sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete - 115

         No ano seguinte, uma inovação surgiu no programa comemorativo do 88º aniversário. A Sociedade de Instrução Tavaredense realizou, no passado domingo, 12, uma ''Estafeta de Teatro" com partida do Teatro Gil Vicente em Coimbra, e chegada à terra do limonete.
O percurso foi feito a pé por muitas dezenas de amadores, que ao longo dos anos têm passado pelo grupo cénico de Tavarede, e terminou com uma festa-convívio no pavilhão daquela colectividade.
No trajecto, os amadores de Tavarede evocaram, simbolicamente, a grande actriz que foi Ester de Carvalho, em Montemor-o-Velho, e o actor Dias, em Maiorca.
Esta iniciativa fez parte do programa comemorativo do 88° aniversário da SIT, que teve no dia 11 a representação da peça “Os Anjos e o Sangue”, pelo Teatro Experimental de Mortágua.
No próximo dia 18 (sábado) o grupo cénico do GR Vilaverdense, leva à cena a revista "Badalando e Rindo".
No dia 19, pelas 16,30 horas, haverá concerto pela Filarmónica da Sociedade Artística e Musical Carvalhense (Carvalhais de Lavos) e actuação do Rancho Etnográfico do CR Cultural Carvalhense.
No dia 25, às 21,45 horas, o grupo cénico da SIT representa a comédia em 5 actos, original de Molière, "O Avarento".
E no dia 26, fecho do programa, haverá: às 8 horas, alvorada; às 17 horas, sessão solene e posse aos novos corpos gerentes.

         O avarento foi a peça escolhida para a comemoração do Dia Mundial do Teatro, de 1992. Tavarede, capital do nosso teatro amador concelhio, não poderia, como sucedeu em tantas localidades, deixar de assinalar o Dia Mundial do Teatro, que se comemorou no passado dia 27 de Março.
         É que se Tavarede tem tradições teatrais como ninguém, a verdade é que todo um Passado glorioso e um Presente não menos digno aumentou as responsabilidades da Sociedade de Instrução Tavaredense.
         Assim o entenderam. E muito bem, os seus actuais dirigentes, fazendo subir ao palco, na passada sexta-feira, um senhor chamado Molière, um homem que a todos deu o privilégio da alegria, traduzida e provocada pela magia da arte teatral.
         E não resistimos a transcrever afirmações de Mestre José Ribeiro, em carta a um amigo, a respeito deste autor universal: “Pois o Molière é um bom amigo. A graça com que ele se ri! A ironia com que ele critica! A profundidade do seu estudo da sociedade do seu tempo! Tenho rido com ele. E tenho pensado”.
         E estamos certos que com Molière riram os muitos assistentes que na sede da SIT quase, quase enchiam o salão de espectáculos, numa noite em que o ingresso era livre, tal como o riso que os amadores de Tavarede souberam extrair de um texto, a que somaram a postura natural própria, ou só própria, daqueles que sentem Molière.

         Mas Molière não faz apenas rir (o que já era suficientemente saudável), mas também provoca a reflexão. A reflexão sobre acto de viver, nas suas mais contrastantes situações, o repensar de atitudes no diálogo quotidiano que o Homem trava com o Homem.

          E “O Avarento”, peça em 5 actos, é (pode ser) o espelhar do que antes afirmámos, e embora ela decorra no século XVII, nem por isso o dia a dia... dos nossos dias evita o encontrar de posições similares. É tudo uma questão imaginativa.
         Antes da representação subiu ao palco o Dr. Pedrosa Russo, presidente do Lions, um clube de serviço que tanto tem feito, com as suas Jornadas de Teatro Amador, para o agarrar do Teatro. Com ele a Drª Ana Maria Caetano, ilustre e dedicada continuadora da linha teatral da SIT.
         Ambos falaram de Teatro, Teatro que é esperança, que é sonho, que é mentira, que é necessidade; Teatro que desperta a solidariedade, que confere dignidade  e combate ao racismo.
         Teatro que também é um modo de estar na vida.
         Teatro de que Coimbra vai ser capital, mas que bom seria, foi afirmado, não esquecer o restante distrito, não esquecer, acrescentamos nós. Tavarede.

