domingo, 13 de dezembro de 2009

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 5

Em 1914 tem lugar um importante acontecimento na vida do novel Grupo Musical. “...o sr. Manuel da Silva Jordão, dos Carritos, cidadão de fortuna, ofereceu-lhe para sede a casa que pertencia ao sr. João Águas, na rua Direita, e a direcção do Grupo num impulso de vontade, ao receber tão valiosa oferta, meteu obras na casa e construiu um elegante teatro”. Esta casa ficava situada na rua principal, formando no seu todo o quarteirão que, actualmente, é ladeado: pelo nascente, com o Largo D. Maria Amália de Carvalho; pelo poente, com a rua D. Francisco de Mendanha; pelo norte, pela rua do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense; e pelo sul, pela rua A Voz da Justiça.

Em Junho iniciaram-se as obras de adaptação e mudaram a sua sede para ali, deixando a casa do Largo do Paço. Além das salas de apoio administrativo e de convívio, preocuparam-se, de imediato, com uma sala para instalação da aula de música e com a construção de um “teatrinho”. Em Novembro as obras iam bastante adiantadas e começaram os ensaios com as peças escolhidas para o espectáculo da inauguração da nova sede.

E no início de 1915 procedeu-se à festa. Aproveitaram para prestar justa homenagem ao seu dedicado sócio protector que, informo desde já, cedeu aquele edifício sem cobrar qualquer renda e participando, ainda, nos custos de adaptação à nova sede. Em “A Voz da Justiça” de 5 de Janeiro vem a notícia:
"Grupo Musical Tavaredense – Homenagem ao sr. Manuel da Silva Jordão
Aquele grupo musical de Tavarede vê dia a dia desenvolverem-se as suas prosperidades. Agora festejou com entusiasmo a inauguração do seu teatro, construido na rua Direita daquela povoação a expensas do abastado capitalista sr. Manuel da Silva Jordão, tendo para este fim realizado um espectáculo na noite de sábado para domingo último.
Segundo nos informam a enchente foi completa e o desempenho do programa agradou sobremaneira.
Antes da representação deste, procedeu-se à cerimónia da inauguração do retrato do sr. Manuel da Silva Jordão, generoso sócio protector do Grupo, a quem, em nome deste, o sr. dr. Manuel Gomes Cruz louvou o seu altruismo e agradeceu o apoio que ele está dando à novel Sociedade.
A orquestra do Grupo executou o seu hino e o público aplaudiu com muitas palmas a justa homenagem prestada ao sr. Manuel da Silva Jordão".


O programa compunha-se de “um excelente drama popular de grande interesse ainda não conhecido em Tavarede, denominado Cenas de Miséria, da comédia Malefício na Família, havendo ainda um espaço com alguns monólogos”.

Também a “Gazeta da Figueira” comentou a festa da inauguração. “Com a maior solenidade, realizou-se no último sábado, como estava marcado, o primeiro espectáculo na nova sede daquela casa de instrução musical e teatral, que decorreu animadissimo.
Pouco antes de se começar o espectáculo foi, pelo sr. dr. Manuel Gomes Cruz, proferido um discurso, que entusiasmou o público, e não só a este como também aos sócios do Grupo Musical.
Aquele senhor ao dizer, entre outras coisas, que o honravam com aquele progresso na sua terra, e não só a ele como a todos os seus conterraneos, foi, para a numerosa assistência, que o ouvia com o maior respeito, uma alegria, e pouco depois, agradecendo em nome de todos os sócios daquela colectividade ao seu grande benemérito, ao seu grande protector, sr. Manuel da Silva Jordão, foi-lhe inaugurado o seu retrato, tocando a orquestra o hino da Associação.
S. Exª., ao acabar o seu discurso, foi calorosamente aplaudido.
Seguiu-se depois o espectáculo que, digamos de justiça, decorreu sempre animado, andando os amadores como deviam:
No drama há a notar, além dos outros trabalhos, o de Maria Esteves, que pela primeira vez que entrou em cena fez o que devia.
O resto, tudo bem.
Tomou parte neste espectáculo o conhecido amador, sr. Alvaro Ferreira, de Coimbra, que agradou muito.
A sede achava-se lindamente ornamentada, ostentando, entre outros retratos, o do conhecido actor Almeida Cruz, filho de Tavarede.
Depois do espectáculo houve baile, durando até quase de manhã.
No outro dia, domingo, baile novamente, prolongando-se até depois da meia noite.
Enfim, foi uma festa digna de registo, que honra muito a pequenina aldeia de Tavarede.
Os nossos maiores desejos são, que em Tavarede se façam muitas acções, tão cheias de luz e progresso, como a de sábado último.
Parabéns aos sócios do Grupo Musical Tavaredense”.

E depois de entusiásticos bailes carnavalescos, no domingo gordo e terrça-feira de Carnaval, com prémios aos melhores mascarados, iniciaram os ensaios do “esplêndido drama em quatro actos O Poder do Ouro”, que foi apresentado, pela primeira vez, no dia 3 de Abril de 1915, domingo de Páscoa. Na sala de teatro “que é um dos melhores do concelho da Figueira” procedeu-se, nesta ocasião, à montagem de uma galeria que lhe deu muito mais valor.

Fotografias: 1 - O primeiro grupo musical da colectividade, que deu origem à formação da Tuna; 2 - Faustino Ferreira. amador que se destacou no grupo cénico da colectividade; 3 - O actor-cantor tavaredense António Almeida Cruz.

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