sábado, 21 de fevereiro de 2015

O Aasociativiusmo na Terra do Limonete - 116

         Geminada com a Figueira da Foz, Gradignan recebeu uma representação do associativismo tavaredense. Foi a primeira internacionalização do nosso teatro e da nossa música, numa iniciativa da Câmara Municipal da Figueira. Levar o nome da Figueira até terras de Gradignan e fortalecer culturalmente os alicerces do projecto comum que aquela cidade francesa e a nossa resolveram solidificar através de uma geminação era, assim o entendemos, o objectivo das gentes de Tavarede.
         Geminação (a mais recente da Figueira e a única de Gradignan) que tem funcionado mais ao nível da troca de experiências profissionais entre técnicos dos dois municípios, usufruiu agora de um revigorante tónico, admiravelmente administrado pelos amadores tavaredenses, que na “cidade verde” se revelaram exímios embaixadores.
         E Gradignan, a meia dúzia de quilómetros de Bordéus, é uma cidade diferente, não apenas da nossa cidade praia, mas “anormal” dentro da própria França, num contexto muito geral.
         Chamamos-lhe cidade verde.
         E julgamos que com razão, pois as zonas verdes, cuidadas e vastas, são, desde logo, o que mais impressiona qualquer visitante, para além das suas vivendas, algumas delas antigos e conservados palácios e solares de vinhateiros do século XVII e XVIII.
         Gradignan possui nos seus 1570 hectares, mais de 400 totalmente arborizados. Por hábito, que se mantém, aquele que compra um terreno cede à Câmara quatro quintos do mesmo para zona verde e apenas utiliza o restante para uso próprio directo. Quer dizer, depois de feitas as contas, cada habitante de Gradignan dispõe de 65 metros quadrados de espaço verde!
         De Gradignan, antigo lugar de passagem num dos caminhos de Santiago de Compostela, se pode ainda acrescentar, neste comprimido cartão de apresentação, que 50 por cento da sua população tem menos de 25 anos, que mais de 20 por cento das suas habitações são consideradas sociais, que, ainda por curiosidade, nela existem oito campos de futebol, 12 campos de ténis, três enormes gimnodesportivos, diversos pólos universitários (com 2400 alunos), creches e lares para a 3ª idade, etc., etc. etc.
         Tendo a comitiva tavaredense partido poucos minutos antes da uma hora (da noite, claro) do dia 10, e após uma viagem de cerca de 1200 quilómetros, quase sempre atormentada pela irritante chuva, chegaria a Gradignn ao fim da tarde, à hora de se instalar no CREPS (um dos maiores centros de estágio desportivos da Europa), jantar e “xixi-cama”, sem que antes muitos procurassem telefonar para saber o resultado do Benfica-Boavista...
         Toda a embaixada havia sido recebida por Pierre Caune e Yves del Perugia, os “homens da Câmara” que durante toda a nossa estada representaram a cidade e fizeram as honras da casa com a maior eficiência, enquanto que a Câmara da Figueira esteve presente pelo vereador dr. Licínio Amaral.
         Sexta-feira, após um desportivo e racional pequeno almoço, começou no extraordinário Teatro das Quatro estações a montagem da cena para a “Tá Mar”.
         Entretanto, o nosso Jornal teve privilégios, e pode passar a manhã deambulando pelos vários serviços da Câmara, na companhia de Daniel Costa, um francês (português) responsável (em grande parte) pela geminação, e que em Gradignan, na sua máquina administrativa tem posição de bastante importância, concretamente no departamento informativo.
         Após o almoço que realizámos no “Hotel de Ville”, parte da delegação figueirense, na qual pontuavam os presidentes da Assembleia de Freguesia e da Junta de Tavarede bem como a drª Ana Maria, responsável do teatro na SIT, foi recebida pelo presidente da Câmara, em sessão solene de boas vindas.
