sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 53


Das festas da inauguração da nova sede, e das quais se publicaram extensas reportagens, vamos transcrever, unicamente, uma nota do relatório da direcção. “... o facto de maior projecção registado, pelo seu conteúdo de grande satisfação e alegria que a todos nós proporcionou, foi a festiva inauguração do nosso edifício-sede, depois das obras de remodelação que lhe foram introduzidas, com a presença honrosa, na Sessão Solene comemorativa desse memorável acontecimento, do senhor Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, que a ela presidiu, de outras entidades oficiais, civis e religiosas, dos estandartes de muitas associações amigas e de grande quantidade de povo, desse povo generoso que nunca regateia a sua presença estimulante, quando se trata de fazer justiça e homenagear aqueles, indivíduos ou agremiações, que pelos seus actos ou pelo trabalho realizado em prol do bem comum, são credores dessas homenagens.

Chegada, a Tavarede, das diversas entidades oficiais e outros convidados

Foram horas inesquecíveis essas que se viveram, momentos altos da nossa vida associativa, que tiveram o condão de fazer assumar lágrimas de ternura e de orgulho aos olhos dos bons tavaredenses, de todos os verdadeiros amigos da SIT, de todos os que estiveram presentes nas cerimónias realizadas, alguns dos quais se deslocaram das mais diversas localidades do País para nos manifestarem o seu apoio e a sua solidariedade, assim como nos demonstrando que o caminho que pisamos é trilho seguro, é o bom caminho. Produziram-se afirmações da maior fé nos destinos da nossa Associação, e ao ouvi-las, nós sentimos, como vós sentistes, com certeza, prezados consócios, frémitos de entusiasmo e uma alegria incontida, mesclada de orgulho por pertencermos a uma terra que tal colectividade tem. São estes momentos altos, que de longe compensam todas as canseiras, todas as arrelias e incompreensões, todos os dissabores que é impossível não ter na gerência duma associação que, como a nossa, é formada por uma massa tão heterogénea”.


Outra imagem de 'O Pranto de Maria Parda' - Violinda Medina e Silva

Nesse mesmo ano, o grupo cénico colaborou nas comemorações do V Centenário de Gil Vicente. Na nossa sede e no Peninsular, em espectáculo promovido, mais uma vez, pela Biblioteca Pública Municipal, foram apresentados o “Auto da Barca do Inferno”; fragmentos das obras vicentinas “Auto Pastoril Português”, “Romagem dos Agravados”, “Breve Sumário da História de Deus” e “Pranto de Maria Parda”; e o “Auto da Feira”.

“Noite grande de teatro a que tivemos o grato prazer de assistir. Espectáculo inesquecível, dominante, iamos a dizer de glória para o Teatro Tavaredense. E ousamos fazer esta afirmação em face das opiniões que nos foram manifestadas por grande parte dos espectadores e que eram unânimes em reconhecer que a SIT possui, presentemente, em boa verdade, um esplêndido conjunto de amadores que honra sobremaneira a terra do limonete. É que a sua actuação em qualquer das obras de Gil Vicente representadas, foi de molde a merecer os maiores encómios do público”.


Auto da Visitação ou o Monólogo do Vaqueiro

No dia 4 de Dezembro de 1965, o grupo cénico levou à cena uma nova peça, “O Fim do Caminho”. “Peça em que, com rara felicidade artística, se conjugam três modalidades de teatro: do “Romantismo”, a violência dos sentimentos, sem cair no melodramático; do “Realismo”, a graça gentil, cheia de humanidade bondosa evitando as truculências do “naturalismo”; do “Simbolismo”, nos oferece o que teve de mais duradoiro: a poesia fina, sem snobismos, nem perturbações mórbidas”.

Quando terminou a récita do aniversário de 1966, o pessoal do grupo cénico prestou homenagem a Mestre José Ribeiro. Naquele dia, 15 de Janeiro de 1966, fazia 50 anos de encenador do grupo tavaredense. Certamente se recordam, das primeiras histórias, que foi a 15 de Janeiro de 1916, com a opereta “Entre duas Avé-Marias” que José Ribeiro iniciou a sua actividade à frente deste grupo.

“E nessa caminhada gloriosa, não isenta de espinhos, ao longo de 50 anos, trabalhando na valorização do elemento humano através do Teatro e pelo Teatro, quantas arrelias e quantas canseiras, mas também quanto saber e quanto carinho, dispendidos em benefício da elevação moral, cultural e educativa também, que nem só a escola é detentora dessa prerrogativa, pois o teatro é um manancial inesgotável de ensinamentos.

Trabalho árduo esse, feito sem um desfalecimento, muitas vezes com prejuízo da própria saúde, e desprezando até os seus interesses pessoais, tudo sacrificou sem um desfalecimento em prol do seu sonho de criar um teatro digno em Tavarede, um teatro desempenhado com arte pelo povo humilde, para toda a gente. E ninguém de boa-fé o pode negar, esse objectivo foi amplamente atingido, e a atestá-lo aí está esta realidade esplêndida que é o nosso grupo cénico, que realiza um trabalho talvez sem paralelo no nosso País”.

2 comentários:

  1. A minha terra. Ainda me lembro de assistir ao teatro com o meu avô...
    Os meus parabéns a todos os que passaram pela Sociedade e deram do seu tempo ao teatro...

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  2. Cara Amiga e Senhora
    Todos quantos deram a sua colaboração e o seu esforço em prol do Teatro e da Música, quer da Sociedade de Instrução, quer no Grupo Musical, quer, ainda, nas velhas associações recreativas, que 'vegetavam em Tavarede como tortulhos', são credores da nossa admiração e consideração, tanto aquelas e aqueles que já partiram, como todos que, felizmente, ainda vivem e persistem na sua missão de divulgação da cultura na nossa terra.
    Brevemente publicarei uma lista com os nomes de todos os colaboradores (obviamente incompleta, por falta de elementos) do grupo cénico da SIT. Será uma longa lista, mas merecida para recordação.
    Cumprimentos
    Vitor Medina

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