quinta-feira, 28 de outubro de 2010

S. MARTINHO DE DUME

Bispo de Dume e arcebispo de Braga. Era natural de Panónia, como S. Martinho de Tours, e dirigia-se da Palestina em peregrinação ao túmulo do seu homónimo quando encontrou os delegados do rei suevo Charrarico, que invocara o santo bispo de Tours numa doença de seu filho Teodomiro e agora enviava os seus emissários à Gália em busca das relíquias do santo. S. Martinho encaminou-se para a Península com as relíquias e desembarcou num dos portos da costa ocidental, talvez Portucale.

Iniciou S. Martinho a sua evangelização e fundou em Dume um mosteiro. Em 556 Dume era elevada à dignidade episcopal e S. Martinho escolhido para seu primeiro bispo.

Em 569 vagou a sé de Braga por morte do arcebispo Lucrécio e S. Martinho foi elevado a prelado, da metrópole bracarense, sem todavia deixar de ser bispo de Dume. E, 569 Teodomiro criou a nova metrópole de Lugo. Os prelados das duas dioceses reuniram em Braga o II Concílio (572) e como complemento da obra deste concílio, S. Martinho encarregou-se de ordenar uma Colecção dos Cânones dos Concílios Orientais. Publicou ainda outros muitos, como Fórmula honestae e De correctione rusticorum. Atribuem-se-lhe também várias composições poéticas.

S. Martinho de Dume faleceu em 2o.111.579 e foi sepultado na catedral de Dume. Em 1606 foram as suas relíquias depositadas na Sé de Braga, onde se celebra e sua festa a 20 de Março
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OBRAS: Podem dividir-se em ascético-morais, vanónico-litúrgicas e poéticas. A) A Formula vitae honestae, dedicada ao rei Teodomiro, a cujo pedido foi escrita, é um excelente tratado de moral natural sobre as quatro virtudes cardeais, destinado à formação do rei e seus cortesãos. Esta espécie de “Espelho de príncipes” divulgou-se muito na Idade Média, mas atribuída, em geral, a Séneca, por ser muito influenciada pelo filósofo cordovês, denominando-se frequentemente De ( ou Liber de) quattuor virtutibus. De ira, obra de filos, moral, escrita a pedido de Vitimiro, bispo de Orense, é uma adaptação do livro homónimo de Séneca. Pro repellenda iactantia, De superbia e Exhortatio humilitatis, agrupados às vezes com o nome de Opus tripartitum, são três pequenos tratdos de inspiração evangélica sobre a moral cristã, a servir de remate à doutrina dos dois primeiros opúsculos. Sententiae patrum Aegyptiorum, colecção de apotegmas traduzida do grego para leitura espiritual e edificação dos monges. De correctione rusticorum, exortação pastoral, escrita a pedido de Polémio, bispo de Astorga, destinava-se a extirpar as práticas pagãs e superstições ainda vigentes sobretudo entre gente cristã dos campos, procurando levar os fiéis a cumprir as promessas feitas no baptismo. Um dos abusos condenados é a denominação pagã dos dias da semana. Esta obra é muito importante para conhecer os usos e costumes então vigentes entre nós. B) Além da epístola De trina mersione, enviada ao bispo Bonifácio, talvez de Itália, a defender o baptismo por tríplice imersão, temos no 2º. grupo os Capitula Martini ou Canones ex orientalium patrum synodis, colecção sistemática de 84 cânones em que Martinho de Dume adaptou a legislação de diversos concílios orientais e do I de Toledo às necessidades e circunstâncias peculiares da Igreja sueva, acrescentado-lhe algumas novas disposições. Por ter participado nos dois primeiros Concílios Bracarenses, atribui-se-lhe a redacção das respectivas actas. C) Restam dele três poesias, com um total de 38 exâmetros de sabor clássico: In basilica, na Igreja de S. Martinho de Tours, em Dume; In refectorio, gravada no refeitório do mosteiro, e o seu Epitaphium. Perdeu-se um Volumen Epistolarum de formação religiosa, que Santo Izidoro chegou a ler e também a correspondência trocada com Venâncio Fortunato, com a rainha Santa Radegundes e a superiora e religiosas do mosteiro de Santa Cruz de Poitiers, que poderia estar incluído no citado Volumen. Santo Isidoro atribui a Martinho de Dume outras obras, hoje desconhecidas: regulam fidei et sanctae religionis constituit (...) copiosaque praecepta piae institutionis composuit. A. Lambert atribui a Martinho de Dume o ofício da festa da ordenação de S. Martinho de Tours. Martinho de Dume escreveu um tratado de cômputo pascal, que se desconhece, não podendo aceitar-se como dele o De Pascha, que alguns lhe atribuem, porque este tratado defende doutrina priscilianista enèrgicamente combatida pelo nosso santo. São de autenticidade muito duvidosa os tratados senequistas De moribus e De paupertate. Martinho de Dume teve também influência na versão latina dos Aposphthegmata Patrum, feita a seu pedido por Pascásio de Dume, que, no prefácio, lhe pede para polir esta versão do grego: ut tuo polire sermone digneris exposco.

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