terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sociedade de Instrução Tavaredense - 9

Na época escolar de 1917/1918, houve problemas com o funcionamento da escola nocturna. As matrículas iniciaram-se em Outubro e logo se inscreveram 30 alunos, que começaram as aulas com grande entusiasmo. Mas a verdade é que, bastante mais cedo que o normal, a escola fechou as portas por falta de frequência dos alunos. “A culpa é das suas famílias, pois não se importam que os filhos vão ou não para a escola, onde recebem a instrução, a luz que de futuro os poderia tornar homens conscientes dos seus deveres de cidadãos”. Este desinteresse, certamente, terá sido devido à grave situação motivada pela guerra.
E no dia 25 de Julho de 1918, Tavarede, e, muito especialmente, a Sociedade de Instrução, sofreram um rude golpe. Inesperadamente faleceu Gentil da Silva Ribeiro. Já dissemos que ele havia sido um dos fundadores da Estudantina, tendo ingressado na Sociedade logo após a extinção daquela. Bom amador teatral, dedicou-se mais à música. Nesta colectividade, era ele quem organizava, ensaiava e dirigia as orquestras que abrilhantavam os espectáculos. Também foi de sua autoria o hino da SIT.


Neste ano, a actividade teatral esteve parada. E a escola nocturna, que havia encerrado a época muito mais cedo, também só abriu as suas aulas a 2 de Dezembro. Uma epidemia que grassou em Tavarede “não consentiu que mais cedo continuasse a sua obra de educação e de ensino”. E em Abril de 1919, surgiu esta notícia na imprensa figueirense: “Está sendo muito reparado o ostracismo a que, por parte da respectiva direcção, foi votada esta simpática e útil colectividade local, cuja aula nocturna não tem funcionado regularmente e cujo grupo teatral pôs de parte a acção que dantes empregava a passar bem as horas de ócio. Temos o maior desgosto em registar este facto, mas a verdade é que o fazemos com o intuito de despertar aqueles que deviam dar os bons exemplos, em tudo contribuindo para o progresso da prestimosa colectividade, que não pode nem deve morrer às mãos dos próprios dirigentes”.

Foram uns tempos bastante difíceis. A guerra já acabara, é certo. Os soldados tavaredenses iam regressando à terra. Mas não era fácil retomar a normalidade. Em Abril, foi recebido um telegrama de José Ribeiro, anunciando o seu embarque para o tão desejado regresso. E, de imediato, se renovou a actividade na Associação. A 24 de Maio, e em homenagem ao seu ensaiador, chegado dias antes, o grupo cénico realizou um espectáculo, apresentando a comédia, em 2 actos, “Um servo perigoso” e as comédias, em 1 acto cada, “Cada doido...” e “Um julgamento no Samouco”.
Esta homenagem, no entanto, não teve o brilho pretendido e desejado. Dias antes, a 19, falecera Fradique Batista Loureiro, que havia sido um dos fundadores da Sociedade e seu primeiro presidente. Ainda não havia decorrido muito tempo sobre a data em que a colectividade lhe prestara homenagem, descerrando o seu retrato, o qual se encontra no salão. Este acontecimento e a saudade, ainda muito viva, de Gentil da Silva Ribeiro, forçosamente que ensombrariam uma festa que se desejaria bem alegre...


E tudo recomeçou. Nos princípios de Novembro, já funcionava a aula nocturna, com muita concorrência de alunos. Os ensaios da secção dramática decorriam com grande entusiasmo. E a abertura da nova época teatral teve lugar a 6 de Dezembro, com a reposição da opereta “Entre duas Avé-Marias”, agora com a parte musical a cargo de Manuel Martins, regente da Filarmónica Figueirense. Para o aniversário, em Janeiro de 1920, preparava-se a comédia, em 3 actos, “Nono: não desejarás”.
Voltava a normalidade. Noticiando o acontecimento, escreveu-se “... muito louváveis são os esforços tenazes dos rapazes que na Sociedade de Instrução procuram agora continuar a sua já importante obra de educação, arrancando ao vício da taberna os nossos trabalhadores e proporcionando-lhes na Associação, por intermédio da escola e do teatro, uma atmosfera sã de educação e de recreio”.

Fotos: 1 - Hino da Sociedade de Instrução Tavaredense (quadro oferecido pelo prof. António Simões; 2 - Fradique Loureiro Baptista, primeiro presidente da Direcção da SIT.

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