sábado, 7 de novembro de 2009

João de Oliveira Júnior

Nasceu em Tavarede no dia 21 de Setembro de 1920, filho de João de Oliveira e de Guilhermina Rodrigues Cordeiro. Casou com Carmina Monteiro de Oliveira e teve uma filha, Ana Cristina.
Faleceu, devido a um atropelamento em Coimbra, a 6 de Dezembro de 1990, quando, acompanhado de sua mulher, atravessava a Avenida Sá da Bandeira, numa passadeira para peões. Ironia do destino: foi atropelado por uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, associação para a qual tinha colaborado em diversos espectáculos de angariação de fundos!


A sua actividade profissional exerceu-a sempre ao serviço da Companhia dos Caminhos de Ferro, reformando-se, aos 65 anos de idade, com a categoria de chefe de serviço.
Em 1940, juntamente José Maria Cordeiro (Zé Neto) fundou o Atlético Clube Tavaredense, clube que chegou a organizar algumas competições desportivas.
Foi escrivão da Junta de Freguesia de Tavarede e, em 1963, contra sua vontade, foi nomeado presidente daquele órgão autárquico: “… é uma pessoa cheia de qualidades, firmeza de carácter, incapaz de se deixar enredar por influências malsãs…”.
Desde muito novo que fez parte do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense. “… é o ‘mau’ do grupo. ‘Como ninguém gosta de fazer os papéis antipáticos e eu não me importo, sou sempre escolhido’. Estreou-se em Maio de 1945, na peça Horizonte, no papel de Jacinto “em que apenas dizia três palavras”.
“Tenho renunciado a horas de descanso e a dinheiro para poder estar presente em todos os ensaios”, disse ele. Também fez parte, por diversas vezes, dos corpos sociais da colectividade. Na sua carreira de amador dramático, superior a 40 anos de actividade, encarnou mais de noventa personagens.
“Frei Jorge Coutinho foi um frade que atravessou a peça como se fosse um frade autêntico e nisso está o nosso melhor elogio e todo o mérito que poderia ter”, (Frei Luís de Sousa).
“Foi mais uma vez o intérprete correcto e consciencioso que temos visto actuar em papéis de vária índole” (A Conspiradora).


“… mau grado outra vez vestido numa pele que lhe não cai bem – um Tartufo não ‘de carne e osso’, como algures na peça se diz, mas exclusivamente ‘osso’; uma figura naturalmente hirta, boa para asceta ou marcial, para crítico ou homem de ciência exacta, metida numa personagem que se presume untuosa e anafada do hipócrita oportunista e cruel -, às vezes conseguiu mesmo integrar-se no papel, para acabar muito bem, na atitude de vencido” (Tartufo).
Tinha decidida vocação para a comédia, embora no drama, como em Frei Luís de Sousa e A Conspiradora obtivesse assinalados triunfos com os seus desempenhos.
Em 1955, na interpretação da figura de Manuel de Sousa, major, na comédia Major, foi protagonista de um caso bem característico da sua personalidade de excelente comediante. Violinda Medina era a protagonista. Como sabemos, no palco era a personagem representada que vivia e não ela própria. Alheava-se de tudo para se entregar, de alma e coração, ao seu papel. Dizia, por isso, que em cena ninguém a conseguia ‘desmanchar’. Era um desafio para o João de Oliveira. O Major era um cão que havia fugido e que a dona, em altos gritos, chamava da janela. Manuel de Sousa apanhou o animal e correu a entregá-lo à dona, que estava aflita.
Mas… quando abre a porta para receber o animal, braços estendidos, não era o seu cão fugitivo, mas, sim, um leitão, que grunhia que nem um desalmado. Nunca mais Violinda Medina pôde dizer que ninguém a ‘desmanchava’ em cena. Caiu a rir num cadeirão, enquanto João de Oliveira, impávido, repetia: “tome, minha senhora, tome o seu cão”.
Nos últimos tempos de vida de Mestre José Ribeiro, João de Oliveira Júnior assumiu o cargo de ensaiar, sob a sua orientação, o grupo cénico. E, após a morte do Mestre, pôs em cena dois grandes êxitos do grupo: Chá de Limonete e O Sonho do Cavador, a que se seguiram outras peças, até à sua morte inesperada. Foi nomeado sócio honorário em 1984.
Além do teatro, ocupava os seus tempos livres em dois passatempos que adorava: a jardinagem e a pesca desportiva. Se o seu quintal era um autêntico jardim, onde não faltava uma estufa, dezenas de troféus emolduravam a sua estante, conquistados em provas de pesca, de rio e de mar.


Também possuía uma veia poética. Concorreu a diversos concursos, tendo ganho alguns prémios. Recordamos, somente, uma quadra sua com que concorreu à “Festa da Neve:

Branca neve que na altura
À luz do sol tanto brilha,
Como tu só é tão pura
A graça de minha filha.

“O teatro do nosso concelho está de luto. A vida tem destas coisas. Ainda não se esgotaram os “ecos” da homenagem a esse outro grande Tavaredense e homem de teatro José da Silva Ribeiro, e morre o seu continuador João de Oliveira Júnior.
… morreu no passado dia 6 atropelado por uma ambulância quando passava numa passadeira…
Que ironia do destino! João de Oliveira, homem rigoroso no seu trabalho e na sua vida, morre atropelado numa passadeira e por uma ambulância… O teatro está mais pobre. A cultura figueirense, que cada vez está mais abandonada e pobre, mais pobre e abandonada ficou com esta morte. Tavarede, terra de teatro amador de grande qualidade e tradição, perdeu mais um vulto que mantinha a tradição e a qualidade de um teatro que o público reconhece nas obras levadas à cena…
Estreou-se no teatro de Tavarede com apenas 14 anos e, desde então, manteve-se sempre no grupo cénico. Amador de alta categoria, ele experimentou as mais diversas personalidades representando, de forma admirável, grandes dramaturgos portugueses e estrangeiros. Ele era o “mau” do grupo, segundo as suas próprias palavras, já que ninguém gosta de fazer papéis antipáticos, paradoxalmente, fazia, de maneira admirável, a feição cómica. Desde muito cedo, este amador revelou-se alguém capaz não só de interpretar majestosamente os seus papéis, mas também de assimilar as técnicas inerentes à preparação e montagem de um espectáculo…”.

Fotos: 1 - Na peça 'Frei Luís de Sousa', papel de Frei Jorge, contracenando com Violinda Medina, João Cascão e Alice Mendes. 2 - Peça 'A Conspiradora', no papel de Conde de Riba de Alva, com Violinda Medina. 3 - Distribuição de prémios de um concurso de pesca, ladeado por José Esteves e Alfredo Cardoso.
Caderno: Tavaredenses com história

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