E depois das comemorações do 17º. aniversário, nos dias 22 e 23 de Dezembro de 1928, no primeiro dia com a repetição da peça “Noite de Santo António” e um acto de variedades, e no dia seguinte, domingo, com a tradicional alvorada e sessão solene, o grupo cénico, em Janeiro de 1929, levou à cena a opereta em 3 actos “Entre duas Avé-Marias”. Fica aqui, também, a transcrição dos comentários dum espectador, publicados em “O Figueirense”.
“No passado domingo assitimos, na terra do limonete, á 1º. representação da linda opereta em 3 actos Entre Duas Avé-Marias, que a secção dramática do distincto Grupo Musical e de Instrução Tavaredense levou á scena.
Dispensamo-nos de descrever o enredo da peça, porque êle já é de sobra conhecido pelo publicp da Figueira e arredores. Tambem o que vamos dizer ácêrca do desempenho, não é uma critica, mas tão sómente uma opinião muito nossa.
Em primeiro logar, é dever nosso citar o nome de Herculano Rocha, êsse verdadeiro artista de génio que, como regente da orquestra, foi um dos elementos que mais contribuiu para o explendido exito que mais uma vez obtiveram os distinctos amadores do G.M.I.T.
A seu lado colocamos Rosa, a aldeã, papel interpretado por D. Violinda Medina e Silva, para mim, a melhor, a mais completa amadora do nosso concelho. Quando é preciso chorar, fá-lo com tal sentimento, que nos comove; e quando é preciso rir, tambem o faz com aquela graça com que só artistas de nome o sabem fazer. E a tudo isto alia um timbre de voz unico, perfeito, que encanta e seduz uma plateia inteira. Para ela, para essa excelente amadora, vão os nossos mais sinceros parabens.
André. desempenhado por José Silva, foi admirável em todas as scenas. Boa voz, optimo gesto e com um á vontade proprio dum homem d’aldeia que tem caixa do correio e Retiro dos pacatos.
Zé Cochicho, por Jorge Medina, muito bom, o que não admira porque é filho de peixe... e está tudo dito.
Narcizo, por Manuel Cordeiro, bem; é um dos amadores novos, mas de recursos para o palco.
Mordomo, gostámos. É um personagem que requere um certo esfôrço para dele se tirar partido, e António Medina conseguiu-o sem dificuldades.
O Carteiro, muito bem por João Nogueira; pena é que a sua voz não possa elevar-se mais, de resto andou em tudo admiravelmente.
Jorge, por Manuel Nogueira, foi correcto; mas devemos confessar que o encontramos um pouco deslocado do seu temperamento. Este, é um dos bons amadores tavaredenses, mas... como dizemos, o papel que desempenhou agora, não lhe está muito a caracter.
O Morgado, foi interpretado com aquele rigor absoluto, único,que só nos grandes amadores, como Raul Martins, se pode encontrar.
Propositadamente, deixamos para o fim o Aniceto Boticario, papel desempenhado por Adriano Silva, de quem não gostamos muito. Para que muda este cavalheiro de voz? Porque não fala naturalmente? Se assim fizesse, teria brilhado muito mais, visto ter explendidas qualidades para a arte de Taalma.
Nos finaes de acto, houve chamadas especiaes ao Ensaiador, e Herculano Rocha, e a D. Violinda Medina, tendo a Direcção no final do 2º. acto oferecido a estes elementos bouquets de flores naturaes.
E eis, caros leitores, a opinião que formulei acerca da opereta Entre duas Avé-Marias, levada á scena por um dos mais completos grupos dramaticos do concelho desta linda cidade”.
No mês seguinte, fizeram nova deslocação à Marinha Grande. Vejamos como correu.
“É com a maior satisfação que hoje notiamos a ida da Secção Dramática do benemérito Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, acompanhado de muitos sócios, à laboriosa e hospitaleira Vila da Marinha Grande, assim como bem hão-de dizer todos aqueles que, mais de perto, sentiram, arfar-lhe no peito, uma jubilosa alegria, que só se sente quando estreitamos nos braços um povo amigo e bom como são os marinhenses.
