domingo, 15 de novembro de 2009

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 1


Num jornal figueirense, em 15 de Julho de 1911, escrevia-se na correspondência de Tavarede que “vae organizar-se aqui um Grupo Musical”. E, poucos dias depois, em 12 de Agosto, o mesmo jornal noticiava “o Grupo Musical desta localidade reuniu num dos últimos dias na sua sede para tratar de vários assuntos”.
Quer dizer, embora oficialmente tenha sido escolhido o dia 17 de Agosto de 1911 já antes a nova colectividade havia dado os primeiros passos, pois já antes se reunia e tinha a sua sede. E onde foi a primeira sede do Grupo Musical? Pois foi ali ao Largo do Paço, no réz-do-chão da casa pertencente a Romana Cruz, e que confrontava do nascente com a esquina do Outeiro e do poente com o edifício onde esteve instalada uma mercearia até ha relativamente poucos anos.
Numas instalações mais do que deficientes, logo começaram os seus fundadores a sua actividade cultural. A parte musical foi entregue a João Jorge da Silva Simôa, este último apelido era alcunha, talvez por ter nascido ou morado no lugar da Simôa, ali ao caminho da Chã. Um bocado depois do Largo da Igreja.

Em Outubro já mantinha em actividade uma aula de música, com grande número de alunos. Também terão começado de imediato os ensaios do seu grupo cénico. Entre outros, temos conhecimento dos seguintes amadores: Clementina Prôa, Clementina Fadigas, António Medina, Joaquim Severino dos Reis, Faustino Ferreira, António Medina Júnior e José Medina.

Refira-se que todos estes amadores faziam parte, anteriormente, dos grupos cénicos da Estudantina, do Grupo de Instrução e da Sociedade de Instrução, nesta última para onde se tinham transferido quanto se fundou depois de terem as outras cessado a sua actividade. Sobre o último daqueles amadores, escreveu Mestre José Ribeiro: “um amador dotado de excepcionais faculdades histriónicas, cómico de grande naturalidade e fantasia e que no drama se impunha pelo vigor e verdade da sua representação”.

Em Novembro de 1911, e noticiando uma festa levada a efeito na Figueira, dizia-se: “assistindo a ela, além de esbeltas raparigas, uma troupe do Grupo Musical desta localidade, que executou no final algumas valsas que fizeram saltar o pé a todos os convidados”.

Entretanto começaram com os melhoramentos e adaptações nas instalações. A sala era grande e ampla. Dividiram-na e num dos lados instalaram um pequeno teatro, que, apesar de rudimentar e mesmo tosco, melhorou bastante a sede.

No mês de Dezembro, ainda com as obras em curso, resolveram os responsáveis pela colectividade prestar homenagem a dois eminentes vultos portugueses: a Alfredo Keil, autor do hino nacional “A Portuguesa” e ao dr. Afonso Costa, relevante estadista republicano, tendo, na ocasião do descerramento dos seus retratos, sido proferida uma conferência de propaganda democrática por um ilustre republicano, cujo nome não encontrei mencionado.

Esclareço, desde já, uma falha lamentável. Não consegui obter uma lista com o nome dos fundadores da jovem colectividade, nem quais foram os seus primeiros directores. No entanto, julgo estar correcto se disser que terão sido os mesmos que Agosto de 1912 foram eleitos (ou reeleitos) na Assembleia Geral que reuniu para esse fim e para aprovação das contas do primeiro exercício, relativo ao período de Agosto de 1911 a Agosto de 1912.

Também pode ter acontecido que o primeiro ano tenha sido gerido por uma espécie de “comissão instaladora ou administrativa”, cuja missão principal, a que certamente não faltaram dificuldades, teria sido a de pôr a funcionar o Grupo Musical e de Instrução.

A “Gazeta da Figueira” do dia 13 de Janeiro de 1912, informava: “O Grupo Musical Tavaredense acaba de construir na sua sede um theatro para instruir e recrear os seus associados.
Esta sympathica aggremiação merece elogios pela aula de musica que sustenta, onde o habil amador sr. João Jorge da Silva Simôa, se tem esforçado como professor, assim como é digna dos melhores applausos pelo melhoramento que acaba de introduzir na sua séde.
Teem sido incançaveis na construcção do elegante theatro a classe operaria d’esta localidade e os nossos amigos António e José Medina, que já foram, com outros, os trabalhadores dedicados da Sociedade d’Instrucção quando esta necessitava do auxilio de todos.
A nossa terra terá mais um emprehendimento que é prestável ás classes pobres, porque é, sem duvida, no theatro que ellas, na sua maioria, vão procurar a instrucção.
À direcção do Grupo Musical as nossas felicitações, desejando á nova aggremiação um futuro risonho e muitos annos de vida”.
Fotos: 1 - Emblema do Grupo; 2 - José Medina; 3 - João Jorge da Silva (Simôa)

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