Geminada com a Figueira da Foz,
Gradignan recebeu uma representação do associativismo tavaredense. Foi a
primeira internacionalização do nosso teatro e da nossa música, numa iniciativa
da Câmara Municipal da Figueira. Levar o
nome da Figueira até terras de Gradignan e fortalecer culturalmente os
alicerces do projecto comum que aquela cidade francesa e a nossa resolveram
solidificar através de uma geminação era, assim o entendemos, o objectivo das
gentes de Tavarede.
Geminação
(a mais recente da Figueira e a única de Gradignan) que tem funcionado mais ao
nível da troca de experiências profissionais entre técnicos dos dois
municípios, usufruiu agora de um revigorante tónico, admiravelmente
administrado pelos amadores tavaredenses, que na “cidade verde” se revelaram
exímios embaixadores.
E
Gradignan, a meia dúzia de quilómetros de Bordéus, é uma cidade diferente, não
apenas da nossa cidade praia, mas “anormal” dentro da própria França, num
contexto muito geral.
Chamamos-lhe
cidade verde.
E
julgamos que com razão, pois as zonas verdes, cuidadas e vastas, são, desde
logo, o que mais impressiona qualquer visitante, para além das suas vivendas,
algumas delas antigos e conservados palácios e solares de vinhateiros do século
XVII e XVIII.
Gradignan
possui nos seus 1570 hectares, mais de 400 totalmente arborizados. Por hábito,
que se mantém, aquele que compra um terreno cede à Câmara quatro quintos do
mesmo para zona verde e apenas utiliza o restante para uso próprio directo.
Quer dizer, depois de feitas as contas, cada habitante de Gradignan dispõe de
65 metros quadrados de espaço verde!
De
Gradignan, antigo lugar de passagem num dos caminhos de Santiago de Compostela,
se pode ainda acrescentar, neste comprimido cartão de apresentação, que 50 por
cento da sua população tem menos de 25 anos, que mais de 20 por cento das suas
habitações são consideradas sociais, que, ainda por curiosidade, nela existem
oito campos de futebol, 12 campos de ténis, três enormes gimnodesportivos,
diversos pólos universitários (com 2400 alunos), creches e lares para a 3ª
idade, etc., etc. etc.
Tendo
a comitiva tavaredense partido poucos minutos antes da uma hora (da noite,
claro) do dia 10, e após uma viagem de cerca de 1200 quilómetros, quase sempre
atormentada pela irritante chuva, chegaria a Gradignn ao fim da tarde, à hora
de se instalar no CREPS (um dos maiores centros de estágio desportivos da
Europa), jantar e “xixi-cama”, sem que antes muitos procurassem telefonar para
saber o resultado do Benfica-Boavista...
Toda
a embaixada havia sido recebida por Pierre Caune e Yves del Perugia, os “homens
da Câmara” que durante toda a nossa estada representaram a cidade e fizeram as
honras da casa com a maior eficiência, enquanto que a Câmara da Figueira esteve
presente pelo vereador dr. Licínio Amaral.
Sexta-feira,
após um desportivo e racional pequeno almoço, começou no extraordinário Teatro
das Quatro estações a montagem da cena para a “Tá Mar”.
Entretanto,
o nosso Jornal teve privilégios, e pode passar a manhã deambulando pelos vários
serviços da Câmara, na companhia de Daniel Costa, um francês (português)
responsável (em grande parte) pela geminação, e que em Gradignan, na sua
máquina administrativa tem posição de bastante importância, concretamente no
departamento informativo.
Após
o almoço que realizámos no “Hotel de Ville”, parte da delegação figueirense, na
qual pontuavam os presidentes da Assembleia de Freguesia e da Junta de Tavarede
bem como a drª Ana Maria, responsável do teatro na SIT, foi recebida pelo
presidente da Câmara, em sessão solene de boas vindas.
Cerimónia
protocolar, mas em família, durante a qual se procederam à troca não apenas de
cordiais mensagens de “reforço geminatório”, mas também de lembranças, sendo
igualmente “O Figueirense” distinguido com a Medalha de Gradignan, uma
imerecida honraria.