Já esperávamos o resultado obtido, pois que nem outra coisa era de esperar, dado as qualidades de que são dotados todos os filhos da Marinha Grande, e ás simpatias de que ali gosam os nossos conterrâneos.
Ora, como motivos vários e imprevistos nos impediram que os acompanhássemos, e para melhor e mais minuciosamente ilucidarmos os nossos leitores, era-nos necessário, indispensável mesmo, que entre um nucleo tão compacto, como foi aquele que até à Marinha debandou no último sábado, escolhessemos uma pessoa que nos informasse do que mais notavel ali se tivesse passado.
Escolhemos o nosso particular amigo sr. Raul Martins.
- Chegados á estação - disse-nos - uma enorme multidão enchia completamente a gare, á nossa chegada, vendo-se entre ela o estandarte do Operario Club Marinhense e representantes dos Bombeiros Voluntários e Atlético Club Marinhense, d’aquela terra, que á chegada dos tavaredenses levantaram vivas ao Grupo Musical e Tavarede, que foram correspondidos por este.
Trocados os cumprimentos, formou-se um cortejo imponente, que se dirigiu, visto o adeantado da hora, para o Teatro Stephens, propriedade dos Bombeiros Voluntários, e onde se realisaram os espectaculos.
Momentos depois, a casa principiou a encher-se, notando-se, no entanto, algumas falhas na plateia, e representou-se a opereta Entre Duas Avé-Marias, que foi calorosamente aplaudida nas passagens mais notaveis, tendo sido feitas chamadas especiaes ao ensaiador, Violinda Medina, Manuel Nogueira e Herculano Rocha.
- Passamos ao dia seguinte, domingo, 3.
- Depois de percorridos varios pontos de paisagem verdadeiramente exuberantes e visitados alguns logares mais notaveis da Vila, fomos assistir a um match de foot.ball, que devia ter lugar entre um forte onze do Atletico Club Marinhense e um composto por elementos da Secção Dramatica.
- Depois de uma renhida luta, sairam vencedores os nossos adversários pelo elevado score de 5-1; tendo, no entanto, merecido aplausos os jogadores nossos, Manuel Cordeiro, Manuel Nogueira e João Medina, que, sem exagero, foram os melhores homens da tarde.
- Depois fomos assistir a uma festa que, por volta das 4 horas teve lugar na Associação Humanitaria dos Bombeiros Voluntarios d’aquela vila, onde foram trocados calorosos brindes.
- E depois de satisfazer-mos as exigencias do estomago fomos novamente para o Teatro.
- Qual o nosso espanto quando ouvimos dizer que jà não havia bilhetes para o espectaculko, que a seguir ia ter lugar.
- Efectivamente, muito antes da hora marcada, a casa estava completamente á cunha. E representou-se a opereta Noite de Santo Antonio, tendo a completar um Acto Arrevistado, que foi muito aplaudida, tendo sido feitas, novamente, chamadas especiaes aos amadores, ensaiador e maestro.
- No final do espectaculo, foi, por um grupo de habitantes da Marinha, pedido para que fôsse executada novamente a marcha Figueira da Foz, que no final foi calorosamente aplaudida, tendo todos retirado com explendidas impressões.
E depois de nos dizer o que aí fica, ia a retirar-se, quando o prendemos ainda com algumas palavras sobre o dia de segunda-feira, ao que nos respondeu:
- Olhe, meu amigo. Já andavamos um pouco massados pelas noites perdidas, mas no entanto, ainda percorremos algumas fabricas de vidros e cristaes, que, com grande deferência ali fômos recebidos, e... mais nada.
- Agora, para fechar, termino com estas palavras que, com a maior sinceridade as pronuncio: - A Secção Dramatica do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, póde orgulhar-se do êxito obtido nesta louvavel iniciativa, onde soube engrandecer, mais uma vez, o nome da colectividade e da terra que lhe dão o nome, colhendo loiros tão belos, grinaldas tão floridas, que se ostentam hoje, e sempre, triunfal e orgulhosamente na flâmula querida daquele estandarte... - e apontou-nos o estandarte do Grupo Musical.
