sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 70


Como era habitual Mestre José Ribeiro fazer a apresentação das peças que levava à cena, foi com estranheza que, em 1984, antes da representação não tenha havido tal apresentação. O Mestre desta vez, apesar de ainda conservar todo o seu vigor, como o demonstrou a discursar na sessão solene, resolveu fazer a apresentação de Gil Vicente com um prólogo e quatro partes que preparou para o efeito. E foi desta forma inovadora, que José da Silva Ribeiro, depois de uma carreira teatral de quase oitenta anos, fez a última apresentação de um espectáculo ao povo da sua terra. Este motivo, leva-nos a aqui inserir a notícia, sobre este caso, publicada em ‘A Voz da Figueira’.

“A velha, prestimosa e consagrada Sociedade de Instrução Tavaredense, fundada em 15 de Janeiro de 1904, ali à ilharga da nossa terra, comemorou o seu 80º aniversário. Como sempre de forma tão adequada como simpática. Mas neste caso de maneira excepcionalmente brilhante, por o número em que figurou a costumada apresentação de uma escolhida peça teatral ser este ano constituído pela exibição da peça inédita em 1 prólogo e 4 partes, intitulada “Na Feira de Gil Vicente”, adaptação de mestre José da Silva Ribeiro e de homenagem e evocação da obra genial do fundador do Teatro Português.


‘Na Feira de Gil Vicente’

Foi, pode dizer-se, o brilhante corolário de uma inigualável actividade cultural, através do teatro, da colectividade aniversariante e também de uma acção ímpar, sob diversos aspectos, dessa grande figura de tavaredense, teatrólogo e democrata que é José da Silva Ribeiro. Só o que este nosso ilustre conterrâneo tem dado a conhecer ao povo do concelho sobre figuras e episódios da história nacional e de maneira particular e a merecer menção de relevo e justíssimo louvor a respeito de Tavarede e da Figueira e sua evolução através dos tempos, desde os mais remotos até à actualidade, não pode de maneira alguma ser resumido nas colunas de qualquer periódico. Mas isso de forma nenhuma deve impedir-nos de aqui deixar registado um superficial esboço do que tem sido há dezasseis lustros a vida da colectividade aniversariante e há mais de 65 anos a extraordinária, persistente, benemérita e incomparável actuação dentro dela da personalidade de José da Silva Ribeiro, servindo-a com a mais inexcedível abnegação e verdadeiro espírito de sacrifício sob todos os aspectos que é possível, desde os cargos directivos aos de autor teatral e “alma mater” da sua famosa secção dramática. Cuja fama largamente ultrapassou os limites do distrito, espalhando-se por importantes cidades e terras do país que visitou por várias vezes e sempre deixando significativamente assinalados a sua intervenção e invulgar brilho e mérito desta.

Para comprovar o que bastará, com certeza, registar certos factos que julgamos bastante elucidativos. A começar pelo de, após a brilhante carreira, com as suas múltiplas representações, nos vários palcos em que foram exibidas, das famosas peças “O Sonho do Cavador” e a “Cigarra e a Formiga”, das quais José da Silva Ribeiro foi o grande impulsionador e a que deu a mais operosa, destacada, importante e útil colaboração literária e teatral e depois de todo o grande esforço da sua montagem e encenação, ele jamais ter abandonado essa fase criadora de brilhante autor dramático. E, em virtude disso, ter escrito e feito representar esse belo rosário de inesquecíveis produções teatrais que começam em 1950 com “Chá de Limonete” (3 actos e 24 quadros) e continuam com “Terra do Limonete”, em 1961, “Camões e os Lusíadas” (1972), “Mesa Redonda” (1975), “Ontem, Hoje e Amanhã” (1979), “Ecos da Terra do Limonete” (1981), “Viagem na Nossa Terra (“Da folha de uma figueira à folha de uma videira”) (1982) e este ano “Na Feira de Gil Vicente”.


José da Silva Ribeiro
Uma das últimas fotografias suas

Uma destacada obra cultural a que não podem deixar ainda de associar-se, porém, coisas tão significativas como: uma famosa “Campanha Vicentina”, que levou a obra genial ao povo das nossas aldeias concelhias; as notáveis “Comemorações do Centenário de Garrett”, representando “Frei Luis de Sousa”, para além do nosso concelho, em Coimbra, Leiria, Tomar, Pombal, Alcobaça, Sintra, Soure, Marinha Grande e Condeixa; as comemorações do “Centenário de Marcelino Mesquita”, com a representação de “Peraltas e Sécias”; do “Centenário da Morte de D. João da Câmara”, levando à cena a sua famosa peça “Os Velhos” e do “V Centenário da Morte do Infante D. Henrique”, com a representação de “O Beijo do Infante”, do mesmo autor da peça anterior.

Para não deixar de fazer ainda referência à preciosa intervenção de José da Silva Ribeiro e da Sociedade de Instrução Tavaredense, no “IV Centenário de Shakespeare”, no “V Centenário do Nascimento de Gil Vicente” e “IV Centenário da Publicação dos Lusíadas”, no qual foi levado à cena o “Auto de El-Rei Seleuco” e uma evocação escrita propositadamente para o efeito.

O que tudo torna sumamente merecedora deste postal de efusivos parabéns a colectividade aniversariante e José da Silva Ribeiro, digno de todos os louvores que seja possível endereçar-lhe nesta ocasião festiva e bem merece pelos seus mais de 65 anos consecutivos de serviços ao teatro e à cultura, com a isenção, talento, amor e inteligência que os tornam excepcionais, como ainda pelas qualidades morais e cívicas que lhes emprestam adequada moldura e dão ainda maior relevo e projecção”.

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