Certamente que Alves Redol, o escritor
que tirava da “tragédia de vida” o enredo para as suas obras, se reveria na
representação memorável de João Medina, o Pai que, tiranizado pela revolta duma
prepotência cometida sobre os bens familiares, transportou para a sua nova
família o estigma dessa afronta onde a esposa (outro excepcional desempenho de
Ilda Simões) e os filhos não passavam de simples peças daquele xadrez de
sobrevivência que nem a iminência de mortes fazia vergar.
Com João José Silva e António Silva a
incarnarem os papéis de filhos na oposição à visão doentia de pseudo-dignidade
do pai, activamente, o primeiro, ao optar pelo “salto” à forja e mais
passivamente, o segundo, ao resignar-se ao jugo da dureza do trabalho e do
tratamento que já matara o irmão Miguel (representado com segurança por Miguel
Lontro), também a Mãe soube mostrar quanto vale a razão e o direito ao defender
o filho mais novo (promissora estreia de Pedro Louro) das garras daquela “forja
assassina” para onde o pai o empurrava em detrimento da Escola.
Com Manuela Mendes (vizinha) a mostrar
naturalidade e a Morte (Rosa Paz) a desempenhar “condignamente” o papel de
diabo, não há dúvida que merece o maior realce o trabalho de encenação (Ilda
Simões) sem esquecer a quota-parte que tiveram no brilho do espectáculo José
Maltez e Jorge Monteiro Sousa (montagem de cenários), Nuno Pinto e José Miguel
Lontro (luz e som), Otília Cordeiro (ponto), João Pedro Monteiro (contra-regra)
e o coro (Alice Mendes, Susana Neves, Cristina Almeida e Vanda Oliveira).
“Cátedra” de tão grande lição, aquele
“palco da vida” passou a mensagem esperançosa de Alves Redol na medida em que,
ao exaltar com tanta realidade o dom da vida, não deixou de realçar o peso dum
ambiente familiar onde o diálogo aberto constitui obstáculo à prepotência doentia
de “forjas” humanas, mensagem que humedeceu os olhos e contraiu corações.
Fazer calar tantas vocações seria um
atentado ao nome prestigiado daquela casa, uma afronta à memória de José da
Silva Ribeiro, um crime de lesa Cultura.
Que ninguém deixe fechar “aquela forja”
do nosso Teatro Amador!
Havia uma velha tradição na nossa terra
quer caíra no esquecimento. Um grupo de amadores teatrais da SIT resolveu, em
boa hora, fazê-la reviver. Preservando
uma tradição que se perde no tempo, Tavarede fez reviver, no último sábado,
essa encenação pública de sabor satírico-popular que é a “Serra a Velha”.
Iniciada por “sinistro” cortejo sob o
comando do Juiz seguido de luzido (muitas tochas) séquito a que a musica
fúnebre e muitos embuçados emprestavam um ambiente pesado através das ruas que
levavam da SIT às ruínas do Paço, aí teve lugar a “prisão da Velha Malvada”
que, após sumário exame (de grande comicidade brejeira), foi conduzida a
tribunal (palco do Teatro da SIT).
Ali, numa representação espectacular, a
Velha Ana Castanha Pilada fez delirar a assistência com um diálogo de excelente
interpretação cómico-satírica em defesa da sua “honra” ameaçada e condenada.
Seguiu-se a apoteose da realização:
Leitura do testamento da malvada em versos (repletos de humor), que
contemplavam quase todos os habitantes de Tavarede, momento marcado por
prolongadas e sonoras risadas que atingiram o rubro no acto da serração da ré,
sentença para a sua “vida malvada”
Mais uma tradição reposta com grande
sabor popular e elevado nível de execução, razões mais que suficientes para um
maior interesse das pessoas de fora de Tavarede.
As
nossas palmas para todos os que continuam a apostar na preservação das
tradições, e para a Sociedade de Instrução Tavaredense, responsável pela iniciativa.
Em
Maio de 1998, a Sociedade de Instrução recebeu a visita do então ministro da
Cultura. Manuel Maria Carrilho e comitiva foram recebidos pelos
acordes da Tuna de Tavarede. Muitos populares associaram-se festivamente à
visita do Ministro da Cultura e do Governador Civil dr. Vítor Baptista,
acompanhando-os num demorado contacto com a Sociedade de Instrução Tavaredense.
Mereceu atenção a visita à exposição de cenários e adereços.