É pois, daqui, desta modesta tribuna, onde combatemos pelo desenvolvimento do Grupo Musical, como um valioso baluarte da Instrução, que póde orgulhar-se de ser, e sobretudo o nome de Tavarede, saudamos, franca e abertamente, a pleiade de rapazes e raparigas que constituem a aureolada Secção Dramatica do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, assim como á sua digna Direcção”.
Meses depois, foi a tuna do Grupo que se deslocou à Martingança. Foi no regresso desta viagem que, no Mosteiro da batalha, deixaram uma lápide de homenagem ao Soldado desconhecido e que, ainda há muito pouco tempo, lá estava afixada, conjuntamente com muitas outras, mas, da última vez que ali estive, tinham todas sido arrancadas e, possivelmente, transferidas para outro local.
Entretanto, a terrível crise que havia, tempos antes, atingido o Grupo Musical e que procurarei descrever no capítulo seguinte, dificultava a acção cultural da colectividade, que cada vez lutava mais com imensas dificuldades.
Mas ainda vou aqui registar a deslocação, no dia 1 de Abril, à vizinha Alhadas.
“Simplesmente brilhante a récita de segunda feira, 1, no teatro da Boa União Alhadense, pela secção dramática do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense. Na nossa terra deixou o simpático Grupo as melhores impressões. Se bem que nos mereçam as mais lisongeiras referências os distintos amadores, abstemo-nos de as fazer, não devendo, porém, deixar de endereçar as nossas sinceras felicitações à distinta amadora D. Violinda Medina.
“Entre Duas Avé-Marias” é uma opereta conhecidíssima, mas agrada sempre, e o Grupo de Tavarede representou-a de forma a agradar bem. Já isso prebvíamos, atendendo ao meticuloso cuidado de Raúl Martins e à competência musical de Herculano Rocha. E, a propósito, já que falamos deste distinto maestro, queremos-lhe dar aqui, espitirualmente, um abraço pela feliz inspiração da sua “Marcha” de abertura do espectáculo, cuja execução pela orquestra foi magistral, prendendo a atenção da numerosa e escolhida assistência que, no final, o presenteou com uma lomga salva de palmas”.
E em Maio ainda apresentaram na Figueira um novo espectáculo. “Supômos que os autores da “Mãe Maria” pensavam fazer uma peçasinha ligeira e fácil, com motivos populares e simples. Música sob a regência de Herculano Rocha – e está tudo dito, que este músico distinto, tem feitos seus créditos. Violinda Medina, a excelente amadora de sempre. Coros fartos enchendo a cena. E vá sem favor – primorosas raparigas, de lindos rostos e garrido aspecto. A casa cheia... E aplausos nos remates de acto. Estas récitas são sempre um motivo de cultura. Por isso de elogiar os seus organizadores. O que fazemos com gosto”.
E chegamos a 1930. O edifício da sede foi vendido. Ainda lá estiveram, em regime de aluguer e como veremos adiante, mais uns tempos. Praticamente cessaram as actividades culturais. Ainda foi possível reorganizar a Tuna para uma deslocação a Vizeu, no dia 14 de Setembro, integrada numa excursão organizada pela Comissão de Iniciativas da Figueira da Foz.
Com todas as dificuldades, e tendo sido decidido que só participassem sócios da colectividade, foi a primeira vez que se apresentaram com o elevado número de 40 figuras. Foi seu ensaiador e dirigente o nosso conterrâneo António de Oliveira Cordeiro.
Mas os anos dourados haviam terminado. E, diga-se com verdade, culturalmente, foi um período brilhantíssimo da colectividade. Mas a história é implacável e os problemas surgidos com a compra da sede e com as obras de restauro, bem como as elevadas despesas com o grupo cénico, a tuna, a escola nocturna e demais actividades, não conseguiram ser ultrapadssadas, apesar dos esforços das sucessivas direcções e componentes artísticos. À distância, longe de viver aquela dramática situação, ocorre-me a pergunta: terá valido de alguma coisa o sacrifício e luta de cêrca de uns longos e difíceis dez anos? A resposta tem de ser afirmativa. A colectividade ganhou e perdeu. A terra do limonete, o mesmo. Mas os tavaredenses, como pessoas ambiciosas de cultura, ganharam, com toda a certeza. Meia dúzia, uma dúzia, ou talvez mais, de algumas dedicações à associação, sofreram muito, é certo, tiveram mesmo um enorme prejuizo económico, mas a história do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense ganhou o pleno direito à admiração e respeito de todos os tavaredenses que se seguiram àquela conturbada época.
