sexta-feira, 9 de abril de 2010

António Correia Pinto de Almeida (António Amargo)

Jornalista, escritor e poeta figueirense, António Amargo escreveu, em 1925, para a secção dramática do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, uma opereta a que deu o título de Ninotte, versão livre da conhecida obra João Ratão.
Igualmente, mas em colaboração com Raul Martins que escreveu o texto, são de sua autoria os versos das operetas Noite de Santo António e Mãe Maria, igualmente levadas à cena por aquele grupo tavaredense. A propósito dos versos de Mãe Maria, encontrámos uma nota de um crítico que não gostou deles, dizendo que os da Noite de Santo António eram melhores e nem pareciam do mesmo autor.
António Amargo, como resposta, mandou um “postal” dizendo: “Pareceram-lhe muito inferiores os versos de António Amargo – os versos meus – comparados com os de Noite de Santo António, outra opereta da mesma trempe, a tal ponto que dir-se-ia não serem do mesmo autor. Evidentemente, quem anda a lidar com as caprichosas senhoras Musas faz versos melhores ou piores, dependendo o facto dum largo conjunto de circunstâncias. E depois… gostos pessoais não são discutíveis; mas, com franqueza, não dei por tão grande inferioridade, nem compreendo como conseguiu fazer de cor o cotejo dos versos das duas peças, quando eu, o seu autor, não me atreveria a fazê-lo… sem ler uns e outros antes de fazer a crítica”.
Por ocasião das representações de Ninotte, um grupo de amigos ofereceu-lhe um almoço de confraternização, na nossa terra. António Amargo, para essa reunião, escreveu o seguinte soneto, que leu à sobremesa:

Se esta vida afinal são só dois dias,
Cada um deve gozá-los como pode,
Buscando horas tranquilas de pagode
E esquecendo tristezas e arrelias.

Em meio do prazer e de alegrias,
Sem que o incerto amanhã nos incomode,
Que cada qual se adapte e se acomode
A bem viver as horas fugidias.

Quando a sorte nos mostra o lado mau,
Bendigamos o sumo da parreira
E o mar, que p’ra nós cria o bacalhau.

Tristezas só as tem quem tiver fome:
Só se leva da vida verdadeira
Aquilo que se bebe e que se come!

Faleceu, em Lisboa, em Maio de 1933.
Caderno: Tavaredenses com história

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