terça-feira, 22 de junho de 2010

João da Silva Cascão

Não, não é do nosso caro amigo maestro que vou contar qualquer coisa. É do pai, do saudoso João Cascão, um dos maiores amadores do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense. Aliás, já aqui contei um pouco da sua biografia.


Estava há pouco a rever velhas fotografias, o que é sempre um enorme prazer para mim, quando deparei com a foto que agora publico. Não sei dizer quantos anos terá, pois a foto não está datada.

Mas vemos nela o nosso amigo João Cascão, casaco ao ombro e garrafão da mão, tal qual como um grande 'latifundiário', na sua pequena quinta, ali ao caminho da Chã, defronte da Escola e da Junta de Freguesia, e à qual dera o nome de baptismo de 'A Primorosa'. E, na verdade, era mesmo um primor quando a horta estava cuidadosamente tratada e o pomar bem arranjado.

Mas, para ele, a melhor colheita e proveito que ele tirava daquela exploração agrícola, era as uvas dos compridos corrimões e que ele transformava num vinho, nem sempre muito graduado, mas que era sempre, isso sim, um saboroso e fresco 'palhete'. Para o João Cascão era todos os anos 'o melhor de Tavarede e arredores'.

E então dava-lhe sempre um nome. Um dia, chegado o tempo de 'espichar' o pipo, quando chegou a Tavarede à sua adega, acompanhado de alguns amigos, entendeu ser oportuno fazer a prova da pinga daquele ano. Espicho aberto, copo cheio e erguendo-o à luz apreciou-lhe a cor. Depois provou-o, saboreou-o, deu o habitual estalinho com a língua, e acabou o copo. Voltou a encher para os amigos. Boa pinga, disseram eles.

Conversa puxa conversa, mais um copito agora e outro depois, quando se levantou do banco onde estava sentado, sentiu-se um pouco toldado. "Eh! pá, este marra no dono!", disse ele. Pois foi o nome dado à colheita daquele ano: O MARRA NO DONO.

Não se comparava, com toda a certeza, ao de outras colheitas, como o MORTE LENTA anterior. E foi esta pequena história que me lembrou ao ver a velha fotografia...

2 comentários:

  1. Amigo Vítor :
    A propósito desta história sobre os vinhitos do meu pai - que eram sempre de muito baixa graduação, talvez à excepção desse "Marra no Dono" - venho contar-te outra.
    Houve um ano em que o vinho apresentou uma característica muito especial : era extremamente diurético. Tornou-se então habitual, entre os amigos mais frequentes na adega, anotar quanto tempo decorria entre o primeiro copito tomado por um novo visitante e a pergunta desse "caloiro" : --" Ó amigo Cascão, onde é que se pode fazer um xi-xi ? ". Era logo uma risota pegada... É pena não me lembrar do nome que foi posto a esse, mas recordo muito bem como lhe chamava o teu Pai. E essa é que é a história que te quero contar...
    Como deves recordar, a adegazita tinha, na porta que dava para a rua, uns postigos em ferro fundido, que deixavam entrar a luz do dia. Uma tarde de domingo em que eu estava a fazer companhia ao meu pai enquanto ele lavava as garrafas para engarrafar o vinho de que falei, assomou-se aos postigos o Pedro Medina, teu saudoso pai, que, com aquele humor que sempre o caracterizava, chamou o meu pai, dizendo :
    --" Ó primo (era como se tratavam), não me dá aí uma "purgazita?... "
    Ainda hoje me rio sempre que me lembro da cena e do tom de voz com que foi dito...
    Um grande abraço para ti!
    J. Cascão

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  2. Caríssimo Amigo e Maestro João

    Não conhecia esta da 'purga'. Mas são tantas as histórias com estes e outros intervenientes... Quando estou a rever velhas fotos, logo me vêm à lembrança estas saudosas memórias. Que pena agora já cá não estarem estas personagens, para sempre inesquecíveis.
    Mas, como digo, são estas histórias, sem qualquer valor histórico, que acabam por fazer a história de um passado recente da nossa terra do limonete.

    Um abraço do
    Vitor Medina

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