Entretanto,
enquanto uns iam montando a “Tá Mar”, uma outra equipa de artistas, isto é, a
Celeste, a São, e a Augusta, capitaneadas pelo sr. Carvalheiro, trabalhavam
gostosamente no que seria o ponto alto da noite: o jantar que Tavarede ofereceu
aos amigos franceses, concretizado num divinal bacalhau à Lagareiro. Cremos que
só a água era francesa, pois tudo fora levado de Portugal, incluindo os vinhos
servidos, antes, durante e depois.
Sucesso
gastronómico (e social) ao qual não faltaria o nosso tradicional arroz doce, e
reforçado pelo “acto de variedades” que encerraria a noite de amizade. Um bem
ensaiado grupo – vozes e instrumentos – deu a conhecer um conjunto de canções
populares portuguesas, daquelas julgadas mais significativas, ao mesmo tempo
que os músicos do mestre João Mendes (imparável de dinamismo), atroavam os ares
por tudo onde era sítio com a nossa Marcha do Vapor, sempre aplaudida e por
todos nós cantada.
E
para um culminar de sarau em beleza, o Vítor Costa, o António Simões (parabéns,
presidente), o António Barbosa, a Augusta Duarte, o Pedro Antunes, a Celeste
Fonseca, e o António Paz encheram o Prieuné de Cayac de portuguesismo fadista.
No
sábado continuou-se a lutar contra a chuva, mas que na parte da manhã fez
tréguas com Tavarede, o que permitiu que todos – cinquenta e dois – se
integrassem numa musicalíssima arruada, bem ao jeito nacional, que percorreu,
com polícia a abrir caminho, as artérias principais e mais movimentadas da
“cidade verde”.
Era
a manifestação de rua que levava os “gradignadenses” a inquirir do que se
passava... e a baterem palmas.
Claro
que não faltaram as bandeiras nacional e figueirense... a Marcha do vapor!
E
só na tarde de sábado houve ocasião para pensar nos francos que “asfixiavam”
nas carteiras. Após um passeio por Bordéus, sempre a andar (no autocarro,
claro), houve a possibilidade de visitar Arcachon, terra de iates, de Casino e
de muitas (e caras) lojas, o que proporcionou o bater de asas dos frangos,
digo, francos, transformados em “souvenires”.
A
presença de Tavarede e dos seus amadores aproximava-se não apenas do fim, mas
igualmente do seu momento mais elevado: nessa noite houve Teatro, na fabulosa
sala das Quatro estações, uma maravilha da técnica na construção de teatros!
Dizem
os entendidos que foi uma das mais conseguidas representações das várias já
efectuadas da “Tá Mar”, pela SIT e que mereceu os fartos aplausos dos
assistentes no anfiteatro. Em nome da verdade se deve dizer que não eram
muitos. Tavarede, nessa noite, teve sérios inimigos: a televisão final da Taça
de França, com a equipa do português Artur Jorge; a impiedosa chuvada que
durante horas se manteve; um jantar de portugueses da zona, que comemorava o 10
de Junho e ainda uma festa que a uma centena de metros Gradignan vivia.
Mas
Tavarede e os seus amadores cumpriram com toda a dignidade a missão que haviam
aceitado. O nome da Figueira da Foz, os propósitos da geminação, a arte dos
amadores – teatrais, musicais, gastronómicos,--- - que de Tavarede, da sua
freguesia, levaram a Gradignan uma mensagem de amizade, --- tudo, tudo foi
cumprido com a qualidade, dedicação, muito figueirentismo, espírito de
sacrifício, por um punhado de gente que bem merece o prémio de Divulgação do
Nome da Figueira da Foz.
Parabéns,
amadores de Tavarede.
Uma felicitação final para a Junta de
Freguesia de Tavarede, (à qual “O Figueirense” agradece as atenções recebidas)
particularmente dirigidas ao seu presidente, António Simões, o grande e
abnegado dinamizador deste acto cultural.
