seu regente e mestre e foi, também, inspirado compositor.
O estandarte referido era “uma rica obra de arte, a que a exma. srª. D. Rita Jardim, sua bordadora, e o sr. Francisco Gil, seu desenhador, souberam imprimir um cunho altamente artístico, de magnífico trabalho e de inexcedível beleza”. Este estandarte, acrescente-se, desde já, acabou por servir à Sociedade de Instrução Tavaredense, que o utilizou desde a fundação até ao ano de 1927.
O Grupo Instrução manteve-se em actividade até finais do ano de 1903, embora, e curiosamente, só neste ano apareça o anúncio da sua constituição oficial. Foi breve, portanto, a sua existência.
No entanto, e durante esses três anos, e alguns meses, manteve uma actividade bastante apreciável. Já sabemos que ali estava instalada uma escola nocturna para adultos (que utilizava o método de João de Deus), ensinando as primeiras letras aos sócios e filhos, que dela quizessem utilizar-se, e que não puderam frequentar a escola primária oficial, muito recente em Tavarede, aliás. Manteve o grupo dramático sempre em actividade, sob a orientação de João dos Santos. E fundou um agrupamento musical, do qual passaram a fazer parte a maioria dos componentes da tuna “Bijou Tavaredense”, que terá acabado prematuramente, por motivos que desconhecemos, mas a que não terá sido alheio o falecimento do seu presidente, o senhor João António da Luz Robim Borges.
Entretanto, em Janeiro de 1900, já se tinha realizado, na nova colectividade, um sarau dramático-musical, que se iniciou com o hino do Grupo, tocado no palco, sob a regência de João Prôa, e que, pela sua actuação, mereceu fartos aplausos da assistência.
Pois João Prôa foi o organizador da tuna que então passou a fazer parte do Grupo de Instrução. Foi seu regente e mestre e foi, também, inspirado compositor.
Pano de boca inicial
O teatro, durante aqueles anos, fez parte integrante do ensino da escola nocturna. Além dos espectáculos representados pelos amadores habituais e outros que se lhes foram juntando, todos os anos se realizavam saraus dramático-musicais, organizados e concebidos para serem protagonizados pelos alunos da escola nocturna.
“E aqui está uma pessoa há um pedaço a olhar os linguados do papel, a hesitar, sem saber com que os há-de encher. Procuro notícias, não vejo nada de merecimento que possa aproveitar-se; tudo uma pasmaceira insípida, comparada ao silêncio que a estas horas, 10 da noite, se nota lá fora, onde se não sente viva alma; tudo se enlaçou nos lânguidos braços de Morpheu, que nas aldeias os estende logo á noitinha para reparar as fadigas que cansam tantos corpos entregues pelo dia adiante à execução dos trabalhos agrícolas, umas vezes sob esse sol tórrido que nos abraza e sufoca, outras expostos aos rigores do inverno que com as suas neves e frios ventos nos rasga as carnes sem dó nem compaixão.
O único assunto que se nos oferece para dele podermos dizer alguma coisa, é o relato do espectáculo dado no domingo de Páscoa pelos alunos da escola nocturna. Casa a trasbordar, com concorrência superior á da primeira récita efectuada outro dia pelos mesmos amadores. Ás 9 horas da noite a orquestra executa o hino da escola, que é ouvido de pé, e em seguida sobe o pano; o palco oferece-nos uma vista agradável, similhando o pátio das casas do Izidoro Vaqueiro e de seu filho Gregório, que naquele dia deve receber á face do altar a Margarida, uma das cachopas mais guapas do lugar, e para cuja festa os aldeãos preparam grande regalório. Abre-nos a comédia (Casamento do filho do Vaqueiro) com um coro de rapazes e raparigas da aldeia, e dali em diante temos por vezes em cena o pai Izidoro, a mãi Rosa, os padrinhos do casamento, e o noivo, que por sinal está pouco resolvido a ir á igreja, isto porque umas intrigas urdidas pelo tutor de Margarida lhe vêem pôr em dúvida o bom comportamento desta sua escolhida. Afinal, tudo se desvenda, averigua-se que são falsas as injúrias imputadas à pobre rapariga, e que lhe eram lançadas por conveniência do interesseiro tutor. E os noivos lá casam, cheios de prazer e satisfação. A comédia é do velho reportório e bastante conhecida, sendo já em tempos aqui representada. Mas o desempenho dado agora aos diferentes papéis por António Graça (Izidoro), Fernando Pereira (Rosa), Joaquim Terreiro (Gregório), Augusto Bertão (Margarida), António Broeiro (Fonseca), António Migueis e Jaime Broeiro nos padrinhos do casório, João da Graça (Zé das Bordoeiras) e ainda por outros tipos, foi muito mais correcto, segundo nos dizem, e isso lhes valeu os unânimes aplausos da plateia. As músicas, apesar dos poucos ensaios e de terem sido cantadas a medo, sairam muito regularmente. E acabou-se o 1º acto.
