domingo, 25 de outubro de 2015

Senhor do Aeeiro . 3

         Será bom que este caso se deslinde por homens que prezam os interesses e haveres da sua terra, e que não querem deixar-se lograr por quem não tem escrúpulo em praticar actos tão melindrosos”.

         No dia seguinte (19 de Novembro de 1899) e no jornal “O Povo da Figueira”, surgiu uma nova notícia sobre o assunto. Vejamos:

         “Devido a várias pesquisas que tenho feito, e a informações que de fontes limpas tenho recebido, acabo de saber de mais um escândalo para não chamar dois crimes. Eil-os:
        
         Em tempos remotos, ouve um devoto nesta freguesia que mandou fazer uma capela no lugar do Arieiro (encruzilhada das estradas que vai da Figueira a Quiaios e de Tavarede a Buarcos). Este devoto mandou fazer um crucifixo para a dita capela, a que pôs o nome de – Senhor do Arieiro.
                  
         Esta imagem é dum trabalho admirável, em pedra, que na actualidade não era feito por 70$000 reis.
        
         Passado pouco tempo desta acção religiosa ser feita, o devoto morria não estando a capela perfeitamente acabada.
        
         Os herdeiros do falecido tomaram conta dos bens, entre eles a citada capela e a imagem que dentro dela estava.
        
         Nesse tempo era pároco desta freguesia, o padre Bernardo da Silva, filho desta terra. O padre Bernardo lembrou-se de a pedir aos novos donos, o que fez e do que foi bem sucedido.
        
         O crucífixo veio pois, em procissão do Arieiro para a nossa igreja onde muito tempo esteve exposta, sendo depois retirada com destino à capela do nosso cemitério, o que se não fez, por ainda não estar acabada.
        
         Há poucos dias fomos passear ao cemitério dessa cidade, e na casa dos depósitos deparamos com o nosso Senhor do Arieiro! Sabem os leitores quem o mandou para lá?
        
         Foi o nosso bom pároco Joaquim da Costa e Silva!!
        
         O facto repugnou-nos tanto, que fomos ter com o guarda do cemitério a perguntar-lhe como tinha ido para ali aquela imagem; dizendo-nos em resposta foi em troca do sino que estava nos antigos Paços do Concelho (na Praça Nova).
        
         Ora, o sino já cá está há muito mais dum ano. E a imagem está lá há poucos dias. Mas isto não basta.
        
         Com que autorização trocou o padre Silva a imagem pelo sino sem ao menos a Junta de paróquia ter sido consultada? E com que auctoridade desapareceu da nossa igreja a velha Senhora do Rosário, que agora está substituída por uma que custou a um devoto 120$000 reis no Porto?
        
         A primeira foi trocada por um sino que o povo sempre dispensou e dispensará.
        
         A outra foi… naturalmente trocada a farrapos?
        
         Isso não creio eu.
        
         Não comento estes factos, apenas chamo para eles a atenção dos meus patrícios e em especial dos que pugnam pelos bens da terra que lhes serviu de berço.
        
         Soma e segue”.

         Durante a missa conventual de domingo, 19, foi dito pelo pároco, Joaquim da Costa e Silva, presidente da Junta de Paróquia de Tavarede, “que da melhor vontade auxiliaria a comissão que nos dizem ir preparar-se aqui para acabar as obras da capela que está sendo edificada no cemitério desta povoação”. Depois, e referindo-se ao caso da imagem do Senhor do Arieiro, disse que “se efectivamente ela estava exposta no cemitério ocidental dessa cidade, fôra para lá por algum tempo, voltando para Tavarede logo que isso fosse exigido. E agora, visto que se vai tratar de acabar a capela do nosso cemitério, e que é para ali que o Senhor da Arieira está destinado, ele viria imediatamente da Figueira”.

         Acrescentou depois “o facto que o levara a dispensar para ali a referida imagem fôra apenas por saber que ela não era aqui necessária por enquanto e tanto mais por a ver desprezadíssima numa casa contígua à igreja paroquial. Como o Senhor volta para Tavarede, fica sanada esta questão e oxalá agora que a capela do cemitério se conclua”.

         E não encontrei nada mais nos jornais figueirenses, nenhuma alusão ao caso da imagem do Senhor Crucificado, também chamado Senhor do Arieiro ou Arieira.


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