sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 54


“Para Cada Um Sua Verdade”, “O Processo de Jesus” e “As Artimanhas de Scapino” foram três novas peças postas em cena. “Peças de altíssimo valor que muito prestigiaram o nosso grupo cénico, trazendo à nossa bela sala de espectáculos numeroso público, que foi pródigo em aplausos e elogios ao alto nível atingido pelas representações”.

Entretanto, e com a nova plateia, surgiu um problema novo. Sempre havia sido costume a colectividade realizar outras festas, como bailes. E se anteriormente resolveram o problema com a montagem de um estrado por sobre a plateia, essa medida deixou de ser praticável. Então, quando se realizavam bailes, as cadeiras eram desmontadas e recolhidas, de forma a deixar vazio o salão. Além de pouco prática, depressa este tirar e montar das cadeiras começou a causar prejuízos.

Ainda não haviam conseguido amortizar o empréstimo que havia sido pedido para as obras inauguradas em 1965, mas, de imediato, logo pensaram na construção de um pavilhão no campo de jogos anexo à sede. “Esperamos, pois, do espírito associativo de todos os nossos associados, que esta realização se concretize, dada a imperiosa necessidade de preservarmos a nossa bela sala de espectáculos dos prejuízos que se vêm verificando no salão, sempre que dele carecemos para se realizarem nele quaisquer festas, com a deslocação do mobiliário. Mãos à obra, pois!”.

As receitas conseguidas com as peças acima referidas, permitiram à colectividade, no ano de 1967, amortizar totalmente as suas dívidas.

No jornal figueirense “Mar Alto”, surgido havia pouco tempo, foi, em Novembro de 1966, publicada uma crónica, da autoria do também amador António Jorge da Silva, sobre a nova peça “As Artimanhas de Scapino”. Não resistimos a transcrever um pouco dos seus comentários, quanto à leitura das peças por Mestre José Ribeiro.


“... Dizemos prazer, porque realmente assistir à leitura duma peça por José Ribeiro, é quase a mesma coisa que ver uma representação, tal a verdade que imprime a cada personagem e o ambiente que dá a cada cena. Poucas pessoas terão tido a satisfação de assistir àquele espectáculo. Quando lê, interpreta o velho, o galã, a ingénua, a pessoa bondosa ou má, assim como o cínico ou o avarento. Todas as reacções, todos os gestos, ele os faz quase inconscientemente, mas os amadores, ao ouvi-lo atentamente, vão gradualmente aprendendo nos sorrisos, nas lágrimas (às vezes chora), na ternura como na violência. E é assim que trabalha, é assim que consegue verdadeiros milagres dos seus velhos amadores ou dos seus estreantes. Uns e outros beneficiam sempre da sua cultura teatral. Uns e outros aprendem com as suas lições antes e durante as leituras ou, mais tarde, nos ensaios de palco, que ele conduz do seu lugar na plateia...”.


Imensos comentários fomos sempre encontrando sobre as representações dadas pelo nosso grupo cénico, tanto em Tavarede como noutras localidades. Não é possível estar a transcrever todas essas notícias, ainda que em pequenos retalhos. Embora o façamos, numa ou noutra situação, procuraremos debruçarmo-nos mais sobre a documentação existente na colectividade, como relatórios, etc. Depois daquelas três peças, novamente Molière sobe à cena, desta vez com a peça “O Médico à Força”.

Os resultados financeiros obtidos começam, porém, a diminuir. Sobre este facto escreveu, então, a direcção: “O grupo cénico, a mais substancial fonte de receita da SIT, não pôde canalizar para os nossos cofres aquelas verbas com que habitualmente para eles contribui. E não foi pelo facto de todos os seus elementos não se terem esforçado para esse fim, com a mesma boa vontade de sempre e até sacrificando-se mais. Mas a verdade é que quanto mais trabalhamos no teatro, menos compreendemos os gostos do público. Se se ensaia uma peça dramática, ou uma alta comédia com sentido humano, exaltando os melhores sentimentos com que a humanidade foi dotada e que obrigue a pensar, a tirar conclusões, o público diz que farto de problemas anda a humanidade e o que quer é rir-se: não vai a esse Teatro. Tenta-se a comédia, e no nosso caso especial, um dos expoentes máximos, nesse género, Molière, e o público não vai à mesma e nem sequer apresenta explicação... Apesar disso, continuamos a remar contra a maré, montando espectáculos dignos e de mérito, que sirvam a cultura e a elevação do nosso povo, sem transigirmos com o mau gosto das massas”.


Fotografias da peça 'O Processo de Jesus'

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