quinta-feira, 28 de outubro de 2010

S. MARTINHO

Bispo de Tours (actual Szambatkely, Hungria, 316 ou 317 - Candes, França, 8.11.397). Filho de um oficial do exército romano e nascido num posto militar fronteiriço, após estudos humanísticos, em Pavia, aos 15 anos entrou para o exército quando já a sua vontade o inclinava a fazer-se monge (aos 10 anos inscrevera-se como catecúmeno).

Em Amiens, provavelmente em 338, durante uma ronda nocturna no rigor do inverno encontrou um pobre seminu: não tendo à mão dinheiro para lhe valer, com a espada dividiu ao meio a sua clâmide que repartiu com o desconhecido. Na noite seguinte, em sonhos, viu Jesus, que disse: “Martinho, apesar de somente catecúmeno, cobriu-me com a sua capa”.

Recebeu a baptismo na Páscoa de 339, continuando como oficial da guarda imperial até aos 40 anos. Abandonando a vida castrense, foi ter com Santo Hilário de Poitiers, que lhe conferiu ordens sacras e lhe deu possibilidade de levar vida monacal: nasceu, assim, o famoso Mosteiro de Ligugé. Em breve ganhou fama de taumaturgo. Eleiro, por aclamação, bispo de Tours, foi sagrado provavelmente a 4.7.371.

Ardente propragador de fé, fundou, em Marmoutier, um mosteiro donde saíram notáveis missionários e reformadores. Demoliu templos pagãos e levantou mosteiros como sustentáculos da evangelização. Humilde e pacífico, manteve a sua independência perante o abuso da autoridade civil.

O fascínio das suas virtudes radicadas na generosidade do seu zelo, na nobreza do ser carácter e, sobretudo, na bondade ilimitada mantida para além da morte na prodigalidade dos seus milagres, magnificamente descritas pelo seu discípulo Sulpício Severo, fez com que São Martinho de Tours fosse durante muitos séculos o santo mais popular da Europa Ocidental.

A sua memória litúrgica é a 11 de Novembro.
UM MILAGRE DE S. MARTINHO
Caminhava um dia o virtuoso santo em direcção á sua cidade de Tours, e tinha já dado aos pobres todo o dinheiro que levava consigo. Apparece lhe no caminho um mendigo andrajoso e faminto, supplicando uma esmola.

Martinho, que não tinha mais que dar, rasgou a meio a capa em que se embrulhava e deu metade ao pobre.

Este, cheio de fome, entro n’uma locanda e pediu alguma coisa para comer, mas como não tinha com que pagar, deixou em penhor a parte da capa que o santo lhe tinha dado, promettendo vir resgatal-a quando podesse.

O taberneiro atirou desdenhosamente com ella para cima d’uma das pipas d’onde tirava vinho para os freguezes, e passados dias notou com espanto que o vinho não diminuia no casco. Tirando a capa de cima da vasilha, acabava logo o vinho; tornava a collocal-a, e o divino licor jorrava logo espumante da torneira.

Eis porque os amantes do sumo da uva, escolheram para seu patrono o santo e caridoso bispo.
A lenda do verão de São Martinho

Reza assim a lenda:

No alto de uma montanha agreste, despovoada e nua, vivia um monge miseravelmente... Alimentava-se de raizes, mortificava-se de jejuns e só de raro em raro descia às aldeias a mendigar... Um ano, porém, o inverno veio cedo, e os primeiros dias de Novembro foram de temporaes pegados, bramiam ventos uivando pelas penedias, rugiam coleras de raios as tempestades, urravam medonhamente os temporaes!...

Chuvas cantarejavam ás enxurradas, e a neve, como um lençol imenso de linho purissimo cobria tudo...

Entrou então a fome e o frio na choupana humilde de Martinho, e o pobre monge, acoçado pela inverneira, resignou-se a vir ao povoado pedir uma codea de pão que o alimentasse e uma acha de lenha que o aquecesse...

E embrulhando-se n’um farrapo esburacado, que era o seu unico manto, arrimou-se ao bordão, e pôz pés ao caminho...

Entresilhado de frio, tiritando, atravessava o bom do monge uma leiva em poisio, quando topou, desmaiado na nece, um caminhante velho, rôto e descalço como ele...

Condoeu-se, e tirando das costas o migalho de pano, todo de remendos, embrulhou n’ele o desgraçado...

Dos ceus, Deus, que tudo mira c’o seu olhar onipotente, sorriu...: e chamando o sol que beijava a lua sob a protéção das nuvens, mandou aproximar o Destino e escreveu no seu livro azul com letras d’oiro: -”Que todos os anos, por estes dias, o sol aqueça os que teem frio...”

O sol doirou a terra, nos roseiraes abriram-se botões de rosas, cravos exangues mostraram a chaga rubra da sua côr, trinaram rouxinoes, cantaram cotovias, assobiaram melros, voltaram andorinhas...

... E foi assim que nasceu o verão de S. Martinho!...
S. Martinho

Viva S. Martinho...

Reine a santa frescata... e chova vinho...

Ajoelhemos, tirando a barretina,

Ante o Santo que a todos nós domina.

Juremos, pondo a mão sobre o barril,

De fazer das guelas um funil

Quando o vinho corra... Viva! Viva

S. Martinho qu’os bebedores captiva!...

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