No
palco, uma lenda do Teatro Amador: o actor da SIT, João Medina, declamou um
texto de Mestre José da Silva Ribeiro alusivo ao estado de degradação do Paço
de Tavarede: “Triste sina a do Solar, que é hoje um mutilado”.
Manuel
Maria Carrilho, que durante 18 anos passou as férias de verão na Figueira da
Foz, conhece a riqueza humana das colectividades do concelho. Para a instalação
eléctrica concedeu 4.000 contos de subsídio (as obras orçam os 7.000 contos).
Miguel
Almeida, em representação da Edilidade, salientou que “é difícil apoiar cerca
de 122 colectividades” e pediu a ajuda do Ministério da Cultura. Simões
Baltazar lembrou que os vários executivos camarários não mostraram interesse em
resolver o problema do Paço de Tavarede e entregou ao ilustre visitante um
dossier completo sobre as soluções que poderão ser implementadas para o salvar
da ruína completa.
Manuel
Maria Carrilho prometeu estudar o caso e continuou a visita ouvindo atentamente
as explicações de Rosa Paz, que não se coibiu de manifestar o desejo da
colectividade de criar um museu de teatro para expor e guardar o precioso
espólio acumulado ao longo de décadas.
O Ministro
da Cultura foi contemplado com algumas lembranças sem esquecer peças de
artesanato da terra do limonete e esperamos que volte em breve com a solução
desejada para o Paço de Tavarede.
O segundo centenário do nascimento de
Almeida Garrett foi comemorado em Tavarede.
A Sociedade de Instrução Tavaredense (SIT), à semelhança do que tem feito com
outras figuras de relevo cultural, vai assinalar o bi-centenário do nascimento
de Almeida Garrett, um dos grandes vultos da literatura portuguesa, numa data
que será festejada pela SIT, e que se inicia com as festividades alusivas do
95º aniversário da colectividade, prolongando-se até ao 25 de Abril. Assim, são
três comemorações culturais numa festa só.
“Estas comemorações são para todo o
concelho, nomeadamente para as camadas jovens”, explicava aos jornalistas Rosa
Paz, presidente da direcção da SIT, quando apresentava a iniciativa que vai ter
o apoio do município figueirense e que visa, entre outras coisas, promover um
espectáculo cultural que inclua diversas facetas do escritor como dramaturgo,
pois Garrett é um escritor estudado nas nossas escolas e “devorado com
apetite”, dizia Ilda Simões.
Integrado nas festividades do
aniversário da SIT, nos dias 23 e 30 do corrente, vai ser apresentada a comédia
“O Festim do Baltazar”, que terá na segunda parte “História Cantada de
Tavarede”, uma peça que envolve cerca de 50 pessoas, ficando depois para Abril
o grande espectáculo cultural alusivo a Almeida Garrett que, como disse Ilda
Simões, é preciso “incentivar o gosto pelo teatro”. Mas os objectivos da
iniciativa passam também por desenvolver atitudes de preservação e animação da
cultura portuguesa; dar a conhecer a cultura teatral do concelho; desenvolver o
espírito crítico e conhecer alguns modos de vida, pensamento e história do
século XIX, contrapondo-os com os da actualidade.
Mas ainda segundo Ilda Simões, para
actuar nestes domínios, propõem-se realizar um espectáculo cultural que
contemple diferentes facetas do grande escritor, porque “não é inédito em
Tavarede comemorar-se datas marcantes da História da Cultura”, e por isso não
vão deixar de o fazer agora no bi-centenário do nascimento de Garrett até
porque, frisava a directora do grupo cénico da SIT, “Garrett é um grande vulto
da nossa literatura; porque somos uma população rica em actividade teatral;
porque há muitas crianças, jovens e até gente adulta que não conhece a obra de
Garrett” e porque, como dizia o próprio Garrett, “o teatro é um grande meio de
civilização, mas não prospera onde não o há”.
O grande espectáculo cultural vai
incluir excertos de algumas obras do homenageado, nomeadamente, “Folhas
Caídas”, “Romanceiro”, “Viagem à Minha Terra”, “O Arco de Sant’Ana” e “Frei
Luís de Sousa”, excertos da “Terra do Limonete”, de José da Silva Ribeiro, e
textos de Maria Clementina Reis Jorge da Silva e Ilda Manuela Simões.
Dado o interesse cultural do evento, o
grupo promotor da SIT vai ser recebido pela Câmara Municipal para acertar as
formas de apoio, nomeadamente levar o espectáculo às freguesias do concelho e
trazer as crianças das escolas à Sociedade de Instrução Tavaredense para verem
o teatro.
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