         Cerimónia protocolar, mas em família, durante a qual se procederam à troca não apenas de cordiais mensagens de “reforço geminatório”, mas também de lembranças, sendo igualmente “O Figueirense” distinguido com a Medalha de Gradignan, uma imerecida honraria. 
         Entretanto, enquanto uns iam montando a “Tá Mar”, uma outra equipa de artistas, isto é, a Celeste, a São, e a Augusta, capitaneadas pelo sr. Carvalheiro, trabalhavam gostosamente no que seria o ponto alto da noite: o jantar que Tavarede ofereceu aos amigos franceses, concretizado num divinal bacalhau à Lagareiro. Cremos que só a água era francesa, pois tudo fora levado de Portugal, incluindo os vinhos servidos, antes, durante e depois.
         Sucesso gastronómico (e social) ao qual não faltaria o nosso tradicional arroz doce, e reforçado pelo “acto de variedades” que encerraria a noite de amizade. Um bem ensaiado grupo – vozes e instrumentos – deu a conhecer um conjunto de canções populares portuguesas, daquelas julgadas mais significativas, ao mesmo tempo que os músicos do mestre João Mendes (imparável de dinamismo), atroavam os ares por tudo onde era sítio com a nossa Marcha do Vapor, sempre aplaudida e por todos nós cantada.
         E para um culminar de sarau em beleza, o Vítor Costa, o António Simões (parabéns, presidente), o António Barbosa, a Augusta Duarte, o Pedro Antunes, a Celeste Fonseca, e o António Paz encheram o Prieuné de Cayac de portuguesismo fadista.
         No sábado continuou-se a lutar contra a chuva, mas que na parte da manhã fez tréguas com Tavarede, o que permitiu que todos – cinquenta e dois – se integrassem numa musicalíssima arruada, bem ao jeito nacional, que percorreu, com polícia a abrir caminho, as artérias principais e mais movimentadas da “cidade verde”.
         Era a manifestação de rua que levava os “gradignadenses” a inquirir do que se passava... e a baterem palmas.
         Claro que não faltaram as bandeiras nacional e figueirense... a Marcha do vapor!
         E só na tarde de sábado houve ocasião para pensar nos francos que “asfixiavam” nas carteiras. Após um passeio por Bordéus, sempre a andar (no autocarro, claro), houve a possibilidade de visitar Arcachon, terra de iates, de Casino e de muitas (e caras) lojas, o que proporcionou o bater de asas dos frangos, digo, francos, transformados em “souvenires”.
         A presença de Tavarede e dos seus amadores aproximava-se não apenas do fim, mas igualmente do seu momento mais elevado: nessa noite houve Teatro, na fabulosa sala das Quatro estações, uma maravilha da técnica na construção de teatros!
         Dizem os entendidos que foi uma das mais conseguidas representações das várias já efectuadas da “Tá Mar”, pela SIT e que mereceu os fartos aplausos dos assistentes no anfiteatro. Em nome da verdade se deve dizer que não eram muitos. Tavarede, nessa noite, teve sérios inimigos: a televisão final da Taça de França, com a equipa do português Artur Jorge; a impiedosa chuvada que durante horas se manteve; um jantar de portugueses da zona, que comemorava o 10 de Junho e ainda uma festa que a uma centena de metros Gradignan vivia.
         Mas Tavarede e os seus amadores cumpriram com toda a dignidade a missão que haviam aceitado. O nome da Figueira da Foz, os propósitos da geminação, a arte dos amadores – teatrais, musicais, gastronómicos,--- - que de Tavarede, da sua freguesia, levaram a Gradignan uma mensagem de amizade, --- tudo, tudo foi cumprido com a qualidade, dedicação, muito figueirentismo, espírito de sacrifício, por um punhado de gente que bem merece o prémio de Divulgação do Nome da Figueira da Foz.
         Parabéns, amadores de Tavarede.
         Uma felicitação final para a Junta de Freguesia de Tavarede, (à qual “O Figueirense” agradece as atenções recebidas) particularmente dirigidas ao seu presidente, António Simões, o grande e abnegado dinamizador deste acto cultural.

