terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sociedade de Instrução Tavaredense - 11

Prosseguia, activamente, o grupo dramático. Depois de várias comédias, é posta em cena uma nova opereta, “ Rosas de Nossa Senhora ”, em 3 actos, com música de António Maria de Oliveira Simões. Este inspirado músico amador figueirense, tomaria, em 1924, a direcção musical da Sociedade de Instrução, ensaiando e dirigindo a orquestra e compondo números lindíssimos, que ainda hoje são cantados no nosso palco. Mas, na peça acima, embora a partitura fosse de sua autoria, a orquestra ainda foi regida por Manuel Martins.
Mas o povo não esquecia “Os Amores de Mariana”. E tantos foram os pedidos que, em Março de 1923, novamente houve a sua reposição, com a participação da quase totalidade dos antigos elementos. E correspondendo a um apelo que lhes foi dirigido, os amadores tavaredenses, no dia 7 de Abril, realizaram mais uma récita, na sua sede, mas em benefício da Santa Casa da Misericórdia da Figueira.
O êxito foi total. Casa cheia e “oxalá esta iniciativa fosse seguida pelos grupos dramáticos das outras freguesias do nosso concelho, visto que aos infelizes de todo o concelho acode nos momentos difíceis da doença o hospital da Misericórdia”.


Em Julho de 1924, foram feitos os estudos necessários para a montagem da rede eléctrica em Tavarede. De imediato, a Sociedade de Instrução resolveu promover a respectiva instalação. Como não tinha disponibilidades financeiras para este empreendimento, que importou em 3.806$50, foi deliberado contraír um empréstimo no montante de 4.000$00, realizado em 400 acções, que foram subscritas pelos sócios. Estas acções não venciam qualquer juro e grande parte acabaram por ser oferecidas à colectividade pelos seus subscritores.
O relatório desse ano escreve: “Não quere esta direcção deixar fechar o seu relatório, sem também agradecer a todos os sócios que tão galhardamente contribuiram para a compra de quotas para a instalação eléctrica e também ao grupo de sócios que com os seus esforços conseguiu trazer para a nossa terra tão importante melhoramento”.
“A primeira instalação a fazer-se foi a da Sociedade de Instrução Tavaredense, que é completa e perfeita, ficando o teatro com todos os recursos de iluminação que podem exigir-se em casas desta natureza. A luz ficou ligada no último sábado, despertando o facto um interesse extraordinário nesta localidade. Muitas pessoas foram à sede da Sociedade de Instrução ver o efeito da nova iluminação, que é deslumbrante. Alguns associados até se reuniram, não ocultando o seu regozijo. A inauguração far-se-á no dia 13 do corrente, com uma récita dedicada aos sócios”, escreveu a “Voz da Justiça” noticiando o acontecimento. Não se conseguiu saber, no entanto, qual foi o programa dessa récita.
A opereta “Os Amores de Mariana” havia caído no agrado do público. Mais de dez anos depois da sua estreia, esgotava sempre a lotação e era solicitada para algumas deslocações. Mas, na verdade, houve vozes discordantes. No dia 13 de Dezembro, foi dar um espectáculo ao teatro do Parque-Cine. Eis a crítica de “O Figueirense”.
“Um grupo de amadores dramáticos de Tavarede veio no sábado último ao Parque-Cine dar um espectáculo com uma opereta regional, cuja acção se passa nos arredores de Coimbra, segundo rezam os programas, e portanto paredes meias com a nossa terra.
Fui assistir com um certo interesse, porque sempre gostei do teatro musicado, principalmente quando a acção se passa em qualquer das nossas províncias, algumas delas tão ricas em motivos para uma boa partitura. Os bons autores é que vão escasseando...
...Do desempenho pouco há a dizer, porque se tirarmos António Coelho, que se mexeu à vontade, e Helena de Figueiredo, que tem jeito, nada mais se aproveitou. Pena foi que o primeiro se não tivesse mantido na cena da embriaguês, porque teria sido perfeito e que a segunda tivesse pronunciado um tromento que a meu ver devia ter dito tormento. De resto, tem boa voz e canta com certo gosto.
A marcação pareceu-me deficiente. Não percebi que o André, charlatão, surgisse no palco com a massa coral, em lugar de ali aparecer casualmente, o que deu a impressão de que entre ele e os campónios havia o melhor entendimento. Ou não?
Também não compreendi a situação de Ernesto de Melo (António Santos) depois de Mariana (Helena de Figueiredo) lhe ter dado com a tampa ter-se mantido no palco, assistindo à alegria que reinou à volta do Zé Piteira (António Coelho), quando este teve a certeza do amor de Mariana. Julgo que ele devia ter desaparecido, porque havia sido preterido pelo rival.
E para terminar com os meus reparos devo dizer que não achei próprio que no coro Brasileiro di água doce, os comparsas, todos dos arrabaldes de Coimbra, québrassem tão harmonicamente a módinha brasileira. Lá que o Pancrácio a exibisse e a massa coral se manifestasse de qualquer maneira própria do seu temperamento e educação, compreendia-se, agora que a secundassem com tanta jeiteira é que se tornou reparável.
Em Tavarede é natural que estes senões não se notem, agora nesta cidade, onde nem sempre agradam os nossos melhores amadores e muitas vezes até artistas de carreira, foi arrojo exibir uma opereta inferior, mesmo muito inferior.
A música, além de cediça, está coordenada muito à ligeira e foi interpretada muito deficientemente. Pena foi que assim sucedesse, porque a orquestra estava bem organizada e apta a executar uma partitura de mais vulto.
Mas o fim principal dos amadores tavaredenses foi arranjar dinheiro para o seu cofre, e esse atingiram-no, porque a casa estava quase cheia, o que devia ter produzido uma boa receita.
Felicito-os por tal motivo.

Fotos: 1 - Cenário da SIT; 2 - António Santos (amador)

1 comentário:

  1. Amigo e sr. Victor Medina

    Chegou o momento de lhe ser dado um prémio que modestamente lhe atribuo. Veja o meu blogue.
    Cumprimentos

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