Lancemos a vista sobre a bacia em que assenta Tavarede, povoação que é hoje objecto de infundamentadas questões sobre a conveniencia de trazer por dentro d’ella a estrada districtal que ha de ligar-nos a Aveiro.
Analysemos primeiramente os montes que a rodeiam, as vias de communicação que encerra, as producções da agricultura do terreno que a forma, e com esse conjuncto de apreciações poderemos mais uma vez avaliar a razão de obrigar a um desvio o traçado ja estudado.
Tavarede está situada nu fundo da bacia em um vale profundo, apenas a quatro metros acima do nivel do mar, na direcção do poente ao nascente até á Cumieira, a serra da Boa-viagem.
Duas ramificações d’esta serra partem - uma do ponto da povoação da Serra, prolongando-se pelos Condados para o sul, até chegar ao logar do Senhor do Areeiro a 600 metros ao poente de Tavarede, onde termina limitando o horizonte d’essa povoação por este lado; - outra - partindo da mesma serra e na direcção de Cabanas, estende-se pelo Saltadouro, Prazo, Araujo, Cazal da Robala, e principiando a deprimir-se n’este ultimo ponto acaba na margem do Mondego, junto dos Estaleiros.
Um outro monte principia a elevar-se junto do logar do Senhor do Areeiro, continuando a ramificação da serra perdida n’aquelle ponto. A partir d’alli, o monte continúa por alguma distancia e divide-se depois em trez partes: uma que segue para o Sudoeste, e é aquella em que assenta a nossa egreja matriz; a outra, parallela a esta, é a base da rua da Lomba; a terceira, crescendo do Pinhal para a Sueste, assenta n’ella o casal da Lapa, indo depois perder o nome junto dos estaleiros.
A bacia em que assenta Tavarede, emmoldurada do norte, nascente e poente, pelos montes que designei, é aberta ao sul do lado onde passa o Mondego, a dois kilometros abaixo d’aquella povoação. Tem de comprimento, do norte a sul 2:500 metros, e de largura 700, sendo atravessada longitudinalmente por um ribeiro que recebe as aguas das vertentes da Serra da Boa-viagem, e do Saltadouro, e, passado á extremidade do lado do nascente de Tavarede, deslisando pela planicie abaixo, vae pela fonte da Varzea a desaguar no Mondego. No decurso do trajecto do ribeiro estão montadas trez azenhas. A bacia, é em grande parte destituida de terreno proprio para ser agricultado, a parte mais prozxima do rio é ocupada por marinhas de sal, cujas propriedades pertencem a individuos d’esta villa, e terá uma area de 150:000 m.q. Segue-se-lhe para o norte quasi outro tanto de superficie de terreno em parte apaúlado, e abandonado a pousio e á espontanea vegetação de juncaes. Mais para acima, - talvez não erre a estima - um terço da superficie total da bacia que envolve Tavarede serve ao cultivo de cereaes e productos hortenses, mas em tão pequena quantidade, que mal compensam o trabalho do lavrador, tanto que, os proprietários, na maior parte da Figueira, têm preferido trazer arrendadas essas terras a cultival-as por sua conta. Os rendeiros, não obstante correr por suas mãos todo o serviço do cultivo, tiram bem magros recursos d’esse trabalho, e tanto que uma grande parte d’elles, não podendo viver unicamente d’estes proventos, vem aqui empregar-se quasi todo o anno, prestando os seus serviços braçaes nos armazens de vinhos, como carreiros, ou em outros misteres.
Quasi toda aquella planicie possue para esta villa um magnifico caminho a mac-adam, que, partindo da proximidade da quinta do sr. dr. Borges, a quatro centos metros abaixo de Tavarede, vem para o sul, em volta, a encontrar a fonte da Varzea, e para diante d’aqui sobe a um alto onde se bifurca para o sul a encontrar a extremidade d’esta villa pelo lado do Matto, e para o poente vem encostado ao cemitério, a sahir do Pinhal.
A extremidade norte da bacia tem a boa estrada a mac-adam que de Tavarede vem á Figueira.
Além d’essas estradas existem ainda uns caminhos menos importantes; um d’elles tem origem na estrada da Varzea, apoia-se na vertente do monte que limita a bacia pelo poente, e segue áquella povoação. Esta é muito concorrida pela gente que se dirige á Figueira. Pelo lado do sul temos a estrada dos Estaleiros, por onde é feito o serviço das marinhas que há n’aquelle local.
Ahi deixo esboçada a região que deverá servir de base a qualquer argumento material, attinente a querer forçar o traçado a passar por Tavarede.
(Este apontamento foi retirado de uma extensa notícia, publicada no jornal 'Gazeta da Figueira' e da autoria de Ernesto Fernandes Tomás, sobre o projecto para a construção na nova estrada Figueira da Foz - Aveiro, a chamada Estrada de Mira)
Quero desde já felicitá-lo por nos trazer estas memórias, desta bela terra, contudo gostaria de saber a data de tal notícia. Grande obrigado
ResponderEliminarCaro Amigo
ResponderEliminarA notícia em questão foi publicada em 1876 no lornal 'Correspondência da Figueira' e não na 'Gazeta da Figueira', como por lapso indiquei.
Um abraço