Os espectáculos musicados eram, então, muito do agrado do povo. Depois de “Na Terra do Limonete”, os mesmos autores escreveram e musicaram uma nova revista, a que deram o título de “Dona Várzea”. E, em 1913, Vicente Ferreira ensaia e faz representar aquele que seria o primeiro grande êxito do grupo cénico, a opereta “Os Amores de Mariana”.
Não se encontraram quaisquer comentários a esta estreia. Mas, no ano de 1915, esta opereta é reposta em cena. Como protagonista surge Helena de Figueiredo, que substitui, no papel de Mariana, Eugénia Tondela, que abandonara o grupo depois do seu casamento. Foi um sucesso. E nos dias 9 e 23 de Maio daquele ano, os amadores tavaredenses foram representá-la à Figueira, ao teatro da Filarmónica Figueirense. O primeiro espectáculo reverteu a favor desta Filarmónica e o segundo rendeu, ao cofre da SIT, a quantia de 21$08.
No entanto, no dia 18 de Outubro do ano anterior, o grupo tavaredense já se havia deslocado àquele teatro, onde apresentou duas comédias: “Tire dali a menina”, em 2 actos e “Morte de Galo”, em 1 acto, cuja receita reverteu em benefício da manutenção da aula de música daquela colectividade. Foi esta a primeira saída da sua sede, em Tavarede.
A última peça ensaiada por Vicente Ferreira, antes da reposição de “Os Amores de Mariana”, foi o drama “Amor de Perdição”. “A noite de sábado último conseguiu fazer reviver no nosso espírito essa figura sublime do grande Camilo. E tanto mais que Teresa e Mariana, Simão Botelho e João da Cruz apareceram ali, naquele delicioso recinto da terrinha do limonete, encastoadas em Clementina de Oliveira e Helena de Figueiredo, José Ribeiro e Vicente Ferreira, de tal forma que justamente nos entusiasmou. Sem querermos estar a alongar-nos, prevenimos o público de que no mesmo teatrinho, no próximo sábado, há outra vez espectáculo, e que se não perde de todo o tempo em assistir, em Tavarede, à representação do Amor de Perdição”.
Diga-se, porém, que, na parte administrativa, o ano de 1914 terá sido algo turbulento. Numa assembleia geral, o presidente da direcção, João de Oliveira, faz “um breve mas significativo elogio” a Vicente Ferreira, referindo que “só um homem da sua têmpera, com uma vontade igual à sua, seria capaz de tantas canseiras em prol duma terra que lhe era desconhecida. Tanta noite perdida, indo longe de sua casa, muitas vezes debaixo de chuva, levar aos outros o produto do seu recurso intelectual, só da sua candura de alma se poderia obter”.
Nesta mesma assembleia, houve, depois, uma enorme discussão. Estava presente, entre outros, o padre Manuel Vicente que, segundo o cobrador, se recusara a pagar as quotas em atraso. Tanto ele, como outros sócios, alegaram que a falta era do cobrador, que os não procurava em devido tempo e os ânimos chegaram a exaltar-se. Acrescentemos que, pouco depois, o presidente da direcção acima referido e o presidente do conselho fiscal, demitiram-se dos seus cargos e de sócios e passaram-se para o Grupo Musical onde, conjuntamente com o professor António Vítor Guerra e outros fundadores desta colectividade, desempenharam notável actividade recreativa e cultural.
Na sessão solene comemorativa do 10º aniversário, o tavaredense dr. José Gomes Cruz, que presidiu, teve uma intervenção de muito interesse e de que destacamos este apontamento: “... depois de agradecer o convite para presidir àquela sessão, diz encontrar-se ali plenamente satisfeito, muito à sua vontade, pois está sempre à vontade e satisfeito quando assiste a festas como estas que se realizem na sua terra. Fala largamente sobre instrução e educação, demonstrando que para bem empregar a primeira é necessário aliar-se a segunda. Dirige-se aos seus patrícios e pede-lhes que se instruam para assim não poderem ser explorados por aqueles que se escudam na ignorância dos outros e que fazem da religião a alma dos seus interesses. Bem sabe que lhe chamam ateu, que o apelidam de pedreiro-livre, que o insultam; mas que podem importar-lhe esses insultos se tem a consciência de ter cumprido sempre o seu dever? Tem também as suas igrejas, mas essas são mais sagradas do que aquelas de que os padres se servem para explorar as crianças do povo ignorante, porque são frequentadas por crianças tão puras como as flores – as escolas”.
O dr. José Cruz desenvolveu uma notável acção de propaganda cívica e educativa. A Sociedade de Instrução sempre teve nele um amigo e um colaborador. Aqui realizou uma série de palestras dirigidas aos seus conterrâneos. A primeira versou o tema Alcoolismo, seguindo-se outras sobre Pátria, Formas de Governo, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, etc.
