Vitor Medina
O Senhor dos Milagres
(Os 4 caminhos
do Areeiro)
Pequenas
histórias evocativas dos
Quatro
Caminhos do Senhor do Areeiro
QUATRO CAMINHOS DO SENHOR DO ARIEIRO
Uma
das primeiras referências encontradas, na imprensa figueirense, sobre o lugar
dos Quatro Caminhos do Senhor do Arieiro, surge numa descrição dos caminhos que
conduzem à Figueira precedentes do norte do concelho e que passam junto, ou
relativamente próximo da nossa terra, a propósito do projecto então apresentado
para o traçado da futura estrada de Aveiro à Figueira da Foz.
Em
determinada altura diz-se “... duas ramificações desta serra – uma do ponto da
povoação da Serra, prolongando-se pelos Condados para o sul, até chegar ao
lugar do Senhor do Arieiro a 600 metros ao poente de Tavarede, onde termina
limitando o horizonte dessa povoação por este lado...”. Um pouco mais à frente,
continua: “... Um outro monte principia a elevar-se junto ao Senhor do Arieiro,
continuando a ramificação da serra perdida naquele ponto. A partir dali, o
monte continua por alguma distância e divide-se depois em três partes: uma
segue para sudoeste, e é aquela em que assenta a nossa igreja matriz (S.-
Julião); outra, paralela a esta, é a base da Rua da Lomba (actual Rua José da
Silva Fonseca); a terceira, crescendo do Pinhal para sueste, assenta nela o
Casal da Lapa, indo depois perder o nome junto dos estaleiros.
A
esta estrada, da Serra da Boa Viagem à Figueira da Foz, cruza, no chamado lugar
do Senhor do Arieiro, com a velha estrada que vem de Caceira a Buarcos,
passando pela Chã e por Tavarede, onde sempre foi considerada a principal rua.
Era, portanto, um cruzamento de duas vias, como há tantos.
Quando
completei sete anos de idade, isto em 1942, comecei a percorrer diariamente o
caminho entre minha casa, sita na rua Direita, um pouco abaixo do Largo do
Paço, até aos Quatro Caminhos do Senhor do Arieiro, para frequentar a escola
primária. Naquele tempo, diga-se desde já, aquela zona era totalmente diferente
de hoje. A única coisa que se reconheceria seria o edifício da escola, embora
já tenha sofrido algumas alterações.
Entretanto,
o local do cruzamento das estradas, já tinha sofrido algumas modificações,
pois, havendo sido decidido transferir para ali a feira semanal de gado suíno
que se realizava ao Pinhal das Águas, foi criado o espaço necessário para a
mesma, conforme veremos mais adiante.
Tentemos,
agora, descrever o local. Partindo de Tavarede e até chegar ao referido
cruzamento, do lado esquerdo ficava a Quinta do Paço, ao tempo pertencente a
Marcelino Duarte Pinto, comerciante e talhante na Figueira da Foz, e à direita,
depois da quinta de José Duarte e alguns terrenos de cultura, onde já haviam
sido construidas três ou quatro casas, situava-se a escola primária, com um
pouco de terreno anexo, em cunha, onde tínhamos o recreio. Àquele sítio também
chamavam, e ainda o chamam, “Calvário”, certamente por ali ter havido um
“nicho” com um “Senhor Crucificado” e uma capela. Àquele “nicho” e àquela
imagem também davam o nome do Senhor do Arieiro e ali fizeram uma capelinha,
como veremos.
Passado
o cruzamento da estrada vinda da Serra da Boa Viagem, havia, do lado direito,
uma casa onde, no rés do chão e anexo, haviam estabelecido uma mercearia e
taberna, um enorme arieiro, donde ainda extraiam o saibro, para fabricação dos
adobes, utilizados na construção de paredes e muros, assim como no macadame
para pavimentação das estradas e caminhos. Depois do arieiro e da casa havia um
pinhal, onde se juntavam famílias da terra e da Figueira, normalmente no dia da
“Merenda Grande”, bem como em certas tardes do verão quando havia festas
populares em Tavarede e que aproveitavam a sombra e fresquidão do lugar para
merendarem e descansarem um pouco. A seguir, e na direcção a Buarcos, ficava a
Quinta da Borlateira e a Quinta da Calmada.
Do
lado oposto, ficavam as instalações da antiga cerâmica, já desactivada. Muitas
eram as vezes que para ali íamos brincar e aproveitávamos para, dentro dos
enormes fornos, procurar os pequenos triângulos de barro, que eram utilizados
para a separação dos pratos durante a cozedura.
De
uma forma breve e talvez pouco esclarecedora, era assim o lugar dos Quatro
Caminhos do Senhor do Arieiro. Irei tentar, a partir dos elementos de que
disponho, contar a história deste local.
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