Sapateiro de profissão, tentou seguir a carreira militar como músico, na banda do Regimento de Infantaria 20. Antevendo, no entanto, dificuldades em conseguir atingir uma breve promoção, deixou a tropa e empregou-se nas oficinas dos caminhos de ferro.
Seguindo o exemplo familiar, desde muito novo se integrou no Grupo Musical, fundado por seu pai, como amador teatral e músico. Tinha especial vocação para a opereta e para a comédia, havendo várias referências elogiosas a actuações suas.
Na Tuna, tocou bandolim, banjo e viola. Quando o Grupo Musical acabou com a secção dramática, foi um dos elementos que passaram a colaborar na Sociedade de Instrução. Iniciou-se, nesta colectividade, na opereta As pupilas do Senhor Reitor, participando, entre outras, em Entre Giestas e Recompensa. Em 1940 e 1941, foi um dos mais entusiasmados com a reposição que o Grupo Musical fez, no teatro da Sociedade, do “velho” Presépio.
Em 1940 foi um dos elementos iniciais do conjunto “Lúcia Lima Jazz”, organizado por seu irmão José, tocando trombone, instrumento que havia tocado na banda militar. Por motivo de saúde passou a tocar rabecão, mantendo-se no conjunto cerca de quinze anos.
Conjuntamente com seus primos Jorge e João e alguns amigos, fundou o grupo “Os Inseparáveis” que, todos os dias 1 de Maio, se reuniam em alegre confraternização. Com a aderência de muitos amigos, este grupo era bastante acarinhado, pois, esses dias, eram sempre dias de festa na terra, que eles acordavam bem cedo com a alvorada que faziam pelas ruas da aldeia, em alegre arruada.
Internado nos Hospitais da Universidade de Coimbra, onde foi operado ao estômago, devido ao tormento que passou com a sede e conhecendo bem a frescura deliciosa da fonte do Prazo, fez a promessa de ir com a família, no primeiro domingo de Julho de cada ano, passar o dia junto da capela de S. Paio. Com o passar dos anos, além da família e amigos mais próximos, esta reunião tornou-se verdadeira romaria, com muita gente atraída pela dança e jogos de cartas e malhas que ali se realizavam. Uma desordem entre pessoas estranhas, levou a que esta romaria acabasse, passando unicamente, enquanto a saúde lho permitiu, a ali ir almoçar e passar um bocado da tarde com a família mais chegada.
De espírito alegre e divertido, sempre aparentando boa disposição, apesar da doença que o minava interiormente e o levou muito cedo, pois faleceu em 3 de Setembro de 1959, com 53 anos, tinha sempre uma anedota ou uma historieta para contar, algumas das quais um pouco picantes, mas que eram as mais desejadas de ouvir.
Abriu uma oficina de sapataria em Tavarede, primeiro na Rua Direita e depois em sua casa, no Largo do Terreiro, para consertos e obra nova, onde tinha bastante clientela, principalmente de companheiros seus no trabalho. Também fazia parte do grupo de caçadores que, na época própria, calcorreavam montes e vales vizinhos, em busca de um ou dois coelhos que, normalmente, eram comidos depois da caçada, na loja do Guerreiro.
Em 1953 foi nomeado regedor mas, devido à precária saúde, pediu escusa do cargo pouco tempo depois de tomar posse.
São muitas as histórias que ele “pregava” aos amigos. Algumas delas já estão contadas noutros trabalhos. Amanhava uma pequena leira na fazenda da Chã, que era de seus pais. Batatas e vinho eram a principal produção, assim como no pequeno quintal de sua casa. Mas, tanto isto como outros produtos, as chamadas novidades, eram sempre semeados e colhidos em pequeníssimas quantidades. O vinho, então, dos corrimões plantados à volta da terra, para chegar aos 100 litros era sempre necessário juntar alguns canecos de água da fonte. Um dia, querendo confraternizar com os amigos com uma merenda farta e para provarem a “colheita” desse ano, lembrou-se de ir perguntar ao Guerreiro, que explorava a loja que fora de Francisco Cordeiro e de sua filha Emília, se estava disposto a comprar vinho novo, de qualidade especial e que certamente chamaria farta clientela.
Há pouco tempo na terra, não desconfiou e interessado em vinho bom, do lavrador, isso nem se perguntava. Combinaram de imediato ir fazer a prova nessa tarde, para o que lhe disse para levar uma boa merenda. À hora marcada, lá apareceu o Guerreiro, com uma farta omeleta de chouriço e carne, bem como as indispensáveis azeitonas e o pão. A loja da casa era bastante escura, pois só uma pequenina janela permitia a entrada da luz. Num pequeno quarto que havia à entrada, já estava preparada a mesa e respectivos copos. Logo assentaram arraiais e vá de começar a petiscar para fazer o peito à pinga.
O Guerreiro bem procurava ver a adega e os tonéis, mas a escuridão era total. Quando o petisco estava quase no final, agarra numa picheira e aí vão todos à adega para espichar a pipa principal. Qual foi o espanto do Guerreiro quando se depara com um pequeno barril de 100 litros… Claro que tudo acabou com uma valente gargalhada e sem qualquer ressentimento.
Caderno: Tavaredenses com História
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