Não se encontraram quaisquer comentários a esta estreia. Mas, no ano de 1915, esta opereta é reposta em cena. Como protagonista surge Helena de Figueiredo, que substitui, no papel de Mariana, Eugénia Tondela, que abandonara o grupo depois do seu casamento. Foi um sucesso. E nos dias 9 e 23 de Maio daquele ano, os amadores tavaredenses foram representá-la à Figueira, ao teatro da Filarmónica Figueirense. O primeiro espectáculo reverteu a favor desta Filarmónica e o segundo rendeu, ao cofre da SIT, a quantia de 21$08.
No entanto, no dia 18 de Outubro do ano anterior, o grupo tavaredense já se havia deslocado àquele teatro, onde apresentou duas comédias: “Tire dali a menina”, em 2 actos e “Morte de Galo”, em 1 acto, cuja receita reverteu em benefício da manutenção da aula de música daquela colectividade. Foi esta a primeira saída da sua sede, em Tavarede.
A última peça ensaiada por Vicente Ferreira, antes da reposição de “Os Amores de Mariana”, foi o drama “Amor de Perdição”. “A noite de sábado último conseguiu fazer reviver no nosso espírito essa figura sublime do grande Camilo. E tanto mais que Teresa e Mariana, Simão Botelho e João da Cruz apareceram ali, naquele delicioso recinto da terrinha do limonete, encastoadas em Clementina de Oliveira e Helena de Figueiredo, José Ribeiro e Vicente Ferreira, de tal forma que justamente nos entusiasmou. Sem querermos estar a alongar-nos, prevenimos o público de que no mesmo teatrinho, no próximo sábado, há outra vez espectáculo, e que se não perde de todo o tempo em assistir, em Tavarede, à representação do Amor de Perdição”.
Diga-se, porém, que, na parte administrativa, o ano de 1914 terá sido algo turbulento. Numa assembleia geral, o presidente da direcção, João de Oliveira, faz “um breve mas significativo elogio” a Vicente Ferreira, referindo que “só um homem da sua têmpera, com uma vontade igual à sua, seria capaz de tantas canseiras em prol duma terra que lhe era desconhecida. Tanta noite perdida, indo longe de sua casa, muitas vezes debaixo de chuva, levar aos outros o produto do seu recurso intelectual, só da sua candura de alma se poderia obter”.
Nesta mesma assembleia, houve, depois, uma enorme discussão. Estava presente, entre outros, o padre Manuel Vicente que, segundo o cobrador, se recusara a pagar as quotas em atraso. Tanto ele, como outros sócios, alegaram que a falta era do cobrador, que os não procurava em devido tempo e os ânimos chegaram a exaltar-se. Acrescentemos que, pouco depois, o presidente da direcção acima referido e o presidente do conselho fiscal, demitiram-se dos seus cargos e de sócios e passaram-se para o Grupo Musical onde, conjuntamente com o professor António Vítor Guerra e outros fundadores desta colectividade, desempenharam notável actividade recreativa e cultural.
Na sessão solene comemorativa do 10º aniversário, o tavaredense dr. José Gomes Cruz, que presidiu, teve uma intervenção de muito interesse e de que destacamos este apontamento: “... depois de agradecer o convite para presidir àquela sessão, diz encontrar-se ali plenamente satisfeito, muito à sua vontade, pois está sempre à vontade e satisfeito quando assiste a festas como estas que se realizem na sua terra. Fala largamente sobre instrução e educação, demonstrando que para bem empregar a primeira é necessário aliar-se a segunda. Dirige-se aos seus patrícios e pede-lhes que se instruam para assim não poderem ser explorados por aqueles que se escudam na ignorância dos outros e que fazem da religião a alma dos seus interesses. Bem sabe que lhe chamam ateu, que o apelidam de pedreiro-livre, que o insultam; mas que podem importar-lhe esses insultos se tem a consciência de ter cumprido sempre o seu dever? Tem também as suas igrejas, mas essas são mais sagradas do que aquelas de que os padres se servem para explorar as crianças do povo ignorante, porque são frequentadas por crianças tão puras como as flores – as escolas”.
O dr. José Cruz desenvolveu uma notável acção de propaganda cívica e educativa. A Sociedade de Instrução sempre teve nele um amigo e um colaborador. Aqui realizou uma série de palestras dirigidas aos seus conterrâneos. A primeira versou o tema Alcoolismo, seguindo-se outras sobre Pátria, Formas de Governo, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, etc.
Este período, década de 1911/1920, é riquíssimo em episódios nos quais os principais protagonistas são elementos, directivos e amadores, das duas colectividades tavaredenses. Foi uma luta interessante, nem sempre muito leal, mas que acabou por trazer benefícios para o associativismo tavaredense, pois deu lugar, com a rivalidade, a que ambas as associações atingissem elevado grau cultural, quer no Teatro quer na Música. Contaremos alguns episódios, integrados nestes apontamentos associativos. Diga-se, desde já, que as duas revistas acima referidas, 'Na Terra do Limonete' e 'Dona Várzea', eram, em grande parte, de acerbada crítica ao rtival Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.
Fotografias: 1 - Helena Figueiredo Medina; 2 - João de Oliveira
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