terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Senhor do Areeiro 1

Vitor Medina







O Senhor dos Milagres

(Os 4 caminhos do Areeiro)




Pequenas histórias evocativas dos
Quatro Caminhos do Senhor do Areeiro






QUATRO CAMINHOS DO SENHOR DO ARIEIRO





         Uma das primeiras referências encontradas, na imprensa figueirense, sobre o lugar dos Quatro Caminhos do Senhor do Arieiro, surge numa descrição dos caminhos que conduzem à Figueira precedentes do norte do concelho e que passam junto, ou relativamente próximo da nossa terra, a propósito do projecto então apresentado para o traçado da futura estrada de Aveiro à Figueira da Foz.

         Em determinada altura diz-se “... duas ramificações desta serra – uma do ponto da povoação da Serra, prolongando-se pelos Condados para o sul, até chegar ao lugar do Senhor do Arieiro a 600 metros ao poente de Tavarede, onde termina limitando o horizonte dessa povoação por este lado...”. Um pouco mais à frente, continua: “... Um outro monte principia a elevar-se junto ao Senhor do Arieiro, continuando a ramificação da serra perdida naquele ponto. A partir dali, o monte continua por alguma distância e divide-se depois em três partes: uma segue para sudoeste, e é aquela em que assenta a nossa igreja matriz (S.- Julião); outra, paralela a esta, é a base da Rua da Lomba (actual Rua José da Silva Fonseca); a terceira, crescendo do Pinhal para sueste, assenta nela o Casal da Lapa, indo depois perder o nome junto dos estaleiros.

         A esta estrada, da Serra da Boa Viagem à Figueira da Foz, cruza, no chamado lugar do Senhor do Arieiro, com a velha estrada que vem de Caceira a Buarcos, passando pela Chã e por Tavarede, onde sempre foi considerada a principal rua. Era, portanto, um cruzamento de duas vias, como há tantos.

         Quando completei sete anos de idade, isto em 1942, comecei a percorrer diariamente o caminho entre minha casa, sita na rua Direita, um pouco abaixo do Largo do Paço, até aos Quatro Caminhos do Senhor do Arieiro, para frequentar a escola primária. Naquele tempo, diga-se desde já, aquela zona era totalmente diferente de hoje. A única coisa que se reconheceria seria o edifício da escola, embora já tenha sofrido algumas alterações.

         Entretanto, o local do cruzamento das estradas, já tinha sofrido algumas modificações, pois, havendo sido decidido transferir para ali a feira semanal de gado suíno que se realizava ao Pinhal das Águas, foi criado o espaço necessário para a mesma, conforme veremos mais adiante.

         Tentemos, agora, descrever o local. Partindo de Tavarede e até chegar ao referido cruzamento, do lado esquerdo ficava a Quinta do Paço, ao tempo pertencente a Marcelino Duarte Pinto, comerciante e talhante na Figueira da Foz, e à direita, depois da quinta de José Duarte e alguns terrenos de cultura, onde já haviam sido construidas três ou quatro casas, situava-se a escola primária, com um pouco de terreno anexo, em cunha, onde tínhamos o recreio. Àquele sítio também chamavam, e ainda o chamam, “Calvário”, certamente por ali ter havido um “nicho” com um “Senhor Crucificado” e uma capela. Àquele “nicho” e àquela imagem também davam o nome do Senhor do Arieiro e ali fizeram uma capelinha, como veremos.

         Passado o cruzamento da estrada vinda da Serra da Boa Viagem, havia, do lado direito, uma casa onde, no rés do chão e anexo, haviam estabelecido uma mercearia e taberna, um enorme arieiro, donde ainda extraiam o saibro, para fabricação dos adobes, utilizados na construção de paredes e muros, assim como no macadame para pavimentação das estradas e caminhos. Depois do arieiro e da casa havia um pinhal, onde se juntavam famílias da terra e da Figueira, normalmente no dia da “Merenda Grande”, bem como em certas tardes do verão quando havia festas populares em Tavarede e que aproveitavam a sombra e fresquidão do lugar para merendarem e descansarem um pouco. A seguir, e na direcção a Buarcos, ficava a Quinta da Borlateira e a Quinta da Calmada.

         Do lado oposto, ficavam as instalações da antiga cerâmica, já desactivada. Muitas eram as vezes que para ali íamos brincar e aproveitávamos para, dentro dos enormes fornos, procurar os pequenos triângulos de barro, que eram utilizados para a separação dos pratos durante a cozedura.

         De uma forma breve e talvez pouco esclarecedora, era assim o lugar dos Quatro Caminhos do Senhor do Arieiro. Irei tentar, a partir dos elementos de que disponho, contar a história deste local.





 















Sem comentários:

Enviar um comentário