sábado, 30 de outubro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 62

Terminadas as festas comemorativas das ‘Bodas de Diamante’, que tanto êxito alcançaram, continuou a actividade teatral com a apresentação da peça ‘Ontem, Hoje e Amanhã’. Em Março, no jornal ‘A Voz da Figueira’, foi publicada a seguinte nota:

“Com o pé no estribo para uma curta viagem que não sei se será o prólogo de outra maior – a maior de todas as viagens – transmito ao teclado máquina de escrever o breve apontamento que se segue acerca do espectáculo a que há poucas horas assisti no bem reputado teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, com a revista “Ontem, Hoje e Amanhã” desse excepcional homem de teatro e apóstolo da cultura popular, que é José da Silva Ribeiro. Dizer que nos surpreendeu a boa confecção do espectáculo, não seria exprimir a verdade. Mas que nos surpreende como um homem com a provecta idade de 84 anos foi capaz, não dizemos de ensaiar mas de escrever o texto, boa parte do qual em verso – género difícil em teatro – verso bem construído, vigoroso, com rimas naturais, sem artifício de martelo, que nos lembram os grandes clássico das nossas letras, isso, sim, isso surpreendeu-nos e levou-nos, no final, a exclamar: abençoados 84 anos!

Doseando a fantasia com a história de forma a que o espectador aceite a mistura sem enfado – eis outra vitória do autor. A música, parte da qual transportada de números antigos que foram êxito e consagraram compositores como António Simões e Anselmo Cardoso – valoriza sem dúvida o espectáculo. João Cascão Filho dá também com a sua intervenção musical, uma nota de ternura muito grata aos que conheceram seu saudoso pai em incontestáveis êxitos que o impuseram como amador teatral de excepcional craveira.

Dessa fornada notável de amadores, dá gosto ver actuar ainda José Luiz do Nascimento, Fernando Reis, João de Oliveira Júnior e João e José Medina. São os grandes trunfos de ontem. Os de hoje seguem as suas pisadas. E os de amanhã não desmerecerão certamente os créditos dos antecessores, se o espírito de José Ribeiro continuar a presidir à caminhada teatral da SIT. Tavarede foi sempre um alfobre de grandes amadores teatrais!’.



Embora já o tenhamos referido, não queremos deixar de publicar a pequena notícia que ‘Barca Nova’ publicou em Maio de 1979, a propósito do regresso ao palco de Violinda Medina. Deu-lhe o título: ‘Uma legenda do teatro de Tavarede regressa ao palco’: “Já lá vai, talvez, uma trintena de anos, era eu ainda uma criança de calção e bibe. Em Tavarede, onde fora ao teatro pela mão de meu pai, recordo que pouco faltou para a casa vir abaixo, tamanha foi a trovoada de aplausos que culminou a representação da peça então em cena. Uma amadora era especialmente distinguida: Violinda Medina e Silva.

Passaram os anos, tudo naturalmente envelheceu. Se D. Violinda levar hoje os dias agarrada a recordações, não me admiro. Eu próprio, bem mais novo, me tenho visto já a debruçar nos terraços do tempo, buscando na memória pessoas e coisas que a emoção gravou. Violinda Medina e Silva é, por exemplo, uma delas. Recordo o seu porte majestoso no papel de Madalena de Vilhena; a sua naturalidade exemplar em Os Velhos, de João da Câmara; o seu admirável desempenho em As Árvores Morrem de Pé, de Alejandro Casona. Recordo tudo isso. Mas poderia lembrar muitas outras representações em que interveio o seu talento invulgar.

Pois Violinda Medina e Silva – essa extraordinária mulher da cena portuguesa – vai regressar ao palco. Em Tavarede, pois onde havia de ser? É ali que ela tem levado toda uma vida de devoção pelo teatro; foi ali que ela conheceu os maiores êxitos da sua carreira; é ainda ali que, religiosamente arrecadadas, velhinhas tábuas de um antigo palco aguardam, sem pressas, o dia de serem a mortalha da actriz.

NOTA: Talvez que o leitor se surpreenda com o último parágrafo, ou melhor, não compreenda bem… Se estiver nesse caso é porque não sabe que Violinda Medina e Silva deseja ter por caixão… as tábuas do antigo palco do Teatro de Tavarede. As tábuas estão arrecadadas, e a sua vontade cumprir-se-á. Oxalá que daqui por muitos, muitos anos…”

Fotos - 1 e 2 - Ontem, Hoje e Amanhã; 3 - Violinda Medina e Silva

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