“No passado domingo assitimos, na terra do limonete, á 1º. representação da linda opereta em 3 actos Entre Duas Avé-Marias, que a secção dramática do distincto Grupo Musical e de Instrução Tavaredense levou á scena.
Dispensamo-nos de descrever o enredo da peça, porque êle já é de sobra conhecido pelo publicp da Figueira e arredores. Tambem o que vamos dizer ácêrca do desempenho, não é uma critica, mas tão sómente uma opinião muito nossa.
Em primeiro logar, é dever nosso citar o nome de Herculano Rocha, êsse verdadeiro artista de génio que, como regente da orquestra, foi um dos elementos que mais contribuiu para o explendido exito que mais uma vez obtiveram os distinctos amadores do G.M.I.T.
A seu lado colocamos Rosa, a aldeã, papel interpretado por D. Violinda Medina e Silva, para mim, a melhor, a mais completa amadora do nosso concelho. Quando é preciso chorar, fá-lo com tal sentimento, que nos comove; e quando é preciso rir, tambem o faz com aquela graça com que só artistas de nome o sabem fazer. E a tudo isto alia um timbre de voz unico, perfeito, que encanta e seduz uma plateia inteira. Para ela, para essa excelente amadora, vão os nossos mais sinceros parabens.
André. desempenhado por José Silva, foi admirável em todas as scenas. Boa voz, optimo gesto e com um á vontade proprio dum homem d’aldeia que tem caixa do correio e Retiro dos pacatos.
Zé Cochicho, por Jorge Medina, muito bom, o que não admira porque é filho de peixe... e está tudo dito.
Narcizo, por Manuel Cordeiro, bem; é um dos amadores novos, mas de recursos para o palco.
Mordomo, gostámos. É um personagem que requere um certo esfôrço para dele se tirar partido, e António Medina conseguiu-o sem dificuldades.
O Carteiro, muito bem por João Nogueira; pena é que a sua voz não possa elevar-se mais, de resto andou em tudo admiravelmente.
Jorge, por Manuel Nogueira, foi correcto; mas devemos confessar que o encontramos um pouco deslocado do seu temperamento. Este, é um dos bons amadores tavaredenses, mas... como dizemos, o papel que desempenhou agora, não lhe está muito a caracter.
O Morgado, foi interpretado com aquele rigor absoluto, único,que só nos grandes amadores, como Raul Martins, se pode encontrar.
Propositadamente, deixamos para o fim o Aniceto Boticario, papel desempenhado por Adriano Silva, de quem não gostamos muito. Para que muda este cavalheiro de voz? Porque não fala naturalmente? Se assim fizesse, teria brilhado muito mais, visto ter explendidas qualidades para a arte de Taalma.
Nos finaes de acto, houve chamadas especiaes ao Ensaiador, e Herculano Rocha, e a D. Violinda Medina, tendo a Direcção no final do 2º. acto oferecido a estes elementos bouquets de flores naturaes.
E eis, caros leitores, a opinião que formulei acerca da opereta Entre duas Avé-Marias, levada á scena por um dos mais completos grupos dramaticos do concelho desta linda cidade”.
No mês seguinte, fizeram nova deslocação à Marinha Grande. Vejamos como correu.
“É com a maior satisfação que hoje notiamos a ida da Secção Dramática do benemérito Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, acompanhado de muitos sócios, à laboriosa e hospitaleira Vila da Marinha Grande, assim como bem hão-de dizer todos aqueles que, mais de perto, sentiram, arfar-lhe no peito, uma jubilosa alegria, que só se sente quando estreitamos nos braços um povo amigo e bom como são os marinhenses.
Já esperávamos o resultado obtido, pois que nem outra coisa era de esperar, dado as qualidades de que são dotados todos os filhos da Marinha Grande, e ás simpatias de que ali gosam os nossos conterrâneos.
