O SENHOR DO
ARIEIRO
“...
recorda-nos uma outra (capela), que existiu,
também para o lado poente de Tavarede. Era situada no cruzamento do caminho
directo desta cidade aos Condados, e que daquele que vai de Tavarede a Buarcos,
próximo da quinta de Luís António de Sousa e a uns quatrocentos metros para o
lado do poente de Tavarede.
Existiu
sob a invocação do Senhor da Arieira
ou do Arieiro, naturalmente por ser
edificada em um lugar aonde o povo ia extrair areia ou saibro para construcção
de alvenarias. Em 186.. só existiam dela, no local, uns restos de alicerces e
algumas pedras aparelhadas, soltas. Mais nada.
Contava-se
na povoação que havia sido interdita e depois demolida em virtude dum
sacrilégio cometido: Um desvairado qualquer foi em uma noite pendurar um enxalavar de caranguejos sobre uma cruz
que lá existia, profanando assim aquele lugar sagrado, e daí a interdição.
O
povo de Tavarede atribuíu o sacrilégio a algum pescador de Buarcos.
Ao
certo nada sabemos desta narrativa, contentando-nos apenas da dicção da
tradição como era contada entre o povo das proximidades da capela”.
Antes
de continuarmos com a história do Senhor do Arieiro (preferimos esta forma à de
Arieira, mas é só uma questão nossa), também queremos referir que, respondendo
ao inquérito paroquial de 1721, o então pároco de Tavarede informa que “estava
antigamente um nicho com Senhor Crucificado, no fim da terra para a parte do
ocidente, que representava ser muito antigo; que hoje está fechado com porta e
com toda a decência; que tem obrado muitos milagres; e vai obrando – suando a
sua Santa Imagem e a coluna em que está posto, como se tem visto em certos
dias”.
Nas
“Memórias Paroquiais de 1758”, o cura Anacleto Pinto refere a ermida do “Senhor
dos Milagres ou Arieira”, contigua a Tavarede, mas fora da povoação.
Depreende-se
do exposto, que o nicho com a imagem do Senhor Crucificado foi transformado
numa pequena ermida onde estava devidamente resguardada e protegida, a qual,
depois do “sacrilégio” do “enxalavar”, foi demolida.
Quanto
à imagem, uma notícia de 1899, publicada na “Gazeta da Figueira”, diz o
seguinte: “Acabamos de saber que alguns paroquianos
desta freguesia se vão agregar em comissão para colher dos habitantes da mesma
freguesia donativos suficientes para o acabamento interior da capela do nosso
cemitério, mandada edificar pela junta de paróquia presidida pelo saudoso e
benemérito cidadão sr. João José da Costa.
Foi este malogrado cavalheiro quem teve
a louvável ideia de se mandar ali construir aquela capela, com o propósito de
nela ser colocada a veneranda imagem do Senhor da Arieira, e de servir também
para lá instalar o Santíssimo Sacramento e as imagens que se vêem na igreja,
quando por qualquer motivo isso fosse necessário.
Capela do cemitério actual, mandada
construir por João José da Costa, presidente da Junta de Paróquia, para lá se
colocar a imagem do Senhor do Arieiro
A comissão a que nos referimos vai
oficiar à junta de paróquia, a fim de esta conceder autorização para levar a
cabo os seus honrosos intentos, visto ela não ter até hoje, passados que são
uns poucos de anos depois da morte do iniciador da construção da capela, o sr.
João José da Costa, conseguido lançar nos seus orçamentos uma pequena verba
destinada a acabar tão útil obra, começada por um homem a quem se deviam acatar
e respeitar as intenções.
Honra
seja, portanto, àqueles que vão concluir a capela, e oxalá que todas as pessoas
desta freguesia contribuam para tal fim.
Agora
há uma coisa séria a resolver e de que a mesma comissão vai tratar, que é de
averiguar a forma como a imagem do Senhor da Arieira, dada a Tavarede pelos
proprietários da extinta capela daquele nome, foi ter à casa de depósito do
cemitério ocidental dessa cidade, sem que, segundo o que ouvimos, fosse
autorizado para o fazer qualquer dos membros da junta.
Eis
um assunto que aqui tem levantado grande celeuma, porque não só a imagem
representa para os paroquianos de Tavarede um grande valor, mas também porque
estava destinada a ocupar um lugar determinado por um homem cuja memória é
sempre invocada com todo o respeito.
E, francamente, também não admitimos que a junta de paróquia ou algum dos seus membros possa assim fazer, leviana e inconscientemente, oferta duma imagem daquelas, como se fôra uma coisa sem valor e que de direito não pertencesse à nossa freguesia, que é como quem diz aos tavaredenses.
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