Poucos meses depois, a SIT recebeu, uma vez mais, a honrosa visita do Prof. Doutor Paulo Quintela. A 1 de Fevereiro de 1969, em récita oferecida em sua honra, foi representada a comédia “O Avarento”, de Molière, numa tradução daquele ilustre Professor e Homem de Teatro. “Representar deve ser sempre um acto sério, para os amadores de Tavarede; mas representar diante do mestre de Teatro Paulo Quintela, era coisa bem mais grave: imprimia ao acto uma espécie de solenidade... E a prova foi positiva! As figuras gradas não deixaram de o ser e as mais humildes generosamente deram o melhor de si; certas posições no palco ganharam um pouco de à-vontade, algumas vozes adquiriram naturalidade maior, e a representação subiu toda”. E no final, Paulo Quintela foi ao palco. “E deu uma lição. As suas profundas raízes no povo, a sua completa escola de teatro, a sua cultura verdadeira, a sua vivência de professor, tudo ali se juntou, para uma lição inteira, com exposição e crítica, com aplauso e apelo”.
Na récita do aniversário de 1969, foi prestada significativa homenagem “a nossa prestigiosa e incansável amadora Maria Teresa de Oliveira, que desde os 11 anos tem prestado a sua inestimável colaboração ao nosso grupo cénico, e a quem se ficam a dever inesquecíveis criações. Homenagem justa a todos os títulos e que envolveu nesse dia a Maria Teresa de Oliveira do carinho e da simpatia que tão bem merece a mais antiga amadora em actividade no nosso grupo. Festa dum enternecedor encanto, bem digna da modéstia da Maria Teresa, que nos encheu o coração de rara e inesquecível beleza”.
Maria Teresa de Oliveira, homenageada pela Sociedade de Instrução Tavaredense
Seguiram-se novas peças. “Alguém terá de morrer”, de Luís Francisco Rebelo e “Tartufo”, de Molière, foram as representadas. Um dos comentários feitos à primeira, termina assim: “Esta Sociedade de Instrução Tavaredemse seria mesmo um dos casos mais dignos de interesse, no historial da iniciativa particular na Cultura local. Que tema, para uma tese de licenciatura!”. Sobre a segunda “mais uma vez, a representação foi um êxito: casa praticamente cheia, interessada, vivendo o sabor da acção que no palco ocorria, rindo-nos nos momentos de rir, sentindo menos os momentos de sentimento”. Mais adiante, surge este comentário: “... sente-se, de resto, neste precioso grupo amador, uma crise de gerações entre os mais velhos do palco e os novos nele, falta uma meia-idade; de onde, talvez, o desequilíbrio a que acabamos de aludir. Onde estarão os sucessores directos e naturais dos “velhos?”... Parece-nos que seria necessário aos jovens que lá andam que amadurecessem teatralmente depressa, muito depressa. E estará isso ao seu alcance?...”.
Para o aniversário de Janeiro de 1971, Mestre José Ribeiro escreveu “Histórias... e História de Tavarede”, uma saborosa e curiosíssima fantasia. Com vistosos cenários, música alegre e guarda-roupa da época, “esta fantasia é, ao mesmo tempo, um regalo para os sentidos e uma proveitosa lição de história, desenvolvida com graça e leveza”.
Em Setembro de 1971, é representada, em Tavarede, “A Forja”, de Alves Redol. Como habitualmente em estreias, Mestre José Ribeiro fez aos assistentes desenvolvido comentário à peça. “...
Cena da tragédia 'A Forja', de Alves Redol
A propósito das críticas terem notado na “Forja” de Redol influência de Lorca e de Brecht, e lembrando outras palestras anteriores em que se falara aos tavaredenses dos estilos e das técnicas do teatro medieval, clássico e burguês, muito resumidamente referiu a técnica brechteriana da distanciação, o teatro épico, oposto à forma dramática do teatro: nesta, o teatro é activo, o actor toma o lugar do próprio personagem, o espectador sente a acção, é arrastado para ela; o teatro épico é narrativo, nele o actor não representa, não sente a acção, narra-a e o espectador não é imiscuido na acção, analisa-a e toma posição”. Mais adiante referiu: “A linha de encenação será diferente... Mesmo assim, a consciência diz-nos que não atraiçoámos Redol, antes o quizemos dar ao povo desta aldeia, com humildade, sim, mas com perfeito sentido de dignidade. Queremos que os actores tavaredenses sintam as suas personagens... desejamos que o público sinta a peça em toda a sua profundidade e extensão...”.
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