Ora, como motivos vários e imprevistos nos impediram que os acompanhássemos, e para melhor e mais minuciosamente ilucidarmos os nossos leitores, era-nos necessário, indispensável mesmo, que entre um nucleo tão compacto, como foi aquele que até à Marinha debandou no último sábado, escolhessemos uma pessoa que nos informasse do que mais notavel ali se tivesse passado.
Escolhemos o nosso particular amigo sr. Raul Martins.
- Chegados á estação - disse-nos - uma enorme multidão enchia completamente a gare, á nossa chegada, vendo-se entre ela o estandarte do Operario Club Marinhense e representantes dos Bombeiros Voluntários e Atlético Club Marinhense, d’aquela terra, que á chegada dos tavaredenses levantaram vivas ao Grupo Musical e Tavarede, que foram correspondidos por este.
Trocados os cumprimentos, formou-se um cortejo imponente, que se dirigiu, visto o adeantado da hora, para o Teatro Stephens, propriedade dos Bombeiros Voluntários, e onde se realisaram os espectaculos.
Momentos depois, a casa principiou a encher-se, notando-se, no entanto, algumas falhas na plateia, e representou-se a opereta Entre Duas Avé-Marias, que foi calorosamente aplaudida nas passagens mais notaveis, tendo sido feitas chamadas especiaes ao ensaiador, Violinda Medina, Manuel Nogueira e Herculano Rocha.
- Passamos ao dia seguinte, domingo, 3.
- Depois de percorridos varios pontos de paisagem verdadeiramente exuberantes e visitados alguns logares mais notaveis da Vila, fomos assistir a um match de foot.ball, que devia ter lugar entre um forte onze do Atletico Club Marinhense e um composto por elementos da Secção Dramatica.
- Depois de uma renhida luta, sairam vencedores os nossos adversários pelo elevado score de 5-1; tendo, no entanto, merecido aplausos os jogadores nossos, Manuel Cordeiro, Manuel Nogueira e João Medina, que, sem exagero, foram os melhores homens da tarde.
- Depois fomos assistir a uma festa que, por volta das 4 horas teve lugar na Associação Humanitaria dos Bombeiros Voluntarios d’aquela vila, onde foram trocados calorosos brindes.
- E depois de satisfazer-mos as exigencias do estomago fomos novamente para o Teatro.
- Qual o nosso espanto quando ouvimos dizer que jà não havia bilhetes para o espectaculko, que a seguir ia ter lugar.
- Efectivamente, muito antes da hora marcada, a casa estava completamente á cunha. E representou-se a opereta Noite de Santo Antonio, tendo a completar um Acto Arrevistado, que foi muito aplaudida, tendo sido feitas, novamente, chamadas especiaes aos amadores, ensaiador e maestro.
- No final do espectaculo, foi, por um grupo de habitantes da Marinha, pedido para que fôsse executada novamente a marcha Figueira da Foz, que no final foi calorosamente aplaudida, tendo todos retirado com explendidas impressões.
E depois de nos dizer o que aí fica, ia a retirar-se, quando o prendemos ainda com algumas palavras sobre o dia de segunda-feira, ao que nos respondeu:
- Olhe, meu amigo. Já andavamos um pouco massados pelas noites perdidas, mas no entanto, ainda percorremos algumas fabricas de vidros e cristaes, que, com grande deferência ali fômos recebidos, e... mais nada.
- Agora, para fechar, termino com estas palavras que, com a maior sinceridade as pronuncio: - A Secção Dramatica do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, póde orgulhar-se do êxito obtido nesta louvavel iniciativa, onde soube engrandecer, mais uma vez, o nome da colectividade e da terra que lhe dão o nome, colhendo loiros tão belos, grinaldas tão floridas, que se ostentam hoje, e sempre, triunfal e orgulhosamente na flâmula querida daquele estandarte... - e apontou-nos o estandarte do Grupo Musical.
É pois, daqui, desta modesta tribuna, onde combatemos pelo desenvolvimento do Grupo Musical, como um valioso baluarte da Instrução, que póde orgulhar-se de ser, e sobretudo o nome de Tavarede, saudamos, franca e abertamente, a pleiade de rapazes e raparigas que constituem a aureolada Secção Dramatica do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, assim como á sua digna Direcção”.