No segundo representa-se a comédia República das Letras, em que toda a petizada trabalha, e que pela segunda vez se pôz em cena. Os nóveis actores fizeram o que puderam, e os espectadores aplaudiram-nos com entusiasmo.
Neste intervalo, o sr. Luís Pinto, um simpático amador dessa cidade, recitou com certa correcção o monólogo dramático O Piloto, e a poesia Quando eu morrer. Luís Pinto colheu bastas palmas da plateia.
Seguiram-se as comédias Casamento do Alto Vareta e Lutas civis, cujo desempenho não desmereceu em nada a boa interpretação que os diferentes personagens deram aos seus papéis no espectáculo em que debutaram. Na primeira destas comédias temos a sobressair Joaquim Terreiro no seu papel de Maria das Dores, João de Oliveira no Alto Vareta, Fernando Pereira na pretenciosa Joana, António Broeiro no João (cabo de esquadra) e Jaime no surdo mestre Joaquim; os outros rapazes não desmancham o conjunto, dando por isso lugar que às situações mais engraçadas da peça se imprimisse bastante relevo.
Nas Lutas Civis, comédia-drama cuja acção se passa nos arredores de Coimbra, dá-nos Fernando Pereira um tipo original de criado de moinho, a quem só dá prazer o pouco trabalho, e que tem por lema fazer no outro dia aquilo que não se fizer em dia de Santa Maria... Joaquim Terreiro, um dos pequenos que mais aptidões cénicas revela, disse muito bem o seu papel de Maria, filha do pobre veterano Jácome, a que João de Oliveira dá certa naturalidade, conquanto o género deste papel não seja o que mais lhe está a carácter. Os outros personagens também se saíram muito regularmente.
Eis, em massadoras linhas, a nossa opinião sobre a parte dramática do espectáculo. A parte musical, executada por um grupo de rapazes daqui, foi ouvida com agrado geral, sendo feliz a escolha das músicas que formavam o programa, e que alcançaram dos assistentes várias salvas de palmas, especialmente Una broma, jota lindíssima de Simões Barbas, e a mazurca Succés, de Backman, que foram tocadas com mimo e gosto pouco vulgares nos grupos musicais desta minha terra.
Eram festas teatrais assim que desejariamos ver realizar frequentes vezes, mas é certo que a boa vontade que as leva a efeito também é gasta por muitos dissabores que se recebem durante a luta... Isto, infelizmente, é uma triste verdade...
E ponto neste assunto”.
Começam, então, a surgir nomes de que ainda todos nos lembramos de ver actuar no nosso palco, bastantes anos mais tarde. Acabaram, as duas associações, a que nos temos vindo a referir, em 1903. Uma nova colectividade surgiu em Janeiro de 1904, a Sociedade de Instrução Tavaredense.
“E aqui está uma pessoa há um pedaço a olhar os linguados do papel, a hesitar, sem saber com que os há-de encher. Procuro notícias, não vejo nada de merecimento que possa aproveitar-se; tudo uma pasmaceira insípida, comparada ao silêncio que a estas horas, 10 da noite, se nota lá fora, onde se não sente viva alma; tudo se enlaçou nos lânguidos braços de Morpheu, que nas aldeias os estende logo á noitinha para reparar as fadigas que cansam tantos corpos entregues pelo dia adiante à execução dos trabalhos agrícolas, umas vezes sob esse sol tórrido que nos abraza e sufoca, outras expostos aos rigores do inverno que com as suas neves e frios ventos nos rasga as carnes sem dó nem compaixão.
