Iconografia e veneração
A sua representação iconográfica de longe
mais frequente é a de um jovem tonsurado envergando o hábito dos frades
franciscanos, segurando o Menino Jesus sobre um livro ou entre os braços, a quem
contempla com expressão terna, e tendo uma cruz, ou um ramo de açucenas, na
outra mão. Esses atributos podem ser substituídos por um saco de pão, que
distribui entre pobres ou idosos. É
considerado padroeiro dos amputados, dos animais, dos estéreis, dos barqueiros,
dos idosos, das grávidas, dos pescadores, agricultores, viajantes e
marinheiros; dos cavalos e burros; dos pobres e dos oprimidos; é padroeiro de
Portugal, e é invocado para achar-se coisas perdidas, para conceber-se filhos,
para evitar naufrágios, para conseguir casamento.
A devoção popular o colocou entre os santos
mais amados do Cristianismo, cercou-o de riquíssimo folclore e lhe atribui até os dias de hoje inúmeros
milagres e graças. Igrejas a ele consagradas se multiplicam pelo mundo, tem
vasta iconografia erudita e popular, a bibliografia devocional que ele inspira
é volumosa, e em sua homenagem uma quantidade incontável de pessoas recebeu o
nome António, além de inúmeras cidades, bairros e outros logradouros públicos,
empresas e mesmo produtos comerciais em todo o mundo também terem seu nome.
Na tradição lusófona Santo António está
acima de todos em prestígio. Sua veneração foi levada de Portugal para o
Brasil, onde enraizou rápido e também dominou o coração do povo. Era tanta a
familiaridade que o santo inspirava, que passou a ser uma espécie de
"propriedade privada" de todos. Como relatou Grillot de Givry,
"não há casa que o não venere no seu oratório e não satisfeita ainda com
isso a comum devoção dos fiéis, cada um quer ter só para si o seu Santo
António". Estava em toda parte: "nos nichos de pedra, pintado em
azulejos, a guardar as casas, em caixilhos de seda à cabeceira da cama a
vigiar-nos o sono, nos escapulários e bentinhos junto ao peito, a acautelar-nos
os passos, esculpido e pintado para preservar dos perigos, pintados nas caixas
de esmola, nos santuários e oratórios". Também era invocado pelos senhores
para recuperar escravos fugidos.
A mesma familiaridade criou práticas
esdrúxulas no culto popular. Se um pedido não era atendido, a imagem do santo
podia ser submetida a torturas e castigos. Deitavam-na de barriga para o chão e
punham-lhe uma pedra em cima; escondiam-na num poço escuro, retiravam-lhe o
Menino Jesus dos braços, ou arrancavam-lhe o resplendor. Acreditava-se que o
castigo acelerava a concessão da graça, e explicavam a violência dizendo que em
sua juventude o santo desejara morrer martirizado em nome da fé. Luminares do clero, como o padre Vieira, também de
certa forma reforçavam essas crenças. Num sermão disse:
"Não haveis de
pedir a Santo António como aos outros, nem como quem pede graça e favor, senão
como quem pede justiça. E assim haveis de pedir a Santo António: não só como a
quem tem por ofício deparar tudo o perdido e demandado como a quem deve e está
obrigado a o deparar. E senão dizei-me: por que atais e prendei esse santo,
quando parece que tarde em vos deparar o que lhe pedis? Porque deparar o pedido
em Santo António não só é graça, mas dívida. E assim como prendei a quem vos
não paga o que vos deve, assim o prendeis a ele. Eu não me atrevo nem a aprovar
esta violência, nem a condená-la de todo, pelo que tem de piedade".
É um dos santos honrados nas popularíssimas Festas Juninas e diversos costumes folclóricos estão
ligados a ele. A título de exemplo, no Brasil moças casadoiras retiram o Menino
Jesus das estátuas e só o devolvem quando arrumam casamento; uma prece
especial, os "responsos", são feitas para que ele ajude a encontrar
objetos perdidos; no dia de sua festa muitas igrejas distribuem pães
especialmente abençoados, os "pãezinhos de Santo António", que devem ser
guardados em uma lata de mantimentos para que não falte alimento na casa.
Ele teve inclusive uma brilhante carreira
militar póstuma. Inúmeras cidades da Espanha, Portugal e Brasil lhe conferiram
títulos militares, condecorações, insígnias e outras honrarias, iniciando-se o curioso
hábito quando o regente Dom Pedro ordenou em 1668
que ele fosse recrutado e assentasse praça como soldado raso no II Regimento de
Infantaria em Lagos, sendo
promovido sucessivamente a capitão e coronel. Com o posto de tenente-coronel,
sua imagem foi levada pelo XIX Regimento de Infantaria em Cascais à frente dos combates da Guerra
Peninsular, recebendo depois uma condecoração. D. João VI, após o feliz desembarque no Brasil em sua
fuga da invasão napoleónica, o nomeou sargento-mor, promovendo-o depois a
tenente-coronel. No Brasil foi onde recebeu mais títulos, recebendo inclusive
soldo em vários locais até depois de proclamada a República. Em Igarassu foi nomeado oficialmente Protetor da Câmara
de Vereadores.
Festividades - Portugal
Em Portugal, Santo António é muito venerado
na cidade de Lisboa e o seu dia, 13 de Junho, é feriado municipal.
As
festas em honra de Santo António começam logo na noite do dia 12. Todos os anos a
cidade organiza as marchas
populares, grande desfile alegórico que desce a Avenida da Liberdade (principal artéria da cidade), no qual
competem os diferentes bairros.
Um grande fogo de artifício costuma encerrar o desfile. Os rapazes
compram um manjerico (planta aromática) num pequeno vaso, para oferecer às
namoradas, as quais trazem bandeirinhas com uma quadra popular, por vezes
brejeira ou jocosa. A festa dura toda a noite e, um pouco por toda a cidade, há
arraiais populares, locais de animação engalanados onde se comem sardinhas
assadas na brasa, febras de porco (fêveras), caldo verde (uma sopa feita com couve galega, cortada
aos fiapos, o que lhe confere uma cor esverdeada) e se bebe vinho tinto. Ouve-se música
e dança-se até de madrugada, sobretudo no antigo e muito típico Bairro de Alfama.
Santo António é o santo
casamenteiro, por isso a Câmara Municipal de Lisboa costuma organizar, na Sé Patriarcal de Lisboa, o casamento de
jovens noivos de origem modesta, todos os anos no dia 13 de Junho. São
conhecidos por 'noivos de Santo António', recebem ofertas do município e também de diversas empresas, como forma
de auxiliar a nova família.
Igreja e Museu Antoniano em
Lisboa
Situados perto da Sé Patriarcal de Lisboa, o Museu e a Igreja Antoniana em Lisboa são o centro da devoção ao santo lisboeta,
em especial no dia que lhe é dedicado, 13 de Junho.
O Museu Antoniano é um museu monográfico
dedicado à vida e veneração do santo, exibindo, em exposição permanente,
objectos litúrgicos, gravuras, pinturas, cerâmicas e objectos de devoção que
evocam a vida e o culto ao santo.
O Museu fica anexo à Igreja, local onde, de
acordo com a tradição, nasceu o santo. Em conjunto, esses dois espaços
constituem um dos mais importantes locais de homenagem ao mesmo.
No ano de 1995 comemorou-se o 800.º aniversário do seu nascimento, com
grandes celebrações por toda a cidade de Lisboa. (Wikipédia)
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