No ano de 1994, por ocasião de mais um
aniversário, foi inaugurado o pavilhão desportivo da Sociedade. E masi uma
festa interessante, e que se pode integrar no associativismo local, ocorreu em
Março de 1994, por ocasião dos festejos comemorativos dos 100 anos de vida da
antiga amadora teatral Helena Figueiredo Medina. Se é certo que Tavarede nos tem habituado, desde sempre, ao chamado
direito à diferença, não podemos, contudo, deixar de nos regozijarmos, uma vez
mais, com a forte participação que os tavaredenses desenvolveram, no passado
dia 23, na homenagem prestada a D. Helena de Figueiredo Medina, no dia em que
comemorava 100 nos de vida.
Nascida
há um século, D. Helena Figueiredo Medina ainda hoje cultiva uma alegria de
viver não usual naquela idade, sentimento que tão bem exprime nas canções – de
outros tempos, certamente – que admiravelmente canta, embora as sequelas de 100
anos de vida se façam logicamente sentir nos longos períodos de quietude,
durante os quais, talvez mentalmente deambule por um passado difícil, pelo
historial de uma mulher que quando rapariga muito teve de lutar para sobreviver
e apoiar a família.
No
começo da noite, D. Helena recebeu em casa de sua filha, com a qual há longo
tempo mora, a visita de largas dezenas de tavaredenses que, para além de
flores, de muitas flores lhe patentearam estima, admiração, respeito e amor.
Recordamos
que o presidente da Junta, emocionado, lhe entregou as suas flores e o seu
abraço, as flores de Tavarede, o abraço de Tavarede, o mesmo tendo feito a drª
Ilda Manuela, em representação da SIT.
Talvez
que D. Helena não se tenha apercebido do porquê de tanta gente. Cremos bem que
não. Mas que os seus olhos adquiriram mais brilho e a sua voz mais alma, disso
ninguém duvidou.
E
as suas canções, mesmo aquela mais apimentada de que tanto parece gostar, ecoou
de forma diferente no coração dos que a escutaram.
Como
significativo foi o ouvir-se a Tuna de Tavarede, agrupamento musical criado
pelo saudoso José Medina, marido de D. Helena, e um dos músicos mais
prestigiados que a “capital da cultura concelhia” conheceu.
Parabéns
aos “velhos” tunos de Tavarede.
Depois
da visita de cumprimentos decorreu no Salão de Teatro da Sociedade de Instrução
Tavaredense homenagem a D. Helena,
embora sem a sua presença.
E
pelo palco tivemos uma agradável representação de “Os Amores do Coronel”, peça
que marcou, em 1914, em 22 de Março, a estreia de Helena Medina como amadora
(distinta) teatral, no papel de Rosina, uma camponesa irrequieta e apaixonada.
Uma
palavra de aplauso para a espantosa actuação do coronel, isto é, de Rogério
Neves. “Um espanto”, como diria Jô Soares.
E
com uma casa praticamente cheia, ainda admirámos um vídeo (trabalho do dr. Rui
Moura) que nos contou muito do passado e do presente da centenária Helena
Medina.
Por
fim, numa terceira parte, tivemos pequenos quadros de algumas peças nas quais
D. Helena Medina actuou, quando jovem.
Se
os parabéns vão inteirinhos para a Mulher e para a Amadora Teatral chamada
Helena Figueiredo Medina, eles terão de ser igualmente endereçados a Tavarede e
muito especialmente à Sociedade de Instrução Tavaredense.
É o tal direito à diferença...
Também
no dia 1 de Maio desse ano, o Grupo
Desportivo e Recreativo da Chã, a dois passos da Figueira e na freguesia de
Tavarede, comemorou o seu décimo oitavo ano de vida, melhor, de muita vida, bem
patente no que da sua sede se construiu já, é visivel nas actividades que tem
desenvolvido, nas quais – qualmenina bonita – toma lugar de honra o Rancho
Estrelinhas da Chã.
Sem comentários:
Enviar um comentário