Meses depois, foi a tuna do Grupo que se deslocou à Martingança. Foi no regresso desta viagem que, no Mosteiro da batalha, deixaram uma lápide de homenagem ao Soldado desconhecido e que, ainda há muito pouco tempo, lá estava afixada, conjuntamente com muitas outras, mas, da última vez que ali estive, tinham todas sido arrancadas e, possivelmente, transferidas para outro local.
Entretanto, a terrível crise que havia, tempos antes, atingido o Grupo Musical e que procurarei descrever no capítulo seguinte, dificultava a acção cultural da colectividade, que cada vez lutava mais com imensas dificuldades.
Mas ainda vou aqui registar a deslocação, no dia 1 de Abril, à vizinha Alhadas.
“Simplesmente brilhante a récita de segunda feira, 1, no teatro da Boa União Alhadense, pela secção dramática do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense. Na nossa terra deixou o simpático Grupo as melhores impressões. Se bem que nos mereçam as mais lisongeiras referências os distintos amadores, abstemo-nos de as fazer, não devendo, porém, deixar de endereçar as nossas sinceras felicitações à distinta amadora D. Violinda Medina.
“Entre Duas Avé-Marias” é uma opereta conhecidíssima, mas agrada sempre, e o Grupo de Tavarede representou-a de forma a agradar bem. Já isso prebvíamos, atendendo ao meticuloso cuidado de Raúl Martins e à competência musical de Herculano Rocha. E, a propósito, já que falamos deste distinto maestro, queremos-lhe dar aqui, espitirualmente, um abraço pela feliz inspiração da sua “Marcha” de abertura do espectáculo, cuja execução pela orquestra foi magistral, prendendo a atenção da numerosa e escolhida assistência que, no final, o presenteou com uma lomga salva de palmas”.
E em Maio ainda apresentaram na Figueira um novo espectáculo. “Supômos que os autores da “Mãe Maria” pensavam fazer uma peçasinha ligeira e fácil, com motivos populares e simples. Música sob a regência de Herculano Rocha – e está tudo dito, que este músico distinto, tem feitos seus créditos. Violinda Medina, a excelente amadora de sempre. Coros fartos enchendo a cena. E vá sem favor – primorosas raparigas, de lindos rostos e garrido aspecto. A casa cheia... E aplausos nos remates de acto. Estas récitas são sempre um motivo de cultura. Por isso de elogiar os seus organizadores. O que fazemos com gosto”.
E chegamos a 1930. O edifício da sede foi vendido. Ainda lá estiveram, em regime de aluguer e como veremos adiante, mais uns tempos. Praticamente cessaram as actividades culturais. Ainda foi possível reorganizar a Tuna para uma deslocação a Vizeu, no dia 14 de Setembro, integrada numa excursão organizada pela Comissão de Iniciativas da Figueira da Foz.
Com todas as dificuldades, e tendo sido decidido que só participassem sócios da colectividade, foi a primeira vez que se apresentaram com o elevado número de 40 figuras. Foi seu ensaiador e dirigente o nosso conterrâneo António de Oliveira Cordeiro.
Mas os anos dourados haviam terminado. E, diga-se com verdade, culturalmente, foi um período brilhantíssimo da colectividade. Mas a história é implacável e os problemas surgidos com a compra da sede e com as obras de restauro, bem como as elevadas despesas com o grupo cénico, a tuna, a escola nocturna e demais actividades, não conseguiram ser ultrapadssadas, apesar dos esforços das sucessivas direcções e componentes artísticos. À distância, longe de viver aquela dramática situação, ocorre-me a pergunta: terá valido de alguma coisa o sacrifício e luta de cêrca de uns longos e difíceis dez anos? A resposta tem de ser afirmativa. A colectividade ganhou e perdeu. A terra do limonete, o mesmo. Mas os tavaredenses, como pessoas ambiciosas de cultura, ganharam, com toda a certeza. Meia dúzia, uma dúzia, ou talvez mais, de algumas dedicações à associação, sofreram muito, é certo, tiveram mesmo um enorme prejuizo económico, mas a história do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense ganhou o pleno direito à admiração e respeito de todos os tavaredenses que se seguiram àquela conturbada época.
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