quarta-feira, 11 de novembro de 2009

HELENA RODRIGUES FIGUEIREDO MEDINA

Natural de Tavarede, onde nasceu no dia 23 de Março de 1894.
“… cedo conheceu as agruras da vida, quer nas terras que cultivava, nas secas do bacalhau e, até, nas pedreiras, quer como costureira, mister em que se realizou profissionalmente, verdadeira autodidacta nesta arte, mas extraordinariamente competente. O trabalho não a impediu de, com o maior entusiasmo, procurar cultivar-se espiritualmente no grupo cénico da Sociedade de Instrução (a sua segunda casa, como ainda não há muito tempo recordava), onde se mostrou amadora teatral de alta craveira, mantendo a tradição que já vinha de seus avós, José Luís do Inácio e Luísa Genoveva”.
Iniciou-se na arte teatral em 1914, na opereta Os amores do Coronel. Ainda nesse ano, desempenhou o papel da protagonista em Os amores de Mariana, substituindo Eugénia Tondela. “… possui uma voz bem timbrada, muito agradável e com os recursos que a partitura exige”. O Voluntário de Cuba, Falsa Adúltera, A pupila do Corregedor, Amor de Perdição, Entre duas Ave-Marias e Noite de S. João, foram peças por si protagonizadas, entre outras.
“… amadora de qualidades muito apreciáveis, tem de satisfazer exigências da música excessivamente extensa e dolente e, como tal, fatigante”, escreveu um crítico apreciando o seu trabalho na opereta Entre duas Ave-Marias.
Por ocasião das Bodas de Ouro daquela colectividade, reviveu no palco o papel de Mariana, que desempenhara quarenta anos antes! “Foi com verdadeira emoção e ternura que o público viu aparecer no palco as figuras remoçadas de Helena Figueiredo…”. Ainda participou nas peças A Conspiradora (1957), Os Velhos (1958) e Terra do Limonete (1961).
Mestre José Ribeiro, numa das suas últimas entrevistas, recordou-a. “… foi primeira figura durante anos. Era uma figurinha agradável e tinha uma linda voz que a fazia brilhar na opereta”.
Nos últimos anos da sua vida, que viveu em casa de sua filha, Otília, era visitada por muitos amigos, que recordavam, saudosamente, tempos antigos. José Ribeiro, uma das habituais visitas, disse-lhe um dia: - Olha lá, Helena. Somos da mesma idade, pois nascemos no mesmo ano. Porque é que eu te trato por tu e tu me tratas por senhor? – O respeito, senhor José, o respeito, respondeu ela. Realmente sempre foi respeitadora, amiga e humilde para com toda a gente.
Casou em 1910, com José Gomes de Figueiredo, seu tio. Enviuvou cedo e, anos mais tarde, casou com José Nunes Medina. Do primeiro casamento teve uma filha, Maria José, e do segundo, outra, Otília.
Faleceu no dia 21 de Julho de 1997, com 103 anos. “… foi, no dia a dia, uma figura carismática, autodidacta, na aprendizagem da arte de costura, a sua vontade de progredir era de tal forma determinada que, para atingir os seus fins, desmanchava peças de vestuário para novamente as cozer”.

Já centenária, ainda cantava as cantigas do “seu” teatro, lembrando-se das letras, algumas das quais bem picantes, por sinal.
A Sociedade de Instrução Tavaredense homenageou-a nomeando-a sócia honorária e descerrando o seu retrato, o qual se encontra exposto no salão nobre da colectividade.

Caderno: Tavaredenses com história

Como complemento à biografia acima, julgo interessante incluir aqui uma notícia publicada dias antes da homenagem que lhe foi prestada na comemoração dos 100 anos de vida.
Nasceu num período agitado da vida portuguesa e numa altura em que o crescimento da Figueira da Foz se fez sentir na comunidade rural que era então Tavarede. Dessa época viria Helena Figueiredo Medina a sentir bem de perto as suas convulsões, com tudo o que isso implicava para quem não tivesse nascido em berço de ouro.
Na agricultura, nas pedreiras, na seca do bacalhau e na costura vendeu a sua força de trabalho e traçou um destino de cruzes e penitências até poder receber as alegrias e bem-aventuranças da família e da arte.
Quando esse mundo era privilégio apenas dos homens, Helena Figueiredo Medina engrossou, com raro talento, o grupo de mulheres que, talvez sem o saber, lutava pela emancipação, cumprindo entre os seus 17 e 32 anos, nos palcos da SIT papel decisivo na missão preconizada pelos fundadores da instituição.
Já suportando o epíteto de septuagenária, Helena Figueiredo Medina regressou aos palcos para ajudar José da Silva Ribeiro a compor esse hino que é a “Terra do Limonete”.
Por isso decidiu a Sociedade de Instrução Tavaredense celebrar no próximo dia 23, o centenário de alguém que é uma memória de Tavarede e legenda viva da cultura popular, com um programa que integrará, para além de outros actos, a reposição da opereta “Os amores do coronel” peça na qual a homenageada se estreou no já longínquo ano de 1914.
Mesmo que não sejam ainda conhecidos os detalhes da festa de homenagem que vai ser prestada a Helena Figueiredo Medina, julga-se que tudo o que for feito será sempre pouco, porque o destinatário é uma mulher que trabalhou muito, sofreu demais, mas encontrou na arte teatral o encanto da vida.

Fotos: 1 - Retrato exposto no salão nobre da SIT; 2 - Com o grupo que representou a opereta 'Os Amores de Mariana', em 1914 (terceira da fila do meio, ao lado de José da Silva Ribeiro); 3 - Programa da homenagem prestada aquando dos seus 100 anos de vida.

3 comentários:

  1. Que trabalho extraordinario que fez neste blog! E uma fonte incrivel para genealogistas amadores como eu. Com a sua permissao, gostaria de usar alguns dados e fotos deste blog para um projecto genealogico que estou a fazer sobre familias de Aveiro, mas com muitos ramos por Figueira da Foz e Coimbra (e sempre dando este blog como fonte)

    Abracos, NR

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  2. Caro Amigo
    Fiquei muito satisfeito com a sua opinião sobre o meu blogue. É claro que pode utilizar o que lhe interessar e se eu puder ser útil para mais qualquer informação sobre Tavarede queira dispor.
    Um abraço

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  3. Caro Amigo
    Pode dispôr do que lhe seja útil e publicado no meu blogue.
    Se puder ser útil em qualquer outra informação sobre Tavarede disponha.
    Um abraço

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