         Na sessão solene comemorativa do 81º aniversário, o Grupo também recordou a prestou homenagem a um outro tavaredense, que havia prestado grande dedicação e colaboração à colectividade. Desde o passado dia 26 de Julho que o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense tem vindo a comemorar o seu 81º aniversário, tendo, desde aquela data, concretizado várias iniciativas que passaram, por exemplo, de um concurso de pesca e um rally paper, hoje tão em uso.
         Mas dentro do programa comemorativo julgamos que o passado domingo terá vivido o momento mais nobre e de maior significado, ultrapassando bem o âmbito do Clube, para se alargar a toda a freguesia. Focamos particularmente a sessão solene realizada na moderna colectividade e durante a qual antigos elementos da prestigiada e saudosa orquestra Lúcia-Lima (os menos novos bem se lembram dela), prestaram homenagem à memória de José Medina, nos 50 anos da fundação daquele conjunto musical.
         A reunião foi presidida pelo vereador Carlos Gonçalves e em palco tomaram lugar, além do presidente da Junta de Freguesia de Tavarede e do Padre Matos, vários outros convidados.
         Executado o hino da colectividade e lido o expediente, o presidente do Grupo entregou lembranças e placas a vários amigos e filiados da associação, recebendo diplomas de sócios honorários José Joaquim Soares, António Maurício e Joaquim Gaspar.
         Como é normal nestas sessões de aniversário várias foram as pessoas convidadas a usar da palavra, não tendo esta fugido à regra.
         Recordamos Sérgio Gouveia, da Grão a Grão, Fernando Serra, em nome das colectividades presentes, Albarino Maia, de “O Figueirense”, o Padre Matos, sacerdote da freguesia... até que a intervenção emocionada de António Simões, presidente da Junta, se entrou no momento supremo da homenagem.
         Depois de reafirmar a sua confiança no futuro do Grupo, saudou os novos dirigentes, lembrando que o próximo grande passo irá ser o alargamento da sede, tendo agradecido a ajuda recebida da Câmara.
         Após oferecer a sua colaboração como presidente da Junta, teve palavras simpáticas para com os muitos músicos presentes que “voluntariamente estão a colaborar”.
         Depois António Simões Baltazar evocou a Tuna e o Lúcia-Lima Jazz, ambos fundados por Mestre José Nunes Medina, dando de ambos os agrupamentos uma preciosa imagem e do que representaram para Tavarede na sua vida cultural durante algumas dezenas de anos.
         Uma filha de José Medina foi então convidada a descerrar uma fotografia do homenageado, cerimónia que terá levado lágrimas aos olhos de muitos dos mais velhos, em especial daqueles que conviveram com Mestre José Medina.
         Em nome da família Medina agradeceu um sobrinho de José Medina que lembrou um pouco a Tavarede do seu “tempo” e a sua intensa vida cultural, na qual seu tio desempenhou uma acção de relevo.
         A sessão solene terminou com a feliz intervenção do vereador Carlos Gonçalves que após se congratular com os vários actos vividos naquela tarde, colocou à assembleia alguns pontos de reflexão sobre o futuro do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, prometendo o nunca negado apoio camarário.

         Novas comemorações do Dia Mundial do Teatro. O grupo tavaredense esteve presente. E Tavarede não esqueceu que 27 de Março é o Dia Mundial do Teatro, efeméride que no nosso concelho, e ao que até neste momento sabemos, apenas foi assinalada, com uma representação, na catedral do Teatro Amador, vulgo Sociedade de Instrução Tavaredense.
         Mas a primeira nota agradável desta noite de Teatro talvez se possa situar na feliz circunstância da sala da SIT haver esgotado a sua capacidade de acolhimento, com alguns dos espectadores, de pé, nos corredores laterais da plateia, numa demonstração de que o Teatro tavaredense continua bem vivo, de que José Ribeiro também foi mestre na arte de cultivar continuadores, como confirmado ficou pela qualidade de encenação e representação da peça apresentada.
         Mas antes que o pano subisse, a presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense, drª Ilda Manuela Simões, surgiu em palco para explicar a razão daquela noite de Teatro, dedicada acima de tudo aos amadores dos diversos grupos cénicos do concelho, que haviam aceite o convite para estarem presentes.
         A drª Ilda Manuela relembrou também João José da Costa, um presidente da Câmara (1862/1863 e 1864/65) que havia procedido à remodelação da Casa do Terreiro (local onde nos encontramos, disse), fazendo dela uma sala para Teatro.
         Mas hoje a SIT, embora lutando com dificuldades naturalmente económicas (e daí o seu apelo à Câmara e à Secretaria de Estado da Cultura) continua a representar, pois tem gente, quer “não visível”, que para além da cena tudo executa para que aconteça Teatro, quer gente que no palco “dá a cara”, para posteriormente chamar Jorge Monteiro de Sousa, um homem que faz mexer os cenários desde há longos anos, e João Medina, um amador que há 45 anos serve o Teatro.
         Ambos foram homenageados, tanto pela SIT, como pela assistência que lhes rendeu fortes aplausos. Eles simbolizam bem o espírito do Teatro Amador Tavaredense. 
         Contudo os momentos altos deste serão cultural na Sociedade de Instrução Tavaredense não se quedaram por aqui, antes que “Tamar” pisasse as tábuas.
         A drª Ana Maria, responsável pelas actividades cénicas da SIT, leu a mensagem, momentos antes recebida via fax (?!), referente ao Dia Mundial do Teatro.
         E ao proscénio seria ainda chamado o dr. António Gomes Marques, da Secretaria de Estado da Cultura, um homem a Tavarede ligado por elos afectivos e familiares, e de Teatro desde há muito amador.
         Com arte no gesto e com dom no lançar da palavra, o orador ofereceu à atenta plateia uma ponderada e pedagógica motivação para que sobre o próprio Teatro se reflectisse, advogando com alma e com razão um movimento que leve a que o Teatro seja uma realidade na Escola.
         E se, como transcreveu, “para fazer Teatro basta a matéria humana”, à Sociedade de Instrução Tavaredense ainda falta para continuar a pontuar como santuário concelhio (só concelhio?) do Teatro, dado que “a matéria humana”, muita dela novata nestas andanças, se definiu, na peça de Alfredo Cortez, como de primeira água, digna continuadora da escola de José Ribeiro.

         “Tamar” é a representação que a SIT vai levar às Jornadas de Teatro Amador; “Tamar” é a peça que o público concelhio amador do Teatro não pode deixar de aplaudir, caso não queira cometer um pecado cultural.

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