A imprensa refere que a opereta, ornada de 19 números de música, obteve grande sucesso e atraiu muita assistência. O crítico do jornal “Gazeta da Figueira”, depois de desenvolver o enredo da peça, escreveu: “Que dizer do desempenho? Quase nada. A peça é um bocado de vida rústica, cortada de tipos autênticos. Claro que não é opereta. Certo que não tem valor como teatro. Mas é um pretexto para encaixilhar em motivos populares meia dúzia de tipos caseiros das nossas aldeolas. E vai daí, os amadores de Tavarede ali achados como peixe na água, em coisinha suave e fácil, perfeitamente à altura dos seus créditos, lindamente se houveram em seu desempenho. Já de certa vez de lá vim arrepiado, aquando dum tal dramalhão de faca e alguidar que ali bispei. Agora não, agora satisfez-me aquilo, e sinceramente aqui os incito a novas proezas, com comédias ligeiras, operetas leves, teatro assim à altura dos seus merecimentos, coisas assim da igualha desta. Devo notar que a marcação de José Ribeiro mais uma vez vincou o valor deste moço inteligente e estudioso, que conseguiu distribuir regularmente as figuras, sem marcas monótonas e pesadas que vulgarmente se topam em pisos de amadores. Salientarei ainda a graça, a leveza, a frescura com que Helena de Figueiredo se incarnou em papel de aldeã. A vivacidade, a naturalidade de Francisco Carvalho no Zé Cochicho. E a superior interpretação de Broeiro, no D. Procópio. António Graça a meu contento se houve no tio André. E os outros, sem desprimor, igualmente me agradaram”.
José da Silva Ribeiro, segundo sargento do Regimento de Infantaria 28, foi integrado no batalhão expedicionário enviado para Moçambique. Na estação do caminho de ferro muitos foram os seus amigos que, no dia 6 de Abril de 1916, ali se encontraram para o abraçar e lhe desejar boa viagem e breve regresso. À despedida, disse ele em voz bem alta: “Meus amigos, é preciso que não esmoreçam. Levem a nossa Sociedade como até aqui temos levado, que eu vou cumprir o meu dever. Até à volta”.
Poucos dias antes, realizara-se na nossa terra a costumada “Festa da Árvore”. Durante o sarau, realizado no teatro da Sociedade, falaram diversos oradores, entre os quais José Ribeiro que “começou por felicitar as crianças pelo brilhantismo da sua festa e pelo entusiasmo com que nela colaboraram. Define o significado de cada frase da Portuguesa. Refere-se à entrada de Portugal na guerra, afirmando ser preciso que nela tomemos parte para manter a nossa honra, para que se não diga apenas que os portugueses foram heróis, mas que se prove que ainda o são. É preferível morrer com honra do que ser apodado de infames e cobardes. É militar e será dos primeiros a marchar para onde a Pátria reclamar os seus serviços. Quer que as crianças que ali vê apenas lhe lancem e aos seus camaradas, muitas flores, certos de que, quando regressarem, não carecerão já de mais flores, porque hão-de vir cobertos de louros de glória”.
Acrescentamos, apenas, que o sarau terminou “com a comédia-drama As Árvores, pelos meninos João e Aurélia Cascão e apoteose à Árvore”
A direcção da colectividade, embora com a actividade teatral muito reduzida, continua com o seu programa. “Ela procura abrir os olhos do espírito àqueles que frequentam a sua escola, que o mesmo é dizer que tem a aspiração de aqui formar cidadãos conscientes dos seus deveres e dos seus direitos”.
No dia 18 de Novembro desse ano, efectuaram um espectáculo em honra de José Ribeiro. Foram representadas umas comédias, houve uma cançoneta e foi dito um monólogo, tendo tudo obtido muitos aplausos. “No salão da Sociedade lá estavam os dois retratos, lindamente ornamentados. De José Ribeiro. Um foi tirado cá com o uniforme de 2º sargento de infantaria 28, e que, depois de José Ribeiro sair para África, fôra por esta Sociedade inaugurado em ponto grande. O outro teve José Ribeiro a gentileza de o enviar à sua Sociedade, com o uniforme que usa em África, e trazendo escritas, na frente e aos lados, palavras de fervoroso patriotismo e incitamento”.
Não temos nenhuma indicação de quem terá ensaiado e dirigido o espectáculo. E pelo Natal e Ano Novo, levaram à cena “O Presépio”. “Têm fama de interessantes aquelas exibições em Tavarede, e, certamente, não deixará o público de encher os dois teatros naquelas noites, pois, por mais duros que corram os tempos, não deixou ainda o povo de filosofar sobre o velho conceito de que... a vida são dois dias”.
Fotografias - José da Silva Ribeiro (a primeira encontra-se no Salão Nobre da SIT e a segunda apresenta José Ribeiro com a sua farda de sargento)
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