sábado, 2 de outubro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 57

O ano de 1973 trouxe, novamente, Molière ao nosso palco. Foi reposta a peça “Médico à Força”, que também levámos a Arazede, Paião, Lavos, Vila Verde e Quiaios.
“... Nos últimos anos, as beneméritas actividades da Sociedade de Instrução Tavaredense, como as das agremiações da mesma índole, não têm conhecido tempos fáceis. Lutando com dificuldades e embaraços limitativos do seu amplo desenvolvimento, os grupos de amadores de teatro só subsistem mercê duma devoção total dos entusiastas. Para eles o palco é uma consciente opção de valorização própria e alheia, é uma consciente opção de valorização da cultura portuguesa. Algumas dessas agremiações deixam cair os braços, fica apenas a recordação de tempos que jamais esquecerão. Tempos de exemplar vida cívica, que não deviam ser indiferentes a uma comunidade que não pode perder o rumo duma vida dignificante”.
Estes lamentos não se referiam à nossa Colectividade, que prosseguia activamente a sua missão cultural.
Com um programa composto pelos autos de Gil Vicente “Barca do Inferno”, “Todo o Mundo e Ninguém” e “Pranto da Maria Parda”, e pela comédia “Uma Teima”, foi comemorado o 70º aniversário da fundação.
Todo o Mundo e Ninguém, de Gil Vicente

Mestre José Ribeiro, na sessão solene, referiu-se às dificuldades então vividas pelas colectividades de cultura popular e que acima referimos.
“... à acção das colectividades de cultura e recreio espalhadas por todas essas vilas e aldeias onde, e só graças a elas, o povo não perdeu ainda de todo o gosto do teatro, e perguntou: - Será o teatro um meio de cultura popular? Serão essas colectividades um instrumento útil e necessário à divulgação do teatro? Se se responde a estas perguntas pela afirmativa, então que se atente nas dificuldades com que lutam e tratemos de as remover. Ao Estado em primeiro lugar cumpre facultar-lhes os meios de vida, mas sem se lhes tocar na sua liberdade de acção, isto é, sem se lhes pretender impor um figurino único. Quais os meios para tal fim? Não será pedir muito ao Estado – se o Estado lhes reconhecer a utilidade pública – pretender que se adoptem as necessárias providências...”
Foram várias as providências apresentadas por Mestre José Ribeiro, a isenção de impostos nos espectáculos para os sócios, a eliminação das inúmeras dificuldades burocráticas com a classificação das peças e outras mais que nos dispensamos de estar aqui a transcrever.
O relatório de 1974 refere “com profunda tristeza” o falecimento de quatro grandes dedicações à SIT: Professor Rui Fernandes Martins, durante muitos anos presidente da Assembleia Geral; Anselmo de Oliveira Cardoso, competentíssimo amador musical que sucedeu a António Simões na regência da orquestra da colectividade e autor musical de muitos números de música de diversas “fantasias” aqui levadas à cena, de que destacamos a “Canção do Limonete”; António de Oliveira Lopes, presidente da Direcção por vários anos e dos principais impulsionadores das obras de remodelação e ampliação da sede; e o Professor Alberto de Lacerda, poeta e pintor a que já várias vezes nos temos referido.

Quadro 'O Ensaio', do pintor e poeta Alberto de Lacerda, exposto no Salão Nobre da SIT

No dia 22 de Fevereiro de 1975, uma nova “fantasia” é levada à cena, “Mesa Redonda”. No ensaio geral, feito na véspera, a Radiotelevisão Portuguesa fez uma recolha de algumas cenas e gravou uma entrevista com o director do grupo cénico, posteriormente transmitida.
Ainda naquele ano apresentou-se a peça “O Jogo do Amor e do Acaso”. Deixemos, também, o apontamento dos espectáculos que aqui vieram apresentar: em 1974, o Grupo Instrução e Recreio, de Quiaios, com a peça “Duas Causas”; em 1975, o Grupo Recreativo Vilaverdense, de Vila Verde, com “A Traição do Padre Martinho”; e o Grupo dos Trabalhadores Bancários, da Figueira da Foz, com “A Inês do Castro” e um acto de variedades com onze quadros. E no ano de 1976, foi o grupo cénico da Troupe Recreativa Brenhense, com a peça “A Mãe dos Escravos”.
Neste último ano, o nosso grupo representou a peça “Monserrate” e, no dia 27 de Março, Mestre José Ribeiro proferiu mais uma das suas palestras, com o tema “Liberdades e Abusos do Encenador”.


Jogo do Amor e do Acaso

Também prosseguiam as obras no pavilhão desportivo, “... a par e passo, com o desenvolvimento dos processos que a Comissão de Obras adoptou, era evidente que à medida que os trabalhos iam decorrendo, houve necessidade de ir estudando e adquirindo as condições indispensáveis para podermos organizar diversões que nos possibilitassem a angariação de fundos para o prosseguimento das referidas obras. Foi, na verdade, extremamente simpática e reveladora de verdadeiro espírito associativo a contribuição dada por algumas centenas de associados e amigos, que de qualquer forma deram, uns mais, outros menos, o seu esforço para a nossa Sociedade”.
Para que fosse concluída a primeira fase destas obras, foi necessário, uma vez mais, recorrer a um empréstimo, o qual foi obtido entre os sócios e teve o montante de 166 mil escudos.

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