quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 50


As obras de ampliação e transformação do edifício da sede iniciaram-se, simbolicamente, no dia 28 de Maio de 1960. No final do espectáculo então realizado, no qual se fez a estreia de duas novas peças, “O Beijo do Infante” e “O Dia Seguinte”, todos os amadores, antigos e actuais, foram convidados a irem ao palco para, em despedida, pisarem as suas velhas tábuas pela última vez. “Sobre aquelas tábuas carunchosas, onde tantas e tantas horas de alegria e aborrecimentos imperecíveis eles passaram, assistiram ao arranque da primeira tábua, operação esta que foi executada pela categorizada e premiada amadora, srª D. Violinda Medina e Silva, e receber as entusiásticas saudações da numerosa assistência, que bem traduziam o seu reconhecimento pelos momentos de prazer que lhes haviam proporcionado”.
Esqª. - O Beijo do Infante


Dirtª - O Dia Seguinte



Enquanto esta singela cerimónia se realizava, “caíam sobre os amadores milhares de pétalas de flores”. E no dia imediato, durante um baile, a direcção procedeu a um leilão do camartelo que, pela meia noite, iria dar início às demolições. Coube à srª D. Conceição Ferreira Sotto-Maior a honra de dar a primeira martelada, pois foi ela quem ganhou esse direito naquele leilão.
Recordemos que, quando foi iniciado o arranque das velhas tábuas, a amadora Violinda Medina e Silva formulou o seguinte pedido, aos responsáveis: “Por favor, guardem umas tábuas, do proscénio, para irem comigo no meu caixão”. Foi-lhe feita a vontade. E algumas daquelas tábuas, onde o seu grande talento se manifestou em tantas e tantas representações, foram religiosamente guardadas e, cumprindo o seu desejo, acompanharam-na na sua derradeira viagem, no ano de 1982.
Com o decorrer das obras pararam os espectáculos na nossa terra. Mas, durante alguns meses, ainda prosseguiu a actividade do grupo cénico. Já haviam ido a Alcobaça e a Ourém. Seguiram-se, depois, deslocações a Torres Vedras, Amarante, Vila Real e, novamente, Vila Nova de Ourém. A propósito da deslocação a Amarante e Vila Real, uma jornada triunfante organizada pelo saudoso figueirense, Engenheiro António Maria Gravato e sua esposa, então residentes na primeira daquelas localidades, respigámos, das palavras proferidas à despedida: “... nós, aqui na Serra, orgulhamo-nos de possuir “águias”, mas lá para as bandas da Figueira da Foz, nos choupos e salgueiros do ribeiro da pitoresca aldeia de Tavarede, também se “criam” extraordinários “rouxinóis” que, pelas suas melodias e cantares, nos transportam, por momentos, às regiões do sonho”.
As obras caminharam com grande vontade. No entanto, o seu custo não tardou em ultrapassar as disponibilidades existentes. E assim, “entendeu a direcção, com perfeita concordância do director do grupo cénico, que seria grande erro dispor desde já de um excelente Teatro e não o utilizar, à espera que se concluissem, noutras dependências da sede, obras cuja realização a falta de recursos não permite encarar imediatamente. Reconhecida por todos a conveniência de o grupo cénico retomar, tão depressa quanto possível, a sua actividade, interrompida há um longo ano, resolveu-se pedir as vistorias à casa e à instalação eléctrica, que foram aprovadas. Assim, o teatro foi posto a funcionar, tendo-se dado o primeiro espectáculo no dia 16 de Dezembro de 1961, com a peça em 2 actos e 24 quadros “Terra do Limonete”.
É enorme a lista de entidades públicas e particulares, empresas e amigos da colectividade que, reconhecendo o merecimento da SIT, acorreram a prestar o seu generoso auxílio. Em materiais, oferecidos ou com preços mais reduzidos, mão de obra, transportes e dinheiro, imensas foram as ofertas. As associações congéneres do concelho e, até, algumas de fora do concelho, também contribuiram. Volumosa correspondência confirma o que referimos.
“A data de 16 de Dezembro de 1961 ficará assinalada nos anais da história da nossa querida terra, como marco imorredoiro. Em cerimónia simples, imposta pelas circunstâncias, retomou a sua actividade o grupo dramático da prestante associação. Lotação esgotada, contando-se entre a numerosa assistência figuras de relevo da distinta sociedade figueirense e muitos amigos de Tavarede, vindos das mais diversas localidades do País”

Na Terra do Limonete

Do êxito que foi a apresentação desta “Terra do Limonete”, não vamos referir nenhum comentário da imprensa. Preferimos transcrever a opinião de um “velho” amigo da colectividade, ilustre pedagogo e estudioso das “coisas” da nossa terra e da Figueira, que é o Professor Dr. José Pires de Azevedo, que assistiu, tempos depois, a uma récita e escreveu a Mestre José Ribeiro. “Dizer-lhe que gostámos, dizer só isso, positivamente não chega; mas também não estamos habilitados a fazer uma verdadeira crítica; até porque nos falta o tempo e assistimos a uma única exibição; e uma crítica requer estudo, meditação, revisão das cenas, coisas todas impossíveis para nós. Assim optamos por uma solução intermédia, apontando o que mais nos impressionou. Agradou-nos a sua “fantasia” salpicada de história; agradou-nos o carácter do mobiliário e encantaram-nos alguns cenários; agradaram-nos alguns números de lindo efeito coreográfico e a riqueza do guarda-roupa; agradaram-nos certos passos evocativos (por exemplo, as “velhas” do Garrett e o “palácio em ruínas”) e agradaram-nos os artistas (nunca vi melhor “Auto do Vaqueiro”, o melhor quadro, para mim); e alguns jogos de luz, alguma música e certos movimentos, em cena e fora de cena, igualmente nos agradaram. Mas nós fomos a Tavarede também para apreciar a “casa nova”. E é uma acolhedora salinha: a melhor actualmente existente na zona”.


Sessão solene da inauguração da nova sede (reconstrução)

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