Era este o
entrecho da fantasia “Em busca da Lúcia-Lima”. Simples e acessível aos
tavaredenses, como era intenção do autor e seus colaboradores.
Para que
fique para a “história”, vou aqui deixar mais alguns apontamentos daquilo que
encontrei na imprensa de então. Como referi na parte inicial, não houve
uniformidade de opiniões quanto ao chamado “libreto”. No entanto, o que
praticamente não teve contestação foi a parte musical, que se considerou “uma
partitura soberba, feliz na inspiração e na beleza da orquestração, com números
originais tão perfeitos como apropriada é a adaptação dos coordenados”.
E enquanto o
comentarista da “Gazeta da Figueira”, sobre este tema, escreveu “empreste-lhe
(o leitor) o culto gosto de António Simões, fornecendo-lhe música viva,
saltitante, travessa, achando sempre o motivo próprio para cada recorte do
poema”, em “O Figueirense”, o tal crítico que não tinha gostado do texto,
refere: “Principio por dar um abraço no António Simões, que foi feliz na música
que coordenou e na instrumentação com que a compôs. Só não gostei de ver
chinesas a cantar música regional portuguesa. Mas, áparte este senão, escolheu
música muito bonita, que se ouviu com agrado e soube manter em ordem os coros
que por vezes quizeram fugir dela. Bravo, seu maestro!”.
Quanto ao
desempenho que “áparte pequenas deficiências inevitáveis nos melhores grupos de
amadores, foi bom, brilhante e perfeito por vezes”. Também aqui arquivo alguns
comentários sobre intérpretes e seus personagens.
Idalina
Fernandes fez com distinção a Flor de Chá, imprimindo à personagem a tristeza
requerida, “sendo pena que a sua voz seja tão pouco extensa e não lhe permita
vencer as dificuldades da parte que lhe coube na partitura, devendo, no
entanto, dizer-se que cantou muito bem a romanza do segundo acto”.
Virgínia
Monteiro fez uma Capitolina insinuante, alegre, risonha. “Com o tique da menina
de aldeia educada na cidade mas que não pode desmentir o ditado: - o que o
berço dá...”. Jaime Broeiro e António Graça afirmaram-se como amadores
distintos e conscienciosos; A. Santos, J. Cascão e A. Silva também são amadores
com qualidades aproveitáveis; J. Vigário foi bem no Mandarim não
parecendo um principiante e F. Carvalho, que é também um bom elemento, cantou
com segurança a sua parte no concertante final do segundo acto, outro tanto não
podendo dizer-se do dueto com Flor de Chá, que saíu incerto. Os outros
amadores em papéis de menor responsabilidade, bem como os coristas,
mostraram-se cuidadosos, contribuindo para o agradável conjunto”.
O já
referido crítico de “O Figueirense” que não gostou do “libreto”, também não
gostou de alguns pormenores do guarda-roupa e quanto ao desempenho gostou
“porque os amadores esforçaram-se por bem desempenhar os seus papéis”. Aponta
alguns casos que lhe pareceram mais fracos, como, por exemplo, José Vigário, no
Mandarim, que “enquanto todos os seus familiares e respectivo povo
andavam e revelavam gestos como é uso nos habitantes do Celeste Império, ele
dava passos de metro e gesticulava largo de mais, dando-lhe, por vezes, a
impressão de estar a ver o diabo do Presepe!”.
Termino as
notas sobre “Em busca da Lúcia-Lima” referindo a encenação. “A Voz da Justiça”
diz que “a Sociedade de Instrução tem direito aos nossos aplausos pela maneira
como pôs em cena a peça, não se poupando a despesas para que o cenário e
indumentária (o guarda-roupa foi fornecido pela Casa Cruz, de Lisboa) fossem o
que devia ser. A opereta teve uma apresentação brilhante, sendo de efeito
deslumbrante o segundo acto, no qual se exibiu um guarda-roupa a rigor e
luxuoso”.
E enquanto a
“Gazeta da Figueira” regista a “encenação primorosa desse inteligente moço que
é José Ribeiro, tão profundamente fino e esperto, quanto simpaticamente
modesto”, o nosso crítico de “O Figueirense” escreve: “Para quem vai a minha
admiração máxima é para o ensaiador, sr. José Ribeiro. Só quem sabe o que é
ensaiar amadores, sejam de que arte forem, é que pode avaliar o trabalhão que
ele teve para apresentar a opereta como ela foi apresentada. Sim, senhor, muito
bem. Boas marcas e muita ordem na entrada e saída de cena dos diversos
personagens. Se tivesse duas mulheres que cantassem bem, e um rapaz que tivesse
boa figura e boa voz, o sr. José Ribeiro podia abalançar-se a representar
operetas, já não digo de autores consagrados, mas peças escritas com ordem e
que um público ilustrado ouvisse com agrado, porque tem jeito para ensaiar e
sabe disciplinar a sua gente”.
E pronto.
Desço o pano sobre a opereta “Em busca da Lúcia-Lima” e vou imediatamente
passar à seguinte.
Em busca da 'lúcia-Lima - 2º. acto
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