Por ocasião do carnaval, os correspondentes locais mandavam as suas “alfinetadas”. Em 1905, e referente a um espectáculo que, efectivamente, se realizou no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, anunciava-se: “... haverá um grande sarau dramático-musical no teatro, para o que foram convidadas notabilidades artísticas e homens de ciência. O sr. António Mota executa na flauta uma sua difícil composição musical e recita a poesia “À procura dos borrados”. O sr. Luís João canta a romanza Rosita dá cá o botão e recita o monólogo Mira que heu lh’o xaquei... O sr. Alcafache apresenta o seu orfeão que há-de executar o hino da Murtinheira e o Maxixe ribeirinho. Os srs. César, Medina, Broeiro, Coelho e todos os demais actores e actrizes do teatro representam o drama sacro Os anjos que te respondam”.
Já referimos que, muitas vezes, os espectadores tinham que aguardar o início do espectáculo muito para além da hora normal. Numa notícia que comenta a representação da opereta “Vida airada”, escreve-se “... lembramos também a conveniência de começar os espectáculos mais cedo e não os prolongar até altas horas...”. Bem sabemos que os teatros, geralmente, eram apresentados aos sábados. Mas, os tavaredenses de então, na sua maioria trabalhadores das terras, nem ao domingo de manhã folgavam. Daí a razão do pedido feito.
E porque nos surge, no meio das nossas notas sobre teatro e colectividades, um pequeno retalho que achámos interessante, aqui o deixamos, e apenas como mera curiosidade. “No dia 4 de Julho de 1905, fez exame na escola Conde de Ferreira, proposto pela professora D. Maria Amália de Carvalho, José da Silva Ribeiro, que obteve a classificação de óptimo”.
As récitas continuavam. Alguns espectáculos ocorreram, mas, infelizmente, não temos nota do programa que os compunham. As várias notícias faziam comentários, louvavam os amadores, mas esqueceram-se de nos deixar o título das peças, num ou noutro caso.
A escola também se mantinha em pleno, cada vez com maior frequência. “Nunca em Tavarede houve uma Sociedade tão bem organizada e que tantos serviços tenha prestado à causa da instrução. Apesar das aulas serem criadas para os filhos de sócios, são ali admitidas crianças muito pobres e orfãs, a quem não só se ministra a instrução, mas são-lhe fornecidos os livros precisos”.
Acrescente-se que, além da instrução primária, a Sociedade de Instrução continuava com o ensino da música e criou uma “aula de desenho”. Não sabemos as frequências nem os resultados destas duas últimas actividades. Quanto à música, não existem notícias da formação de qualquer tuna ou outro agrupamento musical, para além daqueles que se formavam para abrilhantarem os espectáculos teatrais. Sobre a aula de desenho, que presumimos tivesse como mentor o talentoso tavaredense João Nunes da Silva Prôa, não encontrámos quaisquer notícias posteriores.
Anualmente, os alunos da escola nocturna, mostravam o seu aproveitamento. Além de fazerem uma exposição com os seus trabalhos escolares, organizava-se uma festa, em colaboração com a escola primária oficial que, regra geral, culminava com um sarau no teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense. Os alunos recitavam poesias, liam trechos clássicos, diziam monólogos, cantavam umas canções e o seu hino e terminavam a sua actuação com uma ou duas comédias e/ou um entreacto cómico. Nalguns anos também apresentavam alguns números de ginástica. A instrução física era-lhes ensinada por João dos Santos Júnior. Estes saraus terminavam com a participação dos amadores “mais velhos”, numa engraçada comédia que acabava por bem dispôr todos os assistentes.
Apesar dos parcos recursos de que dispunham, os responsáveis pela colectividade, sempre preocupados com o bem-estar e carências dos seus conterrâneos, logo pensaram ir mais longe, transformando a jovem SIT numa “associação de socorro mútuo”...
Como se nota pelos nomes que vão surgindo, os amadores e colaboradores que anteriormente se dividiam pela 'Estudantina' e pelo 'Grupo de Instrução' esqueceram velhas rivalidades e uniram seus esforços para erigir uma nova colectividade capaz de se manter e de prosseguir o caminho de instruir e educar os seus conterrânos.
Fotos: em cima, César Cascão, um dos fundadores. dirigente e amador teatral. Em baixo: João dos Santos Júnior, grande amigo e benemérito da SIT, professor das aulas de ginástica.
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