Num periódico figueirense, em Julho de 1903, deparo com uma notícia assaz curiosa, como podem observar:
Disse há dias que o serviço de limpeza do cemiterio parochial, se fazia com morosidade. Agora, bem informado, soube que o andamento do serviço depende do burro do coveiro. Para não haver confusões, explico:
O coveiro tem um jumento que se sustenta da erva cortada no cemiterio. O animal, como é de pequenas proporções, com pouco se alimenta, e como o homem-coveiro só corta o que carece, esperaremos que o jerico devore a erva por um lado até crescer pelo outro, e assim teremos sempre ali o matagal de que em tempos fallou um dos actuaes membros da junta da parochia.
Este coveiro deshumano, que se confessa todos os annos na epocha quaresmal, e que não sepulta cadaveres senão por dinheiro, até mesmo os pobresinhos, devia ser mais zeloso e menos interesseiro.
O coveiro tem um jumento que se sustenta da erva cortada no cemiterio. O animal, como é de pequenas proporções, com pouco se alimenta, e como o homem-coveiro só corta o que carece, esperaremos que o jerico devore a erva por um lado até crescer pelo outro, e assim teremos sempre ali o matagal de que em tempos fallou um dos actuaes membros da junta da parochia.
Este coveiro deshumano, que se confessa todos os annos na epocha quaresmal, e que não sepulta cadaveres senão por dinheiro, até mesmo os pobresinhos, devia ser mais zeloso e menos interesseiro.
Como, na nossa terra, era costume antigo fazerem-se corridas de burros (rosquilhadas), logo surgiu uma sugestão:
Todos os annos, n’esta epocha costuma realizar-se aqui uma apparatosa corrida de burros. Diz-se que será muito breve.
Lembro à commissão promotora que não deixe d’inscrever, para tomar parte no torneio, o burro do coveiro, o tal que vive à mercê da erva que vegeta no cemiterio.
Lembro à commissão promotora que não deixe d’inscrever, para tomar parte no torneio, o burro do coveiro, o tal que vive à mercê da erva que vegeta no cemiterio.
É claro que pessoas diversas não acharam nenhuma graça:
O cemiterio d’esta freguezia está cheio de herva e por isso ser talvez occasião de melhorar as refeições do burro do coveiro...
Aquillo assim não está bem. É vergonhoso e demonstra que os membros da junta se interessam pouco pelo aceio d’aquelle recinto, que todos deviam fazer por que se conservasse em estado de se ir lá sem que ninguem podesse levantar qualquer censura.
Vá, senhores da junta: vejam este nosso reparo e evitem que continuemos a falar no caso.
Aquillo assim não está bem. É vergonhoso e demonstra que os membros da junta se interessam pouco pelo aceio d’aquelle recinto, que todos deviam fazer por que se conservasse em estado de se ir lá sem que ninguem podesse levantar qualquer censura.
Vá, senhores da junta: vejam este nosso reparo e evitem que continuemos a falar no caso.
Em Novembro de 1904 houve eleições para a Junta da Paróquia de Tavarede:
No dia 27, o designado para eleição da Junta da Parochia, é provavel que haja por aqui vinho em abundancia, visto dizer se que a lucta será renhidissima entre regeneradores e republicanos.
Por nossa parte, o que desejamos, é que triumphe a lista regeneradora, porque os republicanos, que lá teem estado trez annos, deixam apanhar a erva do cemitério para o burro do coveiro que é amigo do real parlapatão de Quiaios, e os regeneradores são capazes de fazer tudo e mais alguma coisa.
Por nossa parte, o que desejamos, é que triumphe a lista regeneradora, porque os republicanos, que lá teem estado trez annos, deixam apanhar a erva do cemitério para o burro do coveiro que é amigo do real parlapatão de Quiaios, e os regeneradores são capazes de fazer tudo e mais alguma coisa.
Finalmente o caso foi resolvido. Vejamos como tudo acabou:
Pela Junta de parochia foi expulso o coveiro do cemiterio d’aqui. Deu causa à acertada resolução da junta o negar-se aquelle figurão a abrir a sepultura para o infeliz Antonio Fadigas, pelo facto da familia não ter meios para lhe pagar esse serviço. Aquelle maldito coveiro há muito que deveria ser expulso, não só pelo pessimo serviço que fazia, mas tambem por sustentar o burro e as cabras com a erva que cortava no cemiterio.
Não haja dúvidas de que, já então, as 'coisas' demoravam um pouco de tempo para se resolverem.
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