O único assunto que se nos oferece para dele podermos dizer alguma coisa, é o relato do espectáculo dado no domingo de Páscoa pelos alunos da escola nocturna. Casa a trasbordar, com concorrência superior á da primeira récita efectuada outro dia pelos mesmos amadores. Ás 9 horas da noite a orquestra executa o hino da escola, que é ouvido de pé, e em seguida sobe o pano; o palco oferece-nos uma vista agradável, similhando o pátio das casas do Izidoro Vaqueiro e de seu filho Gregório, que naquele dia deve receber á face do altar a Margarida, uma das cachopas mais guapas do lugar, e para cuja festa os aldeãos preparam grande regalório. Abre-nos a comédia (Casamento do filho do Vaqueiro) com um coro de rapazes e raparigas da aldeia, e dali em diante temos por vezes em cena o pai Izidoro, a mãi Rosa, os padrinhos do casamento, e o noivo, que por sinal está pouco resolvido a ir á igreja, isto porque umas intrigas urdidas pelo tutor de Margarida lhe vêem pôr em dúvida o bom comportamento desta sua escolhida. Afinal, tudo se desvenda, averigua-se que são falsas as injúrias imputadas à pobre rapariga, e que lhe eram lançadas por conveniência do interesseiro tutor. E os noivos lá casam, cheios de prazer e satisfação. A comédia é do velho reportório e bastante conhecida, sendo já em tempos aqui representada. Mas o desempenho dado agora aos diferentes papéis por António Graça (Izidoro), Fernando Pereira (Rosa), Joaquim Terreiro (Gregório), Augusto Bertão (Margarida), António Broeiro (Fonseca), António Migueis e Jaime Broeiro nos padrinhos do casório, João da Graça (Zé das Bordoeiras) e ainda por outros tipos, foi muito mais correcto, segundo nos dizem, e isso lhes valeu os unânimes aplausos da plateia. As músicas, apesar dos poucos ensaios e de terem sido cantadas a medo, sairam muito regularmente. E acabou-se o 1º acto.
No segundo representa-se a comédia República das Letras, em que toda a petizada trabalha, e que pela segunda vez se pôz em cena. Os nóveis actores fizeram o que puderam, e os espectadores aplaudiram-nos com entusiasmo.
Neste intervalo, o sr. Luís Pinto, um simpático amador dessa cidade, recitou com certa correcção o monólogo dramático O Piloto, e a poesia Quando eu morrer. Luís Pinto colheu bastas palmas da plateia.
Seguiram-se as comédias Casamento do Alto Vareta e Lutas civis, cujo desempenho não desmereceu em nada a boa interpretação que os diferentes personagens deram aos seus papéis no espectáculo em que debutaram. Na primeira destas comédias temos a sobressair Joaquim Terreiro no seu papel de Maria das Dores, João de Oliveira no Alto Vareta, Fernando Pereira na pretenciosa Joana, António Broeiro no João (cabo de esquadra) e Jaime no surdo mestre Joaquim; os outros rapazes não desmancham o conjunto, dando por isso lugar que às situações mais engraçadas da peça se imprimisse bastante relevo.
Nas Lutas Civis, comédia-drama cuja acção se passa nos arredores de Coimbra, dá-nos Fernando Pereira um tipo original de criado de moinho, a quem só dá prazer o pouco trabalho, e que tem por lema fazer no outro dia aquilo que não se fizer em dia de Santa Maria... Joaquim Terreiro, um dos pequenos que mais aptidões cénicas revela, disse muito bem o seu papel de Maria, filha do pobre veterano Jácome, a que João de Oliveira dá certa naturalidade, conquanto o género deste papel não seja o que mais lhe está a carácter. Os outros personagens também se saíram muito regularmente.
Eis, em massadoras linhas, a nossa opinião sobre a parte dramática do espectáculo. A parte musical, executada por um grupo de rapazes daqui, foi ouvida com agrado geral, sendo feliz a escolha das músicas que formavam o programa, e que alcançaram dos assistentes várias salvas de palmas, especialmente Una broma, jota lindíssima de Simões Barbas, e a mazurca Succés, de Backman, que foram tocadas com mimo e gosto pouco vulgares nos grupos musicais desta minha terra.
Eram festas teatrais assim que desejariamos ver realizar frequentes vezes, mas é certo que a boa vontade que as leva a efeito também é gasta por muitos dissabores que se recebem durante a luta... Isto, infelizmente, é uma triste verdade...
E ponto neste assunto”.
Começam, então, a surgir nomes de que ainda todos nos lembramos de ver actuar no nosso palco, bastantes anos mais tarde. Acabaram, as duas associações, a que nos temos vindo a referir, em 1903. Uma nova colectividade surgiu em Janeiro de 1904, a Sociedade de Instrução Tavaredense.
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