         No ano de 1994, por ocasião de mais um aniversário, foi inaugurado o pavilhão desportivo da Sociedade. E masi uma festa interessante, e que se pode integrar no associativismo local, ocorreu em Março de 1994, por ocasião dos festejos comemorativos dos 100 anos de vida da antiga amadora teatral Helena Figueiredo Medina. Se é certo que Tavarede nos tem habituado, desde sempre, ao chamado direito à diferença, não podemos, contudo, deixar de nos regozijarmos, uma vez mais, com a forte participação que os tavaredenses desenvolveram, no passado dia 23, na homenagem prestada a D. Helena de Figueiredo Medina, no dia em que comemorava 100 nos de vida.
         Nascida há um século, D. Helena Figueiredo Medina ainda hoje cultiva uma alegria de viver não usual naquela idade, sentimento que tão bem exprime nas canções – de outros tempos, certamente – que admiravelmente canta, embora as sequelas de 100 anos de vida se façam logicamente sentir nos longos períodos de quietude, durante os quais, talvez mentalmente deambule por um passado difícil, pelo historial de uma mulher que quando rapariga muito teve de lutar para sobreviver e apoiar a família.
         No começo da noite, D. Helena recebeu em casa de sua filha, com a qual há longo tempo mora, a visita de largas dezenas de tavaredenses que, para além de flores, de muitas flores lhe patentearam estima, admiração, respeito e amor.
         Recordamos que o presidente da Junta, emocionado, lhe entregou as suas flores e o seu abraço, as flores de Tavarede, o abraço de Tavarede, o mesmo tendo feito a drª Ilda Manuela, em representação da SIT.
         Talvez que D. Helena não se tenha apercebido do porquê de tanta gente. Cremos bem que não. Mas que os seus olhos adquiriram mais brilho e a sua voz mais alma, disso ninguém duvidou.
         E as suas canções, mesmo aquela mais apimentada de que tanto parece gostar, ecoou de forma diferente no coração dos que a escutaram.
         Como significativo foi o ouvir-se a Tuna de Tavarede, agrupamento musical criado pelo saudoso José Medina, marido de D. Helena, e um dos músicos mais prestigiados que a “capital da cultura concelhia” conheceu.
         Parabéns aos “velhos” tunos de Tavarede.


         Depois da visita de cumprimentos decorreu no Salão de Teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense  homenagem a D. Helena, embora sem a sua presença.
         E pelo palco tivemos uma agradável representação de “Os Amores do Coronel”, peça que marcou, em 1914, em 22 de Março, a estreia de Helena Medina como amadora (distinta) teatral, no papel de Rosina, uma camponesa irrequieta e apaixonada.
         Uma palavra de aplauso para a espantosa actuação do coronel, isto é, de Rogério Neves. “Um espanto”, como diria Jô Soares.
         E com uma casa praticamente cheia, ainda admirámos um vídeo (trabalho do dr. Rui Moura) que nos contou muito do passado e do presente da centenária Helena Medina.
         Por fim, numa terceira parte, tivemos pequenos quadros de algumas peças nas quais D. Helena Medina actuou, quando jovem.
         Se os parabéns vão inteirinhos para a Mulher e para a Amadora Teatral chamada Helena Figueiredo Medina, eles terão de ser igualmente endereçados a Tavarede e muito especialmente à Sociedade de Instrução Tavaredense.
         É o tal direito à diferença...


         Também no dia 1 de Maio desse ano, o Grupo Desportivo e Recreativo da Chã, a dois passos da Figueira e na freguesia de Tavarede, comemorou o seu décimo oitavo ano de vida, melhor, de muita vida, bem patente no que da sua sede se construiu já, é visivel nas actividades que tem desenvolvido, nas quais – qualmenina bonita – toma lugar de honra o Rancho Estrelinhas da Chã

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