sexta-feira, 9 de abril de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 21


Entretanto, alheando-se às citadas questões político-religiosas, a Sociedade de Instrução Tavaredense prosseguia a sua actividade. “Na verdade, a acção desenvolvida é admirável, sob todos os pontos de vista. Mantém, há quase três dezenas de anos, uma escola nocturna, onde se recebem alunos, menores e adultos, sócios ou não sócios, aos quais é fornecido gratuitamente todo o material escolar. Não se limita a isso a sua função, vai mais longe: entra no capítulo da educação e da cultura artística, limitada, como se compreende, às condições do meio, servindo-se, para isso, do livro, da palestra e do teatro. A influência moral e educativa exercida por intermédio do teatro, tanto sobre os que nela representam como nos espectadores, é evidente. Para atingir este objectivo, segue-se na escolha das peças – algumas das quais escritas para este fim – o critério de que o teatro não deve servir apenas para proporcionar distracção, deve, principalmente, ser um veículo de educação moral e cívica e, até, num meio como é o da aldeia, um instrumento de cultura”. Eram, afinal, os princípios estabelecidos pelos seus fundadores que, como se sabe, tinham sido plenamente conseguidos.
E, nos princípios de Julho de 1930, dá-se a primeira “internacionalização” do grupo cénico. Com as peças “O Sonho do Cavador” e “A Cigarra e a Formiga” foram a Tomar, efectuar dois espectáculos em benefício da Misericórdia local. Foi uma jornada triunfal “...... a recepção que aqui teve a excursão da SIT. Imponência, beleza, entusiasmo, sinceridade – eis as características dessa admirável recepção, que não esquece aos que da Figueira vieram a Tomar.....”.
Como curiosidade referimos que, três meses antes, esteve marcada uma deslocação a Vizeu com aquelas duas peças, para benefício de “uma obra contra a mendicidade e do Asilo de Santo António”. No entanto, a empresa proprietária do Teatro Avenida, daquela cidade, viu-se “impedida de ceder a sua casa de espectáculos para os dias desejados”, pelo que não foi possível efectuar esta deslocação, que seria a primeira fora do concelho da Figueira.
Em Setembro daquele ano, houve uma festa à portuguesa na sede da colectividade. “A sala estava transformada num lindo arraial português, com ornamentação e iluminação apropriadas......... Era grande o número de raparigas que vestiam à Moda do Minho......... A nota capital desta linda festa, foi a visita dos tomarenses, tão queridos da nossa terra, que não esquece a forma invulgarmente cavalheiresca e carinhosa como Tomar recebeu, em Julho findo, a excursão da nossa colectividade. Vieram expressamente de Tomar, em visita à nossa terra, muitos amigos a quem nos unem laços de amizade e simpatia e que agora mais se apertaram”. Houve foguetes, a filarmónica “10 de Agosto” esteve presente e, pela uma hora da madrugada, foi servida uma ceia aos visitantes, “que decorreu num ambiente de alegria e simpatia sem mancha”.
Esta festa deu um saldo positivo de 700$65, o qual “foi aplicado na compra de mobiliário escolar para a aula nocturna”. Merece uma anotação o facto da sede da colectividade ter sido visitada, em Novembro de 1930, pelo Visconde de Tinalhas, que percorreu as instalações “colhendo agradáveis impressões”, principalmente com a escola nocturna, “que estava a funcionar com mais de 40 alunos”.
Para as comemorações do aniversário seguinte, em Janeiro de 1931, José Ribeiro escreveu um acto, que intitulou de “Evocação”, em que recordou alguns dos maiores êxitos musicais de espectáculos anteriores. Foram eles: “As Cinco Pastoras”, do Presépio; “General Bum”, de O Casamento da Grã-Duqueza; “Coros e danças”, de Os Amores de Mariana; “Coro da Avé-Maria”, de Entre duas Avé-Marias; “Valsa das Alcachofras”, de Noite de S. João; “Canção da Cotovia”, de Em busca da Lúcia-Lima; “Canção da Árvore”, de Grão-ducado de Tavarede; e “Coro interno”, de O Sonho do Cavador. Este espectáculo alcançou um enorme êxito junto do público.
E do relatório da Direcção, aprovado em Janeiro de 1931, recortamos o seguinte apontamento: “Atendendo a que o benemérito cidadão, Exmo. Sr. Joaquim Felisberto da Cunha Sotto Maior, ofereceu a esta Sociedade, como se verifica das contas, por sua expontânea e livre vontade, uma quantia que bem se pode considerar avultada (500$00), propõe esta Direcção que àquele ilustre cidadão seja conferido o grau de Sócio Honorário”.´
Foto: Grupo cénico da SIT em 1928

1 comentário:

  1. O Senhor José Ribeiro, que eu conheci quando fui em tempos a Tavarede, falou-me com muito carinho do meu Avô João Pinto dos Santos, dizendo que era um Homem de grande cultura, que se interessou sempre muito por todas as manifestações culturais em Tavarede, nomeadamente o Teatro. Gostei muito deste artigo. Ana Maria